Sistinas
All hallows eve
#3

All hallows eve

Steve estava desanimado. Sua ex-namorada tinha passado todos os limites...

"Maldita depravada..."

Tudo começou no dia anterior, quando ele saiu mais cedo do trabalho e quis fazer uma agradável surpresa. Passou pela casa dela, já que não era muito longe de seu serviço.

Antes não tivesse ido.

"Ainda bem que eu fui!"

Sim, ainda bem que tinha ido, afinal. Até quando será que ela o enganaria? Ele sinceramente não sabia. Mas agora aquilo era passado. Assim como Lucy.

Mas era uma lembrança que incomodava. E como incomodava! Pediu mais um copo de puro uísque ao garçom. Queria afogar aquela lembrança de alguma maneira.

O garçom que colocou o copo na sua frente estava simplesmente ridículo. Fantasiado com uma roupa idiota, que quase o fez rir.

"Halloween" — lembrou-se.

Bebeu um gole, quando as lembranças da tarde anterior voltaram...

Steve chegou e viu uma movimentação estranha na casa dela. Quer dizer, estranhou pelo fato de não haver movimentação alguma!

Era um lugar barulhento, sempre havia crianças e muita bagunça na vizinhança de Lucy. Mas não naquela tarde. O carro dela, na garagem, significava que estava em casa com certeza! Estaria dormindo? Não, sua namorada odiava dormir durante o dia. O que seria então?

Ouviu o som lá em cima ligado, numa música monótona, arrastada, quase que hipnótica. Sinal de que ela estava mesmo em casa. Bateu na porta, mas ninguém atendeu. Mexeu nos bolsos, tinha a chave da casa. Claro que tinha! Era sua namorada, não era?

Entrou de mansinho. Ela parecia estar lá no quarto, ouvindo aquela maldita música. Seria algum tipo de relaxamento? Subiu pelas escadas decidido a fazer uma surpresa. Viu no corredor apenas a porta do quarto aberta. Então, Lucy deveria estar fazendo mesmo o tal relaxamento...

"... Ou alguma ginástica emagrecedora. Essas mulheres!" — pensou, sorrindo.

Ensaiou silenciosamente sua entrada no quarto, e respirou fundo. Entrou de surpresa, rapidamente. Steve queria surpreender sua namorada, e conseguiu. Não era uma ginástica.

— Mas que porra é essa?

Lucy estava deitada no chão, como uma gata que se espreguiça. Estava totalmente nua, e um homem estava de pé ao lado dela. Segurava algo, com o qual molhava Lucy...

— Steve? — assustou-se a mulher.

O homem que a acompanhava virou-se para a porta, assustado também. Segurava o próprio membro na mão, e dava um banho de urina em Lucy. A julgar pelos mamilos excitados dela, aquele devia ser o grand-finale de uma tarde de muitas loucuras!

— Meu Deus, que ridículo... — foi a única coisa que Steve conseguiu dizer.

— Que você está fazendo aqui? — perguntou Lucy, uma mistura de vergonha com indignação.

Enquanto isso, o misterioso homem procurava por suas calças, espalhadas no chão do quarto. E vestia-se em silêncio. Steve olhou com ódio para Lucy:

— Ainda tenho a chave. Mas, tome, não preciso mais dela. — disse, jogando a chave no chão.

Lucy não sabia nem o que dizer. Olhou para seu estranho parceiro, cabisbaixa.

— Continue seu banho de mijo... prostituta!

— Ei! Não fale assim com ela! — disse o estranho, abrindo a boca pela primeira vez.

Steve virou-se já acertando o melhor soco que pôde. Pegou em cheio a boca do estranho, e o derrubou.

— Cala a boca, seu filho da puta! — gritou Steve.

— Saia da minha casa! — gritou Lucy, em resposta.

Steve deu as costas e saiu do quarto. Ia mesmo embora, mas a vontade era de quebrar a cara daquela mulher. E ele achava que a conhecia. Tão tímida e recatada! Meu Deus...

Ouviu a voz do homem dizendo algo para ela. Olhou para trás, e não conseguiu se desviar do soco que levou na cabeça. Era a vez do estranho agora. Steve caiu no chão, meio tonto. Quis levantar-se quando levou um chute nas costelas. Perdeu o fôlego. Não conseguiu mais se erguer, até respirar era difícil. O cara devia ser uns dez anos mais jovem que ele. E era bem mais forte também.

Quase pôde ouvir a voz de Lucy sussurrar: "E muito mais tesudo e gostoso que você!"

