Sistinas
A vítima e o algoz
#27

A vítima e o algoz

"Eu sou o espelho amaldiçoado
Onde a megera se olha aflita.
Eu sou a faca e o talho atroz!
Eu sou o rosto e a bofetada!
Eu sou a roda e a mão crispada,
Eu sou a vítima e o algoz!
Sou um vampiro a me esvair
- Um desses tais abandonados
Ao riso eterno condenados,
E que não podem mais sorrir!"

Heautontimoroumenos - Charles Baudelaire

O cenário é Sistinas, mas não nos dias de hoje. No começo dos anos oitenta, quando Sammael ainda não tinha chegado à cidade, e nem Valerie tinha seu status estabelecido com o Princess of the Night, o point noturno mais famoso era um estabelecimento duvidoso de nome "Club 69". Ele iria à falência anos mais tarde, quando então seria comprado, demolido, e de suas cinzas nasceria o Princess.

Mas, voltando ao Club 69, era basicamente uma casa de práticas incomuns. Um lugar para se encher a cara de bebida, se drogar e enfim transar com quem e como quisesse, ou assistir grupos de teatro amadores com suas incontáveis versões pornográficas de obras famosas. Às vezes aconteciam apresentações sadomasoquistas, e por aí a clientela se divertia. O cardápio era mesmo variado, tinha para todos os gostos...

Inclusive para o gosto de Emily.

Deixe-me falar sobre ela. A moça era uma verdadeira beldade, corpo perfeito, jeito sensual de caminhar. Ela rebolava mais que o necessário, é verdade, mas era algo bonito de se ver, e tinha fala suave. Sua aparência ligeiramente anêmica não combinava muito com sua alegria de espírito, mas como tinha os cabelos mais negros já vistos numa mulher, ela raramente passava despercebida quando entrava em algum lugar.

Mesmo quando entrava num beco para vomitar, pois naquela noite ela tinha passado todos seus limites. Bebeu e se drogou, muito, muito mesmo. Aquela garota linda sentia-se vazia, e quis, por apenas uma noite que fosse, fazer algo diferente. Caminhar sozinha até em casa foi ideia sua, mas quando se viu ajoelhada numa lata de lixo no beco e colocando o dedo na garganta, quase se arrependeu.

— Olha isso, cara. A mina tá passando mal. Vamos ser bonzinhos e ajudá-la?

Emily olhou para trás e viu três homens, de tão bêbada. Na verdade, eram apenas dois. Um negro enorme, o outro era um pouco mais baixo, mas igualmente forte.

— Oi gente. Eu já estava de saída. Não se preocupem comigo, tá?

— Já vai tão depressa? Te vemos sempre no Club 69, somos seguranças lá, mas só hoje você veio sozinha... - o fim da frase pareceu insinuar algo.

— Ah, que amáveis. Estão querendo saber se uma das clientes está legal. Ok, pessoal, circulando, eu já estou bem. - ela respondeu.

— Não tão depressa, vaquinha. - disse o negro, rindo, e a segurou pelo braço quando ela tentou passar.

— Que isso? Me larga! - ao lado, o outro segurança acendia um cigarro.

— Sua putinha. Sei do que você gosta. Você gosta da putaria que assiste lá dentro do clube. Aqui também tem putaria, a diferença é que nesse beco vai ser de verdade...


Sistinas, atualmente:

"Algumas pessoas são como doces armadilhas. Daquelas que você sabe que vai cair e vai se dar mal, e mesmo assim você cai.

E eu que pensava que a maior das doces armadilhas que tinha caído foi com uma mulher casada. Ela só me contou esse detalhe após transarmos três vezes. E eu continuei caindo na armadilha. E continuei, e continuei, até porque era bom sexo descompromissado. O problema só veio quando o marido traído descobriu, e...

Bem, então... doces armadilhas, eu dizia. Nenhuma das armadilhas que já vi se compara a esta:

Talvez tenha sido a combinação do bumbum grande com os tornozelos grossos, torneados. Irresistível pra mim... Já esteve com uma mulher que lambe entre os dedos do seu pé, e depois engole e chupa o dedão? Então, essa aqui, que está deitada na cama na minha frente, é assim. Trepa como bicho, sabe? Arranha, morde, xinga, aperta e grita.

