Sistinas
Inocência
#7

Inocência

O tempo nos paga com Terra & pó, e com um escuro e silencioso caixão.
Lembre-se, minha criança: Sem inocência a cruz é apenas ferro,
esperança é apenas uma ilusão...

Bless the child - Nightwish

CENÁRIO: subúrbio de Sistinas. Noite.

1.Câmera se aproximando lentamente de uma igrejinha isolada. Fachada simples, iluminada. Flashes das pessoas saindo do sermão noturno.

2.Close no padre, parado em pose conciliatória na porta da igreja. Sorridente, e um ar apressado estampado no rosto. Ele entra rapidamente e tranca a porta, quando a multidão se dispersa. Não é mais um jovem, e sim um quarentão charmoso, inclusive já meio grisalho.


SEQUÊNCIA I - (interior da igreja)

1.Os serviçais da igreja trocam de roupa. Também apressados, um por um saem pela portinhola lateral. Em minutos, o lugar está deserto. Exceto por uma noviça.

2.Close na noviça. Não aparenta muita idade. Ela está concentrada, limpando o altar. Seca o suor que escorre pela testa. O silêncio no lugar é absoluto. A freirinha tão ocupada, não percebe o par de olhos que a observa.

PADRE: Fez bem em continuar por aqui, filha.

3.Close no rosto assustado da freira, que olha para trás. A câmera corta rápido para o padre, que continua a falar.

PADRE: Pensou no que eu te disse?

FREIRA: Sim, mas não estou pronta.

PADRE: (olhando maliciosamente) Está mais do que pronta, filha.

FREIRA: Então será... hoje?

PADRE: Sim, pensou nas coisas que te prometi?

FREIRA: Pensei, padre. Mas... mas, não é errado?

PADRE: Errado? Filha, está querendo julgar algo que você não compreende?

4.Close na freira. Ela baixa a cabeça, em submissão.

PADRE: Será hoje. Agora.

FREIRA: Sim, padre. Que seja feita sua vontade.

5.A câmera flagra o padre saindo com ar vitorioso. O salão parece ficar maior do que é, deixando a freira com o ar enigmático. Seria tristeza, dúvida, ou...?


SEQUÊNCIA II - (interior de um quarto na mesma igreja)

1.Câmera aberta num cubículo. O lugar é diminuto, com apenas uma cama e uma pequena janela. A única luz do lugar vem do corredor, e entra pela porta semi-aberta. Um crucifixo escondido no lado escuro da parede é a única decoração do lugar. Paredes aliás muito brancas.

2.Close na cama. O padre está deitado, imerso em pensamentos negros e  coberto com lençóis brancos. Quando ouve um som diferente, ele se vira, ansioso.

3.Câmera fechada na porta. Como o quarto está escuro, tudo o que se vê é o vulto feminino parado. A luz ilumina e dá formato à freira. O padre confere com os olhos as curvas do corpo da menina.

PADRE: Tire o hábito, e deite-se aqui.

FREIRA: Sim, padre. Que seja feita sua...

PADRE: (interrompendo) Pare de falar assim. Aja normalmente. Somos homem e mulher aqui dentro.

FREIRA: Me desculpe. É que isso é novo para mim. Não sei como agir, padre.

PADRE: Basta me obedecer.

4.Close na freira. Ela suspira, e tira o hábito. Usa apenas uma calcinha, branquinha. Imaculada.

PADRE: (olhando atentamente) Você não usa soutien?

FREIRA: (envergonhada, cobrindo os seios) Tenho seios pequenos. Ainda não uso.

PADRE: (visivelmente excitado) Deixe-me vê-los, criança.

5.Câmera filma o colo da freira. Ela deixa cair lentamente os braços, e mostra os seios jovens, intocados ainda. São mesmo pequenos, e os mamilos rosados estão duros. Não se sabe se de frio ou de excitação. Câmera fechando no rosto do padre.

PADRE: Deite-se ao meu lado.

6.A câmera filma cada detalhe do corpo juvenil, e ela se deita desconfortavelmente ao lado do padre. A câmera dá close nos seios, e também no bumbum, grande e macio. A calcinha some por entre as nádegas dela.

PADRE: Você sabe o que fazer agora?

FREIRA: Não, padre. Preciso que me ensine.

PADRE: Coloque sua mão aqui, debaixo dos lençóis.

FREIRA: (envergonhada) Sim, padre.

7.Câmera mostra a cama em plano geral. A freira está ainda desconfortável, deitada e encostada na cabeceira, com o olhar assustado. E curioso também. O padre guia a mão dela até a virilha.

