Sistinas
Conectados
#46

Conectados

"É da natureza visceral da fêmea provocar o macho e é da natureza primitiva do macho ir atrás da fêmea que o provoca."

Donna arfava, suada. Não era apenas suor que escorria. Ele era bem mais velho, mesmo assim tinha aquela pegada forte, aquele fogo insaciável que a fez acreditar em todas as amigas que falavam sobre os tais "homens experientes". George não era um desses, ele era mais velho. Um avô.

Mas ele estava conseguindo com que ela, uma mocinha com pouco mais de vinte anos, tivesse um orgasmo inesquecível. Dificilmente esqueceria o beijo dele, de uma categoria e desejo latente que não se encontra facilmente nos dias atuais. Era o beijo de um degustador, de um especialista em mulheres. De um velho playboy que fez isso a vida toda: experimentou.

Agora ele estava degustando o suco vaginal de Donna. Tinha arrancado a calcinha dela, uma Victoria's Secret presente dele mesmo. Encostou-a na parede, e ajoelhou-se atrás dela. Lambeu desde a panturrilha, apertando suas coxas, deixando um rastro de saliva pernas acima passando pela parte anterior do joelho, que era muito sensível na mocinha. Ele sentiu sua funcionária estremecer nesse momento, e então subiu de vez. Seu pau ainda mole, flácido, encostava no calcanhar dela. Mordiscou a bunda firme e durinha, afastou as nádegas e passou a língua nas pregas do ânus, naquele vale de suor. Ouviu um gemido longo e manhoso como o de uma felina no cio.

Ela empinava em direção ao rosto do velho, querendo ser aberta, descoberta e lambida onde homem nenhum ainda havia chegado, sua porta dos fundos, sua maior intimidade. Tinha tesão por sentir um hálito quente ali atrás, e vergonha de admitir isso. Seu chefe agora sabia que ela gostava e lambia com gosto seu prêmio.

O mesmo chefe que a chamou na sala dias antes, oferecendo uma enorme quantia em dinheiro, e sendo direto quanto ao que estava, segundo ele, comprando: o sexo dela. Queria transar com aquela mulher exuberante. "Uma vez, nada mais, certas coisas na vida precisam ser provadas apenas uma vez, para se tornarem eternas" - dissera a ela.

Donna não tinha manchas na pele. E também não tinha tatuagens, nem piercings, nada. Usava apenas brincos, nada mais. Era naturalmente bonita, nunca carregava na maquiagem, e exatamente por isso parecia sempre ser a Eva, fresca e autêntica como a primeira mulher do mundo. Não pintava as unhas nem os cabelos com cores berrantes, usava roupas sóbrias quando a ocasião pedia, e modelitos bem femininos e provocantes quando queria atrair alguns olhares, mas nada de vulgaridades, não precisava disso.

Era essa mulher que Dean admirava. Na verdade, era sua vizinha, mas ela nem sabia que ele existia. Não pessoalmente. Por uma dessas armadilhas modernas, Donna se correspondia com ele via internet, sem ter a mínima ideia de que se tratava de seu vizinho, um rapaz extremamente tímido, com o rosto cheio de espinhas e cabelo desgrenhado e descuidado, dono de um olhar tão perdido quanto observador...

Mas esse não era ele. Não para Donna. Para ela, Dean não existia, pois era um rapaz patético da vizinhança, que ela às vezes cumprimentava como obrigação e até mesmo uma espécie de pena, algo de maternal. Na verdade, sentia algo de perturbador nele, apesar de não saber direito o quê.

Quem Donna gostava usava o apelido de "Sedutor" e estava sempre à espera na internet. Fosse noite, ou dia. Estranhamente parecia saber quando ela estava online, e aparecia dizendo as coisas que ela queria ouvir, elogiava sua beleza de maneira sincera e até um tanto tímida, coisa que a fazia admirá-lo. Abominava cantadas grosseiras, aquelas óbvias e diretas que ouvia de idiotas musculosos ou de jovens executivos imbecis, que pensavam que dinheiro era tudo.

Mas o dinheiro comprara uma bela lambida nas preguinhas suadas de Donna, não? Comprara também um belo par de sapatos com salto agulha, que o velho tirou com cuidado excessivo do pé esquerdo dela, concentrado nisso e, ao mesmo tempo, em suas lambidas cada vez mais agressivas naquele rabinho que lhe foi tão caro. Donna criou coragem e mirou pela primeira vez para trás e abaixo da linha de sua cintura, vendo a figura patética do velho ajoelhado atrás de si com o pau mole, mas com uma expressão libidinosa que assustava no olhar.