Ela foi foda. Foi muito foda! Uma mestra do sexo. Tirei a sorte grande de pegar uma mulher assim. E peguei gostoso, viu? Droga, perdi a linha de raciocínio de novo. Eu falava de armadilhas, não? Vou te dar alguns detalhes, e você vai entender. Acho que estou ficando meio maluco...

Meu relógio mostra que passam das nove da manhã. Normal, já que fiquei trepando com essa fera durante a noite toda. Eu dormi o sono dos justos, descansei, e acordei. Aí começa o problema... Ela não acorda. Na verdade, ela não respira. E agora, nesse momento, passou algo pela minha cabeça: durante a foda toda, ela não suou. Como deixei passar esse detalhe tão estranho?

Agora ela tá caída na cama de maneira obscena, literalmente largada. Não parece uma mulher dormindo, não parece que simplesmente fechou os olhos e caiu no sono. Não. Parece sim com uma criatura que repentinamente perde os movimentos como se estivesse... morta!

Que porra, que aconteceu com ela? Ela tá MORTA mesmo! Será que se drogou e sofreu uma overdose? Será que teve um ataque cardíaco? Acordar ao lado de um cadáver é o pior que poderia acontecer a alguém, e justo comigo! Mas o pior eu ainda não contei...

Estou com essa defunta numa sala fechada, porta lisa, sem maçaneta alguma, não tem janelas, e exceto pela cama redonda, vermelha e macia, o lugar está vazio. Sem mobília. Sem vidraças, sem nada! As paredes são pretas, de péssimo gosto, com alguns detalhes em neon. O piso é bem sólido, por baixo de um tapete roxo. O teto é alto pra caralho, se bem que não tem abertura alguma lá, mas mesmo assim eu não alcançaria.

Eu não sei mais o que fazer. Já gritei demais, minha garganta dói. Ninguém me ouve, e eu também não ouço nada vindo lá de fora. Acho que esse quarto é isolado. Pior que algumas ideias macabras me passaram pela cabeça, coisas de maluco mesmo, que nem ouso pensar nelas novamente, mas... será que vou ter que comer carne de cadáver pra não passar fome?"


Naquele beco, anos oitenta:

O negro segurava firme a cabeça de Emily, enquanto o outro segurança esfregava o pau nos lábios cerrados dela.

— Vai Vic, fode a boquinha dessa vadia! Fode com força que tou segurando, e ela tá gostando, cara.

— Abre a boca, vagabunda. E ai de você se me morder, te encho de chumbo! - ele ameaçou, empunhando um revólver.

Ela obedeceu. No fundo, até começava mesmo a gostar da situação. Mas eles nunca saberiam.

— Que delícia. Como ela é quente, cara!

— Também quero meter na boca dessa gata, Vic.

— Não. Vamos comer logo essa puta antes que apareça alguém e acabe com a festa. Ela sabe que se deixar a gente abusar direitinho e colaborar, sai dessa viva. Né sua vaca? - ele riu, dando um leve tapa no rosto dela.

— Por favor - ela gemeu, o efeito das drogas e bebidas já quase passando - Faço o que vocês quiserem, só não me machuquem...

— Escutou, negão? Não queremos machucá-la. Não está afim de traçar essa bunda branquela?

— Quietinha mina, senão te arrebento, e o Vic nem vai precisar gastar tiro com você. - ele dizia isso enquanto levantava a saia e tirava a calcinha dela - Vou foder gostoso seu rabo branco, e cê vai adorar!

Não, Emily não estava adorando. Não ainda. O negro a pegava por trás com violência, e tudo doía, apenas. Sabia que logo a dor passaria e começaria a ficar realmente gostoso, ainda mais quando Vic deitou-se no chão, e a forçou sentar-se no pau dele:

— Agora negão, manda bala aí atrás, que eu quero foder essa molhadinha dela até gozar! Que delícia!

Dupla penetração era um sonho antigo da mocinha. Ela até podia disfarçar, mas seu corpo não. Seus seios estavam duros, doloridos até, de tesão. Estava tão molhada que seu mel escorria, ensopando o pau do tal Vic, que metia com força. Sem perceber, começou a gemer baixinho...

— Caralho, que vadia! Ela tá gostando mesmo!

— É mesmo, então vou dar um negócio pra ela que sempre quis fazer com uma mulher... mas tinha que ser uma putinha como essa!