FREIRA: (curiosa) É, é aqui padre?

PADRE: Segure firme. Mas não tanto.

FREIRA: Está mole. É assim mesmo?

PADRE: Espere e verá, criança. Você precisa colaborar. Brincar com ele, entende?

FREIRA: (incomodada) Não padre. Como faço?

PADRE: (segurando a mão dela) Pegue assim. Isso. Agora, comece esse movimento... Isso. Suba e desça. Vai-e-vem, sim... vê?

FREIRA: (assustada) Está crescendo. Ficando duro.

PADRE: É normal, filha.

FREIRA: Que devo fazer agora?

PADRE: Continue. Está gostoso.

FREIRA: (começando a gostar) Está maior, ainda mais duro. Sinto que está meio molhado também.

PADRE: Você parece saber o que está fazendo.

FREIRA: (indignada) Não padre. Nunca fiz isso. Fiz votos!

PADRE: Outras freiras nunca lhe disseram sobre isso?

FREIRA: (masturbando o padre) Algumas, padre. E também me mostraram fotos. Mas me penitenciei por isso.

PADRE: Ohhhhhhh... Ooooooooooogggggghhhh, não pare, pombinha!

FREIRA: (forçando o punho) Sim, padre.

PADRE: (expressão de gozo) Ohhhh... OOOOOOOHHHHHHHH!!!

FREIRA: (assustada) Padre??? Está saindo algo melado!

PADRE: (rindo) Sinal de que você fez tudo certinho.

FREIRA: (cara de sapeca) Acertei padre?

PADRE: Continue pegando nele. Massageie.

FREIRA: Sim, padre. Posso perguntar uma coisa?

PADRE: Claro, criança.

FREIRA: Algumas mulheres fazem... é, colocam ele na boca, ou a boca nele?

PADRE: Sim. Sodomitas. Morrerão e queimarão no inferno. O sexo não é para ser beijado. É impuro.

FREIRA: (parecendo contrariada) Sim, padre. Ele está crescendo de novo.

PADRE: Tire sua calcinha. Está na hora.

FREIRA: Tá.

8.A câmera filma toda a ação. A freira por baixo dos lençóis tira a calcinha, com cuidado. Olha curiosa para o volume que se forma novamente entre as pernas do padre. Close na mão dela, que segura o tecido branco da calcinha, e solta no chão ao lado da cama. Corta para o rosto dela.

FREIRA: (curiosa e excitada) Eu posso vê-lo?

PADRE: (mostrando) Vê? Vou colocá-lo dentro de você.

FREIRA: Machuca? Parece ser grande.

PADRE: (molhando os lábios) Só no começo. Abra as pernas.

FREIRA: Tá. É assim que faço agora?

9.Câmera aberta sobre a cama. O padre levanta-se e fica parado, ajoelhado entre as pernas da menina. Close no rosto dela, olhando para o membro duro. A câmera abre mais, e mostra todo o corpo nu e intocado. Lentamente filmando a barriga, os poucos pêlos pubianos e as coxas. Close nas mãos dele, que exploram o sexo da freira.

PADRE: Você é muito bonita, minha criança.

FREIRA: Obrigada, padre. Farei tudo certinho de novo.

10.Plano geral da cama. Novo close nas mãos dele, que segura o membro. Com a outra mão tateia pelo sexo dela, e guarda posição.

PADRE: (encaixando) Vai doer um pouco agora, pombinha.

11.Câmera fechada no rosto dela. Parece ansiosa. Cerra os dentes, morde os lábios. Os olhos fechados, como se estivesse contendo a dor. De repente, ela abre os olhos, cara de assustada. O padre faz cara de alívio. Tinha penetrado a freira.

PADRE: Adoro vocês, virgens. Ahhhhhhh...

FREIRA: Sim... sim, padre. Ai. Dói.

PADRE: (suado) Vou colocar tudo. Agüente.

FREIRA: (expressão de dor) Coloque. Pode colocar. Ai... me penetra fundo.

PADRE: (bombando) Ainda sente dor?

FREIRA: Não sei o que estou sentindo. É... gostoso. Que devo fazer?

PADRE: Pode gemer. Baixinho.

FREIRA: Sim, padre. Ui... enfia mais?

PADRE: (surpreso) Está todo dentro de você.

FREIRA: Ui. Como é bom. Ai, que gostoso... Não devia ser pecado.

PADRE: (ofegante) Sem blasfêmias agora, criança. Aproveite.