Lembrou da infância, de seu próprio avô e sentiu nojo de si mesma. Nojo que ela diminuía pensando no calhamaço de ricas notas grandes que estava em sua bolsa, e também no prazer efêmero da língua que a tocava e molhava de maneira tão íntima. Então viu que ele tinha o sapato na mão, e por um instante bobo lembrou daquela estória infantil da princesa na carruagem de abóbora que perdeu o sapatinho fugindo da meia-noite, e que por meio dele foi encontrada pelo príncipe, que a fez calçá-lo novamente.

Agora ela via a versão erótica da Cinderela. Nada de madrastas além dela mesma, com sua vergonha de ter se vendido por sexo. Nada de príncipes, só aquele velho com o sapato caro na mão. E aí ele, bem, ele esfregou a ponta do salto no buraquinho apertado dela, sorriu com dentes amarelados de nicotina e idade, e empurrou... E Donna apenas fechou os olhos e baixou a cabeça, escondendo-se nos próprios cabelos, mordendo os lábios enquanto aquilo entrava nela.

Dean também mordeu os lábios quando a viu pela primeira vez numa câmera na internet, uma webcam que ela comprou e instalou no computador "pensando nele", como lhe dissera naquele dia. Ele, para se preservar, nunca abriu sua webcam para ela, nem ao menos revelara que também tinha uma. Donna tinha um quarto com paredes claras, imerso em bichos de pelúcia, além de sempre estar vestindo camisetas com estampas infantis, como uma criança grande. Uma linda criança. As conversas entre os dois eram sempre alegres, e eles realmente nunca digitavam nada com segundas intenções para o outro.

Dean riu muito quando ela disse que tinha chamado "um vizinho nerd, desses que mexem com computador" para ajudá-la a instalar a webcam. Mal sabia que ele não só tinha instalado a tal câmera, como também um programa malicioso que capturava cada tecla que ela pressionava. Ele sabia a que horas Donna se conectava e o que digitava para qualquer pessoa. Invadia sua caixa de e-mail, lia todas as mensagens recebidas e depois tornava a marcá-las como não-lidas. Sabia que ela tinha mais amigas mulheres do que homens naquele ambiente virtual e que nunca, nunca mesmo, acessava sites pornográficos. Como o mundo está cada vez mais dependente de internet, ele tinha acesso a praticamente tudo da vida dela, como o diário virtual secreto que mantinha - protegido com a senha "Sedutor", que meigo - e seus trabalhos da faculdade. Invadia de sua casa a pasta de imagens no computador enquanto ela tomava banho e ficava admirando as fotos de sua deusa com a família distante, com o cachorro e o gato de estimação, com a turma de estudos. Sabia o perfume que Donna gostava de encomendar e debitar no cartão de crédito. E Dean também já tinha capturado a senha do banco dela...

— Checou o saldo na sua conta? Depositei um belo incentivo hoje cedo. - o velho disse, e tossiu um som tuberculoso, enquanto calçava novamente aquele maldito sapato caro, cujo salto estava melado com lubrificante e suor, no pé esquerdo dela.

— Sim senhor. Mas eu não quero...

— Shhh. Você é minha. Agora caminhe. - ele resmungou, quase ranzinza, deitado sem suas roupas no chão da suíte.

Donna sentiu-se ridícula, mas equilibrou-se, depositou todo seu peso na sola dos pezinhos delicados, e andou nua por cima do velho, com toda graça que só a prática diária das mulheres permite, pisando com o salto alto e fino no peito dele, na barriga flácida e nas coxas. Ele teve uma leve ereção com a dor provocada pelo salto agulha, além da visão dos lábios vaginais expostos da mocinha depilada. Após algum tempo, pediu que ela descesse, virou-se de costas, e fez um gesto grosseiro com a mão, ordenando que subisse de volta. Foi pisado nas costas e no bumbum magro e pálido. Gemia e falava coisas não obscenas, mas provocativas, sobre quanto ela valia, sobre tê-la comprado e o quanto pagaria em dinheiro vivo logo após gozar nela.

Quantas vezes George tinha pensado nesse momento? Várias e várias vezes. A primeira vez foi quando ela se atrasou numa reunião, e quando chegou pedindo desculpas aos executivos presentes, olhou profundamente para ele, o chefe, que teve uma constrangedora ereção, e sentou-se. Agora, enfim, ela estava ali. Comprada.

"De onde saiu todo esse dinheiro?" - estranhou Dean. Checou todas as contas de e-mail dela procurando alguma pista, mas nada. Nenhuma mulher recebe essa grana assim, do nada. Algo estava errado...