Emily gozou um monte de vezes. Estava entregue, e curtindo. Estavam abusando dela, Vic metia os dedos dentro de sua boca, dava tapas na sua cara, enquanto lhe fodia. O outro homem a preenchia por trás, rasgando suas pregas, fazendo com que sentisse dor e prazer misturados.

— Ohhhhhhhh, vou encher sua bundinha de porra! - e o homem gozou mesmo. Emily, sentindo tudo melando atrás, gozou também. O negro então puxou os cabelos dela, e começou a... urinar!

— Ahhhhh... como é bom se aliviar depois de uma gozada dessas, cara!

— Porra negão! Cê tá mijando no rabo dela, comigo aqui por baixo! Vai me molhar, filho da puta!

— Sempre dou uma mijada pra "limpar os canos", Vic. Mas nunca lavei um buraquinho assim antes, me desculpa meu irmão, não resisti.

Emily gozou mais uma vez sentindo o aroma forte de urina, além do jato quente queimando suas preguinhas. Nunca tinha sentido aquilo antes. Ainda estava extasiada, perdera a conta de quantos orgasmos teve, quando Vic levantou-se, jogando-a no chão. Encostou novamente o membro nos lábios dela, e então gozou. Não satisfeito, quis também se aliviar:

— Segura a cabeça dela de novo, negão. Vou querer aproveitar. - dizendo isso, Vic mijou no rosto dela. Isso sim a deixou revoltada. Todo seu prazer de ser dominada sumiu nesse momento, e ela sentiu-se humilhada. É uma linha muito fina que separa as duas sensações.

Os dois seguranças, rindo entre si, vestem as calças e saem andando, deixando uma estuprada Emily confusa entre realização e humilhação...


O quarto preto, no presente:

"Já é tardezinha, e eu aqui ainda trancado com uma morta. Estou perdido, sem saber o que fazer. Só tenho a roupa do corpo, meu relógio que se tornou meu único elo com o mundo real, e mais nada. Já chequei nas poucas roupas dela, que estão caídas no tapete roxo do chão, mas não achei chave alguma. A porta por onde entramos aqui é totalmente lisa, tentei cravar minhas unhas em algum lugar, mas não vejo sequer um vão. Como já disse, não tem fechadura, o que me leva à conclusão de que ela só abre por fora...

Nada de janelas, e o próprio ar desse quartinho é abafado. Não consigo raciocinar mais nada. Já tentei quebrar os luminosos de neon da parede, mas só consegui me machucar. Não sei no que isso me ajudaria, mas acho que preciso quebrar alguma coisa.

Quebrar? Sim, eu já bati na defunta. Te juro. Minha raiva é tanta, que a espanquei. Ela não está mais na cama. Eu a joguei no chão, montei nela, e a esbofeteei toda! Pura frustração. Pensei em fazer sexo com ela, afinal, é muito bonita, mas... ela é um cadáver com carnes endurecidas e gélidas. Então eu a chutei. Uma, duas, várias vezes! Quebrei o maxilar dela e algumas de suas costelas, depois me arrependi e fiquei com medo.

Medo? É que ela parece tão morta nas últimas horas, que até evito encostar nela. Ao mesmo tempo, estou com um temor quase irracional de que ela irá se levantar. Não sei de onde tirei essa ideia, mas...

Porra, socorro! Alguém abra essa maldita porta! Quero acordar desse pesadelo!!"


Anos oitenta:

Emily estava encharcada de esperma e urina, mas em compensação, totalmente recuperada das bebidas e drogas. Ainda estava sentada naquele beco, sem saber o que fazer, quando teve a estranha sensação de que uma porta escura ao longe a chamava.

Como estava toda dolorida, sem condições de andar, achou que entrar por aquela portinhola seria uma boa ideia.

"Uma boa ideia, como todas que tive nessa maldita noite. Espero não me arrepender dessa também."

O prédio estava abandonado, empoeirado, caindo aos pedaços, e, estranhamente, nenhum mendigo morava ali. O lugar estava mesmo deserto, e não era muito pequeno. Assim que entrou e encostou a porta, Emily enxergou aquilo: na parede oposta tinha enormes pregos enferrujados perfurando a parede.

Olhando direito como estavam pregados, ela percebeu que tinha um em cima, outros dois nas extremas, um no meio, mas ligeiramente à direita, e o último embaixo... Pareciam dispostos como uma cruz! Uma cruz que começava na altura exata da testa de Emily.