FREIRA: Sim, padre, aiii... Hummmmm... Estou fazendo certo?

PADRE: (falando pouco e mexendo mais forte) Sim, está.

12.Câmera aberta na cama. A luz agora reflete nos lençóis. Cenas intercaladas dos movimentos frenéticos do padre penetrando a freira, do rosto de prazer dela, e do rosto suado dele. Como detalhe, a câmera mostra pequenos respingos de sangue virginal nos lençóis. Close no padre.

PADRE: (gemendo) Antes que eu goze, quero que você mude a posição.

FREIRA: (animada) Aii... E como devo ficar? Ui...

PADRE: (tirando o membro) De quatro. Como uma cadelinha.

FREIRA: Sim, meu padre. (levantando-se) Assim?

13.Close na freira. A menina se apóia na cabeceira, e fica de quatro. Close valorizando o bumbum grande. Fecha no padre, que molha os lábios. Close nas mãos quando ele a pega pelas nádegas, e abre. Corte rápido para o rosto da freira. A expressão dela vai mudando, lentamente. Mais uma vez sente dor, quando ele coloca. Depois prazer. Câmera geral, no padre, empurrando o membro com cuidado para dentro da umidade da freira. Close nos olhos arregalados dela, que procuram na escuridão explicar o que está sentindo.

PADRE: Está dentro de novo, pombinha gostosa.

FREIRA: Sim estou, ui.. sentindo. Ai, gostoso... Vem mais forte?

14.Câmera fecha num ângulo esquisito no crucifixo na parede. Ele fica em primeiro plano, com os dois trepando na cama em segundo plano. O padre grita algumas blasfêmias sobre o corpinho gostoso da freira, que geme e sorri. Quando ela joga os cabelos para trás, suada, ele dá as últimas estocadas. Chegam ao orgasmo quase juntos. Cenas intercaladas das expressões dos dois no momento do gozo. Corte para a cama, minutos depois.

PADRE: (recuperando-se) Você gostou, criança?

FREIRA: (animada ainda) Sim, padre. Quando faremos de novo?

PADRE: (sonolento) Em breve, filha. Mas não hoje. Vá para seu alojamento, dormir.

15.Close no rosto desapontado da freira. A câmera segue os movimentos dela, que se levanta, veste lentamente a calcinha. Intercalando imagens dos seios ainda excitados e do rosto, que olha misteriosamente para o padre na cama.

FREIRA: (assustada) Padre? Meu senhor?

PADRE: (resmungando) Acabou pombinha, me deixe dormir!

FREIRA: Sangue... é normal?

PADRE: Sim. Foi só a primeira vez. Na próxima, não sangra mais. Vá se lavar, e depois, vá para seu alojamento. E não se esqueça de rezar antes de dormir!

FREIRA: Não esquecerei. Boa noite.

16.Câmera filma apenas a porta. Quando ela se fecha, o quarto cai na escuridão. Close no crucifixo.


SEQUÊNCIA III - (interior da igreja)

CENÁRIO: subúrbio de Sistinas. Noite. Alguns dias após a noite de sexo do padre com a freira.

1.Câmera fechada no rosto do padre. Expressão de puro ódio no rosto.

PADRE: (gritando) Como foi deixar acontecer???

FREIRA: (submissa) Eu... eu não sei! Como poderia evitar? Tentei avisar que estava no meu período fértil. Foi a única coisa que aprendi com as madres, e elas ainda me puniram por ter perguntado!

PADRE: (nervoso) Como soube? Como me prova que está grávida?

FREIRA: Fiz um teste mundano. Deu positivo. Que devo fazer, meu senhor?

PADRE: (pensando) Sei onde te levar. Vista-se para sairmos!

FREIRA: Sim, padre.


SEQUÊNCIA IV - (exterior)

CENÁRIO: outro bairro de Sistinas. Noite.

1.Câmera aberta. Mostrando padre e freira descendo de um carro. Close no relógio do veículo, que mostra 23:45 da noite. A câmera lentamente segue os dois, padre e freira desde a saída do carro até uma porta residencial. Close na mão trêmula dele tocando a campainha.

FREIRA: (falando baixinho) Que lugar é esse, padre?

PADRE: Outro instrumento do senhor. Acalme-se.

2.Corta para a porta, que se abre mostrando um homem com cara de sono, que não parece surpreso com a visita. Por trás dele, aparece também uma mulher sonolenta, que também parece conhecer o padre.

MORADOR: Que houve?

PADRE: Preciso de seus serviços novamente. Podemos entrar?