Era a vez de Donna lamber. Tentava engolir, mas era flácido. Não endurecia, e isso deixava o velho irritado. Ele forçava a cabeça dela para baixo, e grunhia, ansioso para que algo acontecesse. Ela sentia nojo de ter que passar seus lábios na carne envelhecida do saco do chefe, nojo dos pelos grisalhos que saltavam em seu rosto. As coxas do velho estavam cheias de marcas do salto, pequenos pontos vermelhos levemente arranhados, onde ela estava apoiada.

Horas mais tarde ela estava outra vez de joelhos, mas agora apoiada no vaso sanitário da suíte, vomitando. Deixou que o velho gozasse algo insosso bem no fundo de sua garganta. Um jato quente de porra, fraco, e ele estava liquidado. Não houve penetração, não conseguiu uma ereção suficiente para enfiar-se nela, mas Donna teve que brincar com o pau amolecido dele por horas! Ele já tinha ido embora, deixando-a sozinha com sua vergonha, com a bolsa entreaberta cheia de dinheiro em cima da cama e com aquela voz tuberculosa martelando comandos em sua mente:

"Chupa, assim. Agora lambe. O saco, isso... ergue o saco e lambe. Mais embaixo. Retribui. Aí, aí mesmo. Enfia a língua nele. Abre. Retribui."

O estômago de Donna embrulhou. E, pela primeira vez, ela percebeu. Tinha gostado. Nunca diria à ninguém, mas tinha gozado também enquanto...

"Lambe o rabo do seu chefe."

Mais e mais vômito. Em jatos fortes, amargos. Ainda estava fresco na memória, sua mão segurando a coxa esquerda dele levantada enquanto ela lambia, e enfiava a língua. Tomou um banho demorado, vestiu-se, e com as roupas sentiu-se outra vez no comando. Por um instante assumiu que tinha gostado da aventura com o chefe, e ainda tinha o dinheiro. Relutante, guardou as notas na bolsa (estranhou o fato dele ter pago com dinheiro vivo, pois antes já tinha depositado outra quantia direto em sua conta) e saiu da suíte em direção à noite e às crises de consciência. Nem percebeu o carro que a seguia pelo trânsito perigoso das avenidas escuras de luzes amareladas de Sistinas.

Sexo grupal, estava escrito na tela do computador e a boca em flor, um "oh!" desabrochando nos lábios de uma loura siliconada na imagem ao lado do texto arregalou os olhos inquietos dele. Dean clicou naquele site, e viu que a mulher seria possuída por dois homens dotados. Poses ensaiadas. Sexo burocrático e leite condensado ao invés de esperma nas fotos. Nada excitante, nada que desviasse seu pensamento: onde estaria Donna?

Aconteceu no primeiro farol. A pick-up preta lhe fechou o caminho e abriu a porta repentinamente, um homem saltou e estilhaçou seu vidro lateral com uma barra de ferro, e ela só teve tempo de gritar na rua deserta. Tomou um puxão nos cabelos, e chorou. Abriu a porta do passageiro para o homem, e a pick-up arrancou. Ela foi obrigada a segui-la, e se revezar entre trocar as marchas e masturbar seu sequestrador.

As imagens iam se sucedendo rápidas na tela dele. Dean, já com a respiração ofegante, via a foto de uma mulher loura vestida de empregada, lambendo gotas de esperma depositadas por um membro negro num prato giratório de forno micro-ondas. A imagem troca para uma ruiva ajoelhada entre dois homens que a banhavam com urina. Outra imagem, agora uma negra engole um pau duro coberto com sorvete.

Entraram mais e mais nas colinas afastadas, seguindo pelas estradas velozes, quase saindo de Sistinas. Donna não parava de chorar, apesar de estar muda de tanto medo. Evitava falar com seu caronista forçado e não o encarava, pois leu em algum lugar que isso os deixa mais agressivos. O homem ao seu lado já tinha gozado nas mãos dela, e respingos de esperma manchavam a alavanca de câmbio. Ela pegou-se pensando em quem era o misterioso homem que dirigia a pick-up preta com vidros igualmente escuros.

"E se for o chefe?", ela pensou, num instante.

Não era, pois assim que parou o carro à beira de uma das muitas estradinhas desertas que saem da cidade, foi um jovem que saiu da pick-up. Donna olhou para o painel, um relógio, só percebeu que já era tarde da madrugada. Não conseguiu raciocinar sobre que horas seriam, esforçava-se para guardar os detalhes que contaria à polícia mais tarde, quando puxaram seus cabelos ainda molhados do banho no motel, e mais outro pau invadiu sua boca naquela noite.