"Estou cansada... tão cansada." - virou-se, querendo encostar-se, quando uma vontade maior que a sua fez com que se voltasse à parede. Então ela pegou firme no prego corroído pelo tempo, justo o de cima, aquele que estava bem de frente seus olhos.

Assim que sua mão agarrou o prego e seus dedos se fecharam ao redor dele, sua palma grudou firmemente. Emily tentou soltar, mas fraca como estava, não dava, simplesmente não conseguia. Começou a escorrer sangue de repente. Seu sangue.

Fez a besteira de colocar a mão em outro prego, o do centro, para se apoiar e se soltar, mas ficou definitivamente presa. Algo dentro da parede parecia se mexer, assim como os pregos pareciam sugar seu sangue. Quando Emily já estava quase desmaiando com aquela estranha hemorragia, os pregos soltaram-se, e algo se libertou da prisão de concreto.

Era uma mulher, esquelética, com umas poucas mechas de cabelo dourado. Seus olhos eram totalmente vermelhos, assim como os lábios. Ela pegou Emily pelo pescoço, e a mordeu. Sugou até se fartar, e então, já se parecendo mais com uma humana, disse, calmamente:

— Por ter me libertado dessa parede, vou te dar um presente e uma maldição.

Foi a última coisa que Emily escutou em vida, e nunca mais viu aquela sinistra figura.

Acordou apenas na noite seguinte, sentindo um vazio que nunca mais preencheria. Mas também enxergava tons desconhecidos de cores, e sentia cheiros que nunca experimentara antes. Um, em especial, fez com que ela se levantasse...


O quarto preto:

"Eu estava deitado na cama, ainda pensando no que fazer, quando ela se mexeu! Eu juro, a mulher-defunta se mexeu! Pode ser aquilo que os legistas dos seriados de tv sempre falam, rigor mortis, que os mortos produzem movimentos involuntários.

Pode ser, mas essa porra abriu os olhos, e está me encarando! Não são olhos mortos, eles brilham, por Deus, eu juro! Ela continua no chão, na mesma posição que a deixei, não moveu um músculo, mas o olhar... Estou ficando maluco!

Eu quero que ela morra, definitivamente. Preciso matá-la. Mas, como? Como matar algo que já está morto?

Passa das seis, quase noite. Passei o dia inteiro preso aqui dentro. Estou vendo coisas, imaginando, preciso sair daqui. Já gritei demais, e ninguém apareceu para abrir a maldita porta. Não ouço nada além de silêncio. Só minha própria respiração..."


Em algum lugar, perto do club 69:

— Ei, Vic, olha só quem apareceu!

— Como encontrou a gente, sua vaquinha?

— Eu nunca me esqueci do seu cheiro - Emily respondeu.

— Hahahaha, a putinha gostou de cheirar seu saco cara! Vamos dar outro trato, que ela tá querendo!

— Sim, estou querendo chupar. Você está pronto para mim? - quando ela disse isso, o negro tirou o membro para fora, ainda amolecido, sem acreditar no que ouvia. Aquela menina era mesmo muito depravada, mas ele a ensinaria uma lição.

O outro segurança observava, desconfiado, e resolveu sacar seu revólver. Safada ou não, a putinha era muito estranha.

Emily, ajoelhada na frente do homem, lambia e engolia com vontade. Já sentia o pau endurecido bater em sua garganta, era muito grande e grosso para engolir de uma vez só. Então ela começou a chupar, e não parou mais.

— Ei, assim você está machucando.

— Que foi negão? Não aguenta um boquete caprichado? - brincou Vic.

— Solta, porra. Para, para! Larga, sua vaca!

Pelo rosto do negro, estava doendo. Seu amigo resolveu olhar, e viu que as veias do membro dele estavam a ponto de estourar, e um filete de sangue escorria do canto da boca de Emily.

— Pára!! - ele puxava os cabelos da mulher, que agora enchia a boca de sangue - Tira ela daqui, faz essa diaba soltar meu pau!

Vic tentou chegar perto, e ouviu um chiado sobrenatural. Não pensou duas vezes, apontou o revólver e atirou, estourando os miolos de Emily. A mulher tombou, mas não morreu. Ele atirou de novo. Ela levantou, e ele gastou enfim seu último tiro. Viu de relance seu amigo agonizando, tentando estancar a hemorragia genital com as mãos, mas vazava muito sangue...