MORADOR: Claro. (em voz alta) Prepare a sala, mulher!

3.Close no sorrisinho maroto da mulher, que se afasta para preparar a tal sala.

MORADOR: Entre padre, por favor. Traga a moça para dentro.

4.Câmera filma os dois. O padre parece em casa, a freira se sente constrangida. Um close no rosto mostra uma lágrima nos olhos, que ela limpa rapidamente quando o homem fala:

MORADOR: Quantos meses?

FREIRA: Semanas ainda.

MORADOR: (contente) Bom, bom. O senhor sabe que quanto antes, mais fácil, né?

PADRE: Sim. Por isso eu a trouxe já.

MORADORA: (sorridente) A sala está pronta. Vamos?

5.Câmera fecha no rosto assustado da freira. Volta a chorar, em silêncio, tirando um crucifixo de dentro da camisa. Close na mão dela, que se fecha sobre o símbolo com força. Câmera lenta agora, ainda segurando o pingente, ela dá a mão para a moradora que a conduz para a sala preparada.

6.Close no rosto do padre. Ele olha para o morador, e sentencia:

PADRE: Cuide para que ela não tenha mais filhos.

MORADOR: O senhor quem manda, padre.


SEQUÊNCIA V - (interior de uma sala, ainda na mesma casa)

1.Câmera geral no lugar. Uma sala improvisada, com leitos e diversos instrumentos cirúrgicos. A moradora agora já se veste irregularmente de enfermeira. O morador também está vestido. A câmera passeia pelos instrumentos cortantes, pela aparelhagem e olhares confiantes dos dois supostos médicos. O passeio da câmera termina na mão da freira, que segura o pingente com tanta força que sua palma sangra.

MORADOR: Ela está pronta. Como ainda está no início da gestação, será um trabalho de minutos!

MORADORA: Sim. Vamos começar?

2.Câmera aberta do lado de fora da janela. O que aparece é o médico parado entre as pernas da freira, que estão erguidas e abertas ao máximo. Ele é assistido de perto pela enfermeira.

3.Close na mão da freira. O sangue desce pela palma da mão dela. Pouco, no início. Depois aumenta o fluxo. Corta para os médicos.

MORADOR: Prontinho. Foi a raspagem mais fácil que já fiz. Mas o padre não quer passar por isso de novo. Vou ter que fazer serviço completo. Ele não quer que ela engravide mais.

MORADORA: (rindo) Ele é esperto. Quer ter diversão para o resto da vida, sem preocupações.

4.Close na mão da freira. O sangue tinge toda a mão dela. Corta para os médicos.

MORADOR: (preocupado) Que está acontecendo com ela?

MORADORA: (indiferente) Você não sabe?

MORADOR: (assustado) Não! Apenas faço abortos! Já deveria ter terminado!! Que é isso??

MORADORA: (assustada) Faça ALGO!

MORADOR: (em pânico) Fazer o QUÊ?

5.Close na mão da freira. Enfim ela solta o crucifixo, que cai no chão, coberto de sangue. A mão cai também, inanimada. Corte rápido para o médico.

MORADOR: (nervoso) Que PORRA! Isso nunca aconteceu antes!!!

MORADORA: (tentando se acalmar) Tudo tem uma primeira vez. Foi muito rápido e estranho.

MORADOR: Que diremos ao padre? Ele sempre trouxe as meninas para nós! E ele paga bem!

6.Close no rosto assustado da enfermeira, que olha para o chão ao lado do leito da menina. A câmera filma o olhar dela. Fecha no crucifixo, enquanto a mulher fala:

MORADORA: Diremos a verdade...


SEQUÊNCIA VI - (sala de estar e espera, ainda na mesma casa)

1.Close no rosto do padre, descendo lentamente para o chão, onde os pés inquietos mostram que foram os minutos mais longos da vida dele. Câmera fecha na mão crispada, segurando ainda a chave do carro. Plano geral, mostrando toda a sala. Ele está assistindo TV.

2.Filmagem da TV. Um jornalista local lê matérias sobre futebol, política e promete no próximo bloco falar com um enviado ao Vaticano, que teria um furo de reportagem.

3.Close no padre. Minutos intermináveis se passam. Suor e medo se passam no rosto dele enquanto isso. Nervoso, se vira quando ouve algo. Câmera fecha na porta.

MORADOR: (ainda nervoso) Padre... Foi um sucesso. Abortamos a criança. E ela nunca mais engravidaria de novo.

PADRE: Você parece estranho, amigo. Aconteceu algo? Ela está bem?