Dean tinha gozado, inquieto. Onde estaria Donna? Sua tela estava dividida em duas partes: numa metade, a foto da loura que engolia um cacete enquanto outro gozava em sua bochecha, e na outra metade uma foto de Donna - que roubou diretamente do computador dela - de biquíni, numa praia distante da escuridão depressiva de Sistinas. Na primeira foto o nível de detalhes era tão alto que dava para enxergar um terceiro homem, o que tirou a foto, refletido no canto do olhar da loura. Já na outra foto, Dean enxergava apenas um sorriso leve e autêntico. Não conseguia olhar para aquele corpo com intenções sexuais, tal era a inocência que via nele.

— Olha como ela me chupa. Essa puta tava querendo... Engole meu pau, vaquinha gulosa!

Donna sendo fodida por trás, e inclinava-se para frente chupando o motorista da pick-up, que estava sentado no banco do motorista. Sempre que tentava enxergar as horas no painel do carro, ele batia o cacete duro no rosto dela. O vento frio da noite fazia seu corpo tremer inteiro, mas não sabia se era apenas a brisa que deixava seus mamilos tão duros e inchados daquele jeito.

— Eu vou gozar, cara. Ela é muito gostosa... - disse o outro, empurrando o cacete como um bate estaca nela.

— Vamos juntos, goza dentro. Aqui ela vai engolir. Vamos enchê-la de porra.

"Lambe o rabo do seu chefe."

— Lambe, engole minhas bolas, putinha.

— Ei, ela não devia tá com medo, apertada, travada? Tá ensopada, meu pau desliza aqui, molhou meu saco todo!

— A vadia gosta, não percebeu?

Donna mantinha-se em silêncio, estava excitada demais para ter medo. Os instintos sempre falam mais alto. Apenas rebolava e chupava. Engolia o pau do homem junto aos seus próprios gemidos, não queria demonstrar tanto assim para os caras que gostava daquilo. Os dois gozaram quase juntos, lavando com porra sua pele e seu útero. Nenhum dos dois estava armado; o que a impediria de sair correndo dali?

Dean desligou o computador, vencido. Ela não viria naquela noite. Foi até a janela, e ficou vigiando, esperando que ela passasse. Onde estaria numa hora daquelas?

Estava sentada no colo do motorista, encaixada no pau dele, enquanto o outro homem afastava suas nádegas e a penetrava onde seu chefe havia beijado e lambido tanto. O velho despertou nela um desejo incontrolável por sexo anal, mas não a saciara. Agora ela gritava, ardia, chorava e sentia-se rasgada. Os movimentos ritmados dos homens dentro dela fez com que gozasse várias e várias vezes.

Dean não conseguia dormir. Não desgrudava o olhar da janela. Onde?

Donna acordou com o sol nascente, nua, e com o carro aberto, cheirando a sexo. Tinha sido forçada a beber algo, foi dopada. A pick-up desaparecera. Checou rapidamente suas roupas, joias. O celular. Estava tudo ali, tudo normal, exceto...

— A bolsa! Aqueles viados levaram meu dinheiro!

O chefe estava sorridente naquela manhã. Mesmo quando ela telefonou dizendo que não ia trabalhar, ele sorriu.

Dean não estava sorrindo. Percebeu o vidro do carro de sua musa quebrado, sinal claro de que algo acontecera, pois ela chegou de manhã em casa, descabelada e perdida. Dormiu a manhã inteira, e só ao entardecer ligou o computador. Então ele a invadiu, tendo certeza que descobriria tudo. A grana. A noitada fora. Tudo.

Ela digitou uma frase perturbadora no diário virtual; que algo degradante (palavras dela) havia acontecido na madrugada. Mas não escreveu mais nada. Na verdade, não escreveu para ninguém. Não respondeu e-mails, nada. Dean, que tinha faro naquele mundo virtual, preferiu evitar contato. Mais tarde tentaria, mas quando seu pseudônimo "Sedutor" acessou, mesmo assim ela permaneceu quieta. Não contou nada a ele, aumentando mais ainda a curiosidade. Depois de uma conversa monossilábica, ele decidiu segui-la durante o dia.

Donna entrou na sala dele sentindo-se desconfortável pela primeira vez. Ele tinha chamado, um comando. Lembrou-se do "Agora lambe". Sentou-se defronte à mesa imponente, nervosa. As mãos tremiam, pousadas no colo.

— Eu quero lhe apresentar meu sucessor nos negócios da empresa. Você será a secretária particular dele, