Sistinas
A morte dá carona
#1

A morte dá carona

Juliana e Johnny eram casados há cinco anos, mas o casal já vivia uma crise no casamento. A começar pelo sexo, não se entendiam mais. Johnny era descaradamente promíscuo, e Juliana já havia percebido e dava suas escapadas diurnas para a cama de outro jovem.

Após várias brigas, resolveram ir a um terapeuta familiar para tentarem se reencontrar.

Após a primeira consulta, o terapeuta os fez enxergar que precisavam de estímulos para suas fantasias sexuais, e Johnny resolveu, após ter uma conversa com a esposa em casa:

— Sabe o que eu gosto realmente de fazer às vezes? Saio por aí após o trabalho e pego uma prostituta pelo caminho. Acho que o que me excita é o gostinho de estar pagando, ser dono dela por algumas horas…

— Eu tenho uma fantasia também, que é a do estupro. Eu aceito uma carona de um estranho e ele me violenta! O perigo, o jeito rude de ser domada, me excita mesmo!

— Podemos marcar algo do tipo. Realizo minha fantasia e você realiza a sua. Que tal, Juliana? — propôs Johnny.

Juliana relutou um pouco, mas acabou aceitando… Se era um caminho, que mal podia haver em tentar?

Após alguns dias, Johnny violentou sua esposa. A jovem vibrou como nunca nas mãos de seu homem. Eles entraram no mesmo ônibus, em pontos diferentes. Ele a bolinava em pleno trânsito, se excitaram com esse exibicionismo barato e depois desceram num motel. Transaram como dois selvagens.


27 de maio de 1999:

Johnny mal podia esperar. Era o dia escolhido para realizar sua fantasia. Sabia que Juliana estava querendo retribuir o prazer que tinha alcançado na semana passada. E não é que o maldito terapeuta tinha razão? Agora eles falavam mais abertamente, conseguiam expor suas fraquezas e medos para o outro, e o casamento ganhou vida nova. Dizem que o sexo não é tudo, mas é fundamental!

Para dar mais realismo à coisa, combinaram numa rua meio movimentada no centro, ponto de prostituição conhecido. Juliana sentiu medo no início, mas depois entrou no espírito da fantasia… Se vestiu de maneira provocante e saiu.

Johnny mal podia esperar o final do expediente. Combinou a hora com Juliana e o relógio não colaborava… Os ponteiros pareciam lentos, a noite nunca chegaria!

Na hora combinada, Johnny a viu parada na calçada, ao longe. Resolveu prolongar seu próprio prazer, pois talvez fosse a última vez que fariam aquilo, e voltou ao carro. Deu uma volta lentamente pelo quarteirão, sorriso malicioso nos lábios. Parou e pediu os serviços para todas as prostitutas que encontrou no caminho. Então foi encontrar Juliana.

Quando virou a esquina, se surpreendeu. Viu Juliana atendendo um estranho carro escuro, preto como a morte. Vidros igualmente opacos e uma bruma sobrenatural saindo do veículo.

Ia em direção à sua amada, que olhou calmamente para ele. O brilho em seu olhar dizia que o tinha visto. Johnny encarou aquilo como mais uma brincadeira e parou o carro. Achou certa graça na situação e riu nervosamente. Ela estava representando… Só isso.

Seu mundo desabou quando a porta do veículo negro se abriu. Olhou incrédulo para sua esposa, que nesse momento entrava sorridente no carro desconhecido. Viu assustado o mesmo arrancar deixando marcas de pneus no asfalto…

Rapidamente tentou virar a chave no contato de seu carro, quando sentiu o vidro ao seu lado descendo sozinho. Virou-se depressa e uma figura feminina, pálida e horripilante, colocou a mão em seu ombro. Em desespero, tentou ligar o motor.

Mas a maldita chave não girava no contato. Parecia subitamente feita de plástico mole. Olhou já em pânico para a mulher do lado de fora de seu carro, e viu seus lábios se mexerem. Uma voz cavernosa soou, e ele sentiu o hálito fétido da criatura:

— Você não sabe o que existe na noite…


Comentários do autor

Escrevi a idéia básica de "A morte dá carona" em poucos minutos, em frente a um antigo amigo meu, enquanto ele desabafava sobre seu relacionamento. Isso em 1998. Os nomes são reais.

Foi oficialmente o primeiro conto de Sistinas, publicado em 31.05.00.


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