MORADOR: (vacilante) Não padre. Aconteceu alguma complicação. Eu sinceramente não sei o que houve. Ela... bem, ela morreu.

PADRE: (chocado) Como? Como... como assim... morreu?

MORADOR: Padre... sei como se sente. Mas estou pior que o senhor. Ninguém nunca morreu em minhas mãos. Nem suas freiras. Nunca antes. Mas hoje não sei o que houve. Parece que ela quis morrer. Simplesmente se convulsionou e parou completamente. Nem tivemos como reanimá-la!

4.Close no rosto do padre. Ele tem uma expressão enigmática no rosto. Não se sabe se é dor, tristeza, ou raiva de seu amigo médico. De fundo, um homem fala na TV:

REPÓRTER: O Vaticano admitiu nesta terça-feira a existência de casos de abusos sexuais praticados por sacerdotes e missionários contra religiosas. Entretanto, segundo um comunicado assinado pelo porta-voz da Santa Sé, os casos são restritos a áreas geográficas limitadas.

5.Câmera fechada no padre. Ele ameaça o morador, apontando o dedo:

PADRE: (nervoso) Você nunca mais fará abortos ilegais! Vou fechar essa espelunca!

MORADOR: Padre, padre. Você não tem provas contra mim. E se tiver, pago bem à polícia para funcionar aqui. Mas, eu tenho provas contra o senhor. E muitas. Acha mesmo que nunca percebi que engravida freiras? São todas meninas, e sempre fiz o serviço sujo. Me entregue, e o senhor cairá comigo. Qual crime é mais grave?

6.Close nas mãos do padre. Ele cerra os punhos, e depois relaxa. Close no rosto decepcionado.

PADRE: (triste) Aos olhos do Cristo, somos todos pecadores. Eu e você. Já estamos condenados.

MORADOR: (estendendo a mão) Ela lhe deixou isto. Talvez lhe signifique algo.

7.Close no crucifixo sangrento, quando ele troca de mãos. Corta para o rosto assustado do padre. De fundo, na TV, outro homem fala:

REPÓRTER: Padres temerosos de contrair Aids às vezes procuram jovens freiras, que são vistas como parceiras sexuais seguras.


SEQUÊNCIA VII - (exterior)

CENÁRIO: cemitério de Sistinas. Dia.

1.Câmera se aproximando lentamente de uma pequena elevação no terreno. Podia-se contar as pessoas com os dedos de uma única mão. O Sol iluminava o caixão da freira, prestes a ser enterrado.

PADRE: (em sermão) ...e ela foi mais uma alma justa, inocente, pura e casta que nos deixou. Que sua alma descanse em paz, no lugar que ela fez por merecer estar. Amém.

TODOS: (em coro) Amém.

PADRE: Podem baixar o caixão.

COVEIRO: Sinto muito. Era uma bela criança.

PADRE: (triste) Sim, ela era. E muito devota também. Que Deus a tenha.

COVEIRO: (fazendo força) Claro que um anjinho desses vai... "unnnff"... para o céu.

2.Câmera ao longe filmando o caixão descendo. As poucas pessoas vão embora nessa hora, restando os coveiros e o padre apenas. O vento sopra forte, levando tudo. Close no padre.

PADRE: (mandando) Deixe-me a sós por um minuto?

COVEIRO: Claro. Quando acabar, cobrimos com a terra. Nos avise.

3.Close na mão do padre. O crucifixo de sangue. Ele olha com desgosto para o pingente, e o atira na cova... Em câmera lenta ele cai em cima do caixão, onde aparece o rosto da freira. Por um instante o padre poderia jurar que ela teria visto esse último gesto.

4.Um flash sobrepõe o rosto pálido e cadavérico da freira com o olhar de pura luxúria que ela deu quando gozou na cama do padre. Corta para o rosto dele.

PADRE: (falando baixo) Leve nosso pequeno segredo com você. (faz o sinal da cruz)

5.Plano geral. A câmera começa a filmar a paisagem toda, cenário primaveril. Mostra ainda ao longe o padre se afastando da cova, e os coveiros voltando ao trabalho. Um último close no crucifixo de sangue, quando uma pá de terra cai por cima dele. Plano geral novamente, pelo alto, mostrando apenas o padre já bem distante, e os coveiros trabalhando. A câmera se afasta.


Comentários do autor

A trilha sonora de "Inocência" foi "Christian Woman", do Type O Negative.

Foi publicado originalmente em 16.08.01, reescrito em 07.09.02.


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