Steve levou vários chutes, caído no chão. Não dava para reagir nem respirar direito. Nessas horas pensava em parar de fumar. Irônico.

— Quer saber porque ela está comigo, né? É por que dou isso aqui pra ela, seu corno filho da puta! — Dizendo isso, o estranho começou a mijar em cima de Steve! Lucy segurou um sorriso, e pediu para o estranho parar com aquilo. Era demais!

— Só quero esse homem fora da minha casa!

Steve foi jogado pela escada, e depois chutado para a rua. Tudo em silêncio. Em doloroso silêncio.

— Senhor? Mais uma dose? — perguntou o garçom.

Steve então acordou de sua amarga lembrança. Recusou o novo copo de uísque e pagou a conta logo depois. Levantou-se com dificuldades, ainda doía, e saiu do bar. Não tinha trabalhado naquele dia. Não sabia nem o que fazer. Sabia que se fosse atrás de Lucy, poderia até matá-la, e, definitivamente, ela mostrou que não valia à pena.

Passou pela porta do Devil´s Whorehouse. Viu várias mulheres se oferecendo. Prostitutas profissionais. A comparação com sua ex Lucy foi inevitável.

"A diferença é que Lucy não cobra. Além de vadia, é burra."

— Ei, gato! É noite de Halloween. Não quer realizar alguma fantasia comigo?

Steve viu o rosto de Lucy sobreposto ao rosto da mulher que o abordava. A bebida já mostrava seus efeitos.

— Claro, por que não? — sorriu, aceitando.

— Então vamos entrar? Podemos beber algo e ficarmos sozinhos. Vamos?

Steve abraçou a mulher, e entraram no Devil´s. Lá dentro, sentaram-se num camarote privativo. Ele tentava, mas não parava de pensar em Lucy. Achava que precisava matá-la.

— Eu queria pedir algo...

— Claro, gato. Comigo é apenas uma questão de preço. Faço e topo tudo.

— Posso mijar em seu rosto?

— Hummm. Isso eu nunca fiz. Sairá meio caro, amorzinho.

— Eu posso pagar.

A garota de programa pensou mais uns instantes.

— Tudo bem. Quer me molhar agora?

— Sim.

— Quero mexer nele um pouquinho, posso?

A mulher fechou as cortinas negras do camarote, e ajoelhou-se na frente dele. Desceu as calças de Steve, e encostou a boca...

— Vou te chamar de Lucy, vadia...

— Humpf... — ela resmungou, a boca ocupada.

Steve relaxou na poltrona. Sentiu-se homem novamente. Desde a tarde de ontem, sentia-se um filho da puta impotente e traído. Agora não. Segurou os cabelos da mulher, controlando os movimentos. Em pouco tempo gozou naquela boca.

A mulher passou a língua pelos lábios, e tirou cuidadosamente a roupa, pedindo:

— Vai... Me molha agora. Faça sua vontade. Realize seu desejo. É halloween!

"Sim. Maldita noite de halloween."

Steve levantou-se, e de pé começou a urinar no rosto dela. Sentia como se uma grande frustração escorresse para fora do seu corpo, com o mijo quente.

— Engole Lucy. Bebe… quero que beba!

— Tá maluco? E não me chame de Lucy!

— Estou pagando, sua puta! Te chamo do que quiser! Agora bebe. Abra a boca!

— Socorro!

Instantaneamente, a cortina se abriu, e surgiu um enorme segurança da casa.

— Que você tá fazendo, maluco? Deixa a mulher em paz!

— Eu paguei! Quero que ela beba!

A mulher já tinha juntado suas roupas, e saído correndo do camarote.

— Meu Deus, cara. Isso é doentio. Qual o seu problema? Saia da casa, e não volte mais!

Steve ainda argumentou com o segurança. Desculpou-se pelo comportamento, e pediu para ficar.

— Fica no bar. Mas não exagera na bebida. Tô de olho em você, ok?

Deu uma piscada desafiadora para o segurança, e sentou-se no balcão. A casa estava em festa. Plena festa de Halloween. Mulheres, homens e garçons desfilando, todos em suas fantasias estúpidas.

Viu então a mulher mais bonita da noite, escondida por detrás de uma simples máscara. Vestia plumas nos ombros, e um vestido branco tão lindo quanto ela.

— Posso me sentar com você? — ela disse, se aproximando.

Steve olhou desconfiado.

— Ei, não se preocupe. Não sou das que cobram. Estou aqui apenas para conversar, dançar, beber e me divertir... E você?