— Morre, porra! - gritou Vic, desesperado, e Emily sorria.


No quarto, presente:

"Morre porra! Eu já te arrebentei toda, por que não morre, sua vaca? Fecha os olhos, não olha pra mim!

Já sei. Tenho que arrancar seus olhos. Com minhas próprias mãos, nuas. É isso, assim poderei ficar em paz. Não consigo me concentrar pra sair daqui com ela me encarando desse jeito. Ela está morta. Mortinha. Acalme-se.

Pense."


No passado:

— Atire à vontade, animal. Nunca mais irei morrer. E ainda vou escutar você gritar!

Victor estava sem balas. Descarregou o revólver na puta, e ela continuava andando! Seu amigo já tava morto, com o olhar vidrado, no meio de uma poça de seu próprio sangue.

— Isso é por mijar na minha boca, na minha cara! - ela gritou, e enfiou a mão na barriga dele, atravessando-o. O segurança agonizava, quando ela começou a chupar seu pescoço.

— Um último... beijo, sua vadia?

Emily achou graça naquilo. O último desejo de um moribundo? Encostou sua boca na dele, e o beijou. Mas o homem, que se recusava a morrer, mordeu seus lábios com toda a força que lhe restava, e a vampira sangrou. Ele não durou muito depois disso, e mesmo assim morreu.

— Filho da puta. - ela cuspiu, e saiu andando.

Na noite seguinte, Emily estava de volta ao Club 69. Seus gostos e prazeres tinham mudado, e ela achou aquilo tudo extremamente entediante. Saiu para caminhar, quando ouviu o chiado que nunca mais esqueceu na sua pós-vida. Atrás dela, parado, estava um revoltado Victor, e agora renascido como vampiro...


O quarto preto, onde termina nossa estória:

"Eu segurei seu rostinho lindo, pálido, e, com meus dedões em seus olhos perturbadores, comecei a apertar. Mas quando os globos oculares quase saltaram das órbitas, eu tremi, e recuei. Então resolvi furar os olhos dessa puta. Me cortei todo tentando tirar uma lasca de madeira da cama, mas consegui. Sim, agora é só furar os olhos dela. Vaca filha da puta. Me prendeu aqui o dia todo. Quero ver se ela vai gostar disso.

Olhe bem pra mim, vacona. Tá vendo esse pedaço pontudo? Então, vou enfiar devagar no seu olho, até vazar! Você tá morta mesmo, nem vai sentir, mas assim vai me deixar em paz! Quem sabe depois disso alguém vem aqui e..."

A porta se abriu, e um vampiro furioso apareceu. Victor, procurando sua parceira Emily.

"… abre essa maldita porta?" - foi o último pensamento do maluco. O vampiro pegou sua cabeça e girou, quebrando seu pescoço como um graveto seco. Ele tombou com os olhos arregalados e o pedaço de madeira ainda na mão. Nesse exato momento, Emily despertava do sono diurno dos amaldiçoados.


— Que deu em você, Emily? Trancar-se com um mortal durante o dia na câmara lacrada?

— Ah, quis um pouco de perigo, sentir adrenalina. Você sabe, ser uma vampira imortal é entediante se não fizermos nada de diferente.

— Concordo, mas quase não acorda a tempo. Ele ia furar seus olhos. Sorte sua que saquei onde você estava.

— Não teria perigo. Já fizeram coisas piores com meu corpo antes, e eu continuo por aqui. Mas, e o meu convidado? Ele enlouqueceu, perdeu a sanidade? Deixei uma câmera gravando, vamos assistir ao vídeo?

Victor sorriu discretamente, no fundo ele gostava das maluquices de sua parceira. "Claro, eu também estou curioso para ver o que você aprontou com ele."

— Sabe, durante o dia sonhei com nosso primeiro encontro. Apesar de ter sido eu quem o criou, você acabou se tornando meu mestre, Victor.

— Formamos um casal feliz, Emily. Só isso. - o vampiro respondeu, beijando sua parceira. Embaixo do aparelho de vídeo, um panfleto envelhecido e amarelado do Club 69...


Comentários do autor

"A vítima e o algoz" foi publicado originalmente em 12.12.03.


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