— Eu estou aqui por... Sei lá. Eu queria mijar em alguém! — soltou Steve.

— Como é? Me paga uma bebida e me conta essa história direito? — sorriu a mulher.

"Vadias" — pensou Steve, enquanto erguia o braço chamando o garçom. Conversaram durante alguns minutos. Em certo momento, ela o convidou para outra festa.

— Lá tem algumas amigas minhas que vão adorar você. Que tal?

Steve aceitou sem pensar. Parecia ser a coisa certa. Queria qualquer coisa, menos voltar para casa. Voltar para casa significava ficar pensando em Lucy. Ele não queria isso.

— Vamos sim! Quando?

— Agora. Venha comigo.

Quando Steve entrou no carro da mulher, estranhou o fato do mesmo estar sem placa. Mas soltou-se no banco, e seguiu até uma casa afastada do centro. Era um subúrbio de Sistinas, que ele nem ao menos conhecia.

— Vamos entrar. É aqui.

A festa estava mesmo animada. As pessoas não usavam fantasias, apenas algumas poucas circulavam mascaradas, e tinha muita mulher bonita. Steve gostou do que viu. Se todas fossem receptivas como sua companheira, não passaria a noite sozinho.

— Fique aqui, vou buscar algo para você beber. — ela disse.

Steve sorriu, e encostou-se na porta de entrada. Varreu o lugar com os olhos, quando viu sentados no sofá Lucy e seu novo namorado! Saiu depressa de vista, encostando do lado de fora. E agora? Ia lá e partia a cara dos dois? Ou buscava um revólver em casa, e entrava atirando?

— Olha o drink! — disse a mulher de branco, chegando de repente.

— Moça, olha... não estou bem. Preciso ir agora, certo? Foi um prazer!

— Ei! Vai embora assim? Fique, por favor.

— Não, obrigado. Preciso mesmo ir.

A mulher continuou parada na porta, enquanto Steve saía rapidamente pela rua. Ia passando um táxi, por sorte, e ele embarcou. Da porta, a mulher de branco olhava desanimada.

— Quem era? — perguntou um homem, ao lado dela.

— Uma presa que peguei na noite. Era perfeito para nós. Solitário, triste, decepcionado com alguém ou algo que não sei o que é. — ela respondeu.

— E por que deixou que ele fosse?

— Não sei, Doutor. Desculpe. Ele simplesmente não quis ficar.

— Será que ele percebeu algo?

— Acho que não. Não mesmo.

— Tudo bem. Volte para dentro. Preciso de você para selecionar as cobaias.

— Certo, Doutor.

A mulher entrou novamente para a festa, deixando a rua deserta.


No táxi, Steve estava inconformado.

— Preciso voltar lá.

— Onde, rapaz? — perguntou o motorista.

— Naquela festa.

— Quer que eu dê meia volta?

— Não. Me leve para casa. Vou me vestir direito, e voltamos aqui, ok?

— É o freguês quem manda!

Steve desceu em sua casa, trocou rapidamente de roupas, e pegou uma antiga máscara de halloween que tinha guardada. Voltou ao táxi, e à festa. Pensou em ir armado, mas desistiu. Lucy não valia à pena mesmo.

Desceu do táxi no outro quarteirão, e foi até a casa andando. Não queria chamar a atenção. Vestiu a máscara, e entrou pelos fundos. A festa ainda estava bombando, com muito mais pessoas que antes. Ficou até fácil entrar desapercebido.

Steve deu a volta pela sala, e sentou-se bem em frente à Lucy e seu rapagão. Como ele esperava, mascarado e de roupa diferente, ninguém o reconheceu. Viu quando a sua amiga de branco passou por ele, com dois copos na mão e entregou ao feliz casal. Que estranha bebida seria aquela? Steve contentava-se em apenas observar. Os dois faziam gracinhas, riam muito... É, Lucy parecia feliz. Muito feliz.

Ele viu também quando o seu rival pareceu meio sonolento e caiu no colo de Lucy. Ela acariciava os cabelos dele com muito carinho, e sorria. Ela também lhe pareceu sonolenta...

Mas Steve resolveu sair. Não queria mais ver aquilo. Foi abrindo caminho entre as máscaras, e saiu da festa escondido. Andou despreocupadamente pela calçada, até passar o táxi que o levou para sua casa.

Entrou em silêncio. Tirou a roupa, sem vontade de tomar banho. Deitou-se na cama, que lhe pareceu mais vazia e fria do que nunca.

"Maldita noite de halloween."

Adormeceu.


Acordou com o telefone tocando. Olhou instintivamente para o relógio. Já era tarde, se os ponteiros do relógio estivessem certos.

— Alô?

— Por favor, é o Sr. Steve?

— Sim, sou eu mesmo.

— Poderia comparecer até nosso hospital?

— Como? Por quê?

— Veja bem, explico direito aqui. Mas encontramos uma mulher hoje, e ela está mal. Seu telefone estava na carteira dela, e foi o único número que achamos.

— Estarei aí em meia-hora.

Desligou o telefone e tomou uma ducha. Estava desperto, e bem melhor que ontem. Vestiu-se, e pegou seu revólver. Não gostava de andar armado por que não era licenciado. Mas, agora, parecia ser a coisa certa. Em vinte minutos chegou ao hospital central de Sistinas.

— Senhor Steve? Venha comigo, por favor. Ela está mal. Pediu para falar com você.

— Lucy?

— Sim, a paciente chama-se Lucy. Apenas a tranquilize, depois conversamos, ok?

— Mas, o que houve?

— Aparentemente, ela e o amigo caíram numa armadilha. Existe à solta por aí uma turma de médicos mal-intencionados, que extraem órgãos para venda no mercado negro. Eles organizam festinhas e pegam pessoas solitárias pela noite. Depois enchem a vítima de drogas, e roubam os órgãos. Agora, com licença, preciso atender uma emergência, certo?

— E o que roubaram dela?

O médico desapareceu pelos corredores do hospital, com sua prancheta debaixo do braço. Steve viu-se parado em frente ao quarto com dois leitos.

— Lucy?

— Steve? É você? Entra!

Entrou, fechou a porta, e olhou para sua ex-namorada na cama hospitalar. Ela estava pálida, com aquelas roupas brancas, que pioram o aspecto das pessoas.

— Que houve?

— Eles arrancaram, Steve. Eles me cortaram...

— Calma, Lucy. "Eles" quem?

— Fomos numa festa ontem, de halloween... Nos drogaram. Acordamos num motel sujo, nus, numa banheira cheia de gelo!

Steve viu o seu rival, deitado no leito ao lado. Parecia semi-morto. Todo arroxeado.

— Mas o que fizeram com vocês?

— Eu não sei... Acordei com o Will deitado ao meu lado. Estávamos mergulhados em pedras de gelo. Li um bilhete colado no vidro, pedindo que eu ligasse para um hospital, senão morreria. Eu liguei para cá, e me pediram para voltar à banheira, e ficar imóvel. Meu Deus, eu olhei para o Will, e vi dois cortes horríveis nas costas dele! E resolvi checar em mim... Eu também fui cortada! — chorou Lucy.

— E...?

— Os paramédicos nos retiraram de lá. Eles... droga, Steve! Eles tiraram meus dois rins!

— Como é?

— A festa era uma armação! A casa era alugada! Está vazia hoje! Veja o que fizeram comigo!

Steve viu então os tubos que estavam ligados às costas de Lucy. Era macabro.

— E com Will, fizeram o quê?

— Tiraram mais coisas dele. Os dois rins, e acho que outros órgãos também, tadinho...

— Que irônico. O cara que mijou em mim está sem os rins... — sorriu Steve.

— Quê? Você ainda tem coragem de brincar conosco?

Steve foi até o leito de Will e ergueu o lençol. O rapaz estava imóvel. Se não fosse a respiração irregular, diria que já estava morto.

— O que tá fazendo?

— Algo que eu estou com vontade. — dizendo isso, Steve abaixou as calças e mijou no corpo de Will. Urinar nunca foi tão gostoso!

— Filho da puta! Veio aqui para rir da desgraça alheia? Por isso que traí você! E não sinto remorso. Trairia de novo, se tivesse oportunidade! — gritou Lucy, enraivecida.

Steve levantou a camisa, e mostrou seu revólver guardado por baixo dela. Lucy calou-se. Percebeu o que ele viera fazer no hospital. Brincar com os dois.

— Só não te mato, sua putinha inválida, porque você não vale à pena. Nunca valeu. E agora, mais do que nunca, você viverá sua vida. E viverá com sofrimento.

— FILHO DA PUTA!

— Começo a acreditar em Deus! Aquela conversa toda, sabe? Aqui se faz, aqui mesmo se paga! Boa sorte, Lucy. Espero que apareçam doadores com rins compatíveis. Nos próximos quatro anos! Hahaha!

Steve fechou a porta, e saiu pelo hospital, cantarolando. Era o dia de sua realização. No fundo, sentia-se mal por "rir da desgraça alheia", mas estava muito satisfeito!

Quando saiu do prédio do Hospital Central de Sistinas, não sabia se ia para casa. Então resolveu andar pelo centro. Passou pelo famoso club Princess of the Night. De dia, não era tão imponente assim. Uma noite dessas ele viria por aqui, para ver se encontrava mesmo alguma personalidade. Por um instante, pensou se a "antiga Lucy" gostaria de vir com ele.

— Ei? Não nos conhecemos?

Steve olhou para trás, e lá estava ela. Era a mulher de branco de ontem à noite!

"Deus definitivamente existe!"

— Oi? Quem é você mesmo? — disfarçou.

— Ah, não se lembra? Sua companhia de ontem à noite. Eu te levei numa festa super legal e você quis ir embora. Está lembrado? Ou bebeu demais ontem? — ela sorriu.

— Sim, eu me lembro. É que passei mesmo mal.

— Olhe, eu sou enfermeira. Posso cuidar de você, se quiser. Que tal?

Steve pensou um pouco. Escapou por pouco da primeira vez. Ele poderia estar agora no hospital, sem seus rins... Mas agora estava armado, e não beberia nada que lhe dessem.

— Onde? — perguntou, enfim.

— Em minha casa. Eu só trabalho de noite. Vamos?

No caminho, conversaram sobre amenidades. Ela morava em um apartamento. Coisa luxuosa, mas desarrumada. Parecia estar de mudança. Steve entrou, e sentou-se no sofá da sala.

— Me espera aqui. Vou tirar essa roupa de corrida...

— Você acabou de se mudar?

— Na verdade, pelo meu emprego, eu não paro muito nos lugares. Não fixo residência. Estou sempre me mudando, chegando, saindo, vindo, entende? Minutinho só, preciso fazer uma ligação.

Quando ela sumiu para o quarto, ele se aproximou levemente, tentando escutar.

— Olha Doutor! Eu não cumpri minha cota ontem, certo? Estou cumprindo hoje. Sim, ele está aqui. Quem? O cara que fugiu ontem. Que horas você chega aqui?

"Mas que vaca!"

— Daqui a três horas está bom. Vou dar algo para ele apagar. Quero os U$30.000 depositados na minha conta ainda hoje. Claro! Estou arriscando trazendo em minha casa! Acabo de chegar e já terei que me mudar daqui! Te espero, Doutor. Até logo!

Steve voltou para o sofá, fingindo desinteresse. "Vaca psicopata!" E ela voltou para a sala com uma roupa mais sóbria e perfumada.

— Olhe, beba isso. Vai melhorar seu mal-estar.

— Não.

— Por que não? É alérgico?

— Porque não vou ser burro para beber isso. Eu voltei à festa ontem, sabia?

Ela emudeceu.

— O casal que você drogou ontem, eles estão no Hospital Central de Sistinas. Não que eu me importe, mas estão vivos graças a aparelhos. Você e o "bom Doutor" acabaram com duas vidas em uma única noite!

— O que você quer?

— Dinheiro. E se você tiver órgãos aqui, eu quero também. — disse Steve, sacando o revólver.

A mulher deu à Steve uma caixa onde estavam guardados três pares de rins. Seriam da noite anterior? Deu também um pacote cheio de notas grandes.

— Tem mais uma coisa que eu quero.

— E o que é, seu ladrãozinho filho da puta?

— Ajoelha. Quero mijar em você... — ele respondeu, sorrindo.


Steve dirigia seu carro novo pela rodovia expressa. Quem diria, uma única noite mudou sua vida! Deixou os rins numa caixa de correio e ligou para o Hospital, informando de quem eram. Logo Lucy teria seus rins de volta. E Will também. Isso amenizava um pouco a sensação de que ele "ria da desgraça alheia".

Já a enfermeira... Acho que o tal "Doutor" irá matá-la quando descobrir que ela perdeu órgãos e todo o dinheiro da quadrilha. Provavelmente, será encontrada em algum leito de hospital, sem seus próprios rins, ou, pior ainda, será executada pelos "médicos assassinos".

"Quanto a mim, bem, $180.000 e uma bela mijada na cara de uma linda vadia metida à médica. Nada mal para um dia só!"

Steve sentia-se muito bem. Pisou mais ainda no acelerador, e seguiu, feliz, por entre a tarde de sol de Sistinas.


Comentários do autor

All hallows eve foi publicado originalmente em 23.10.00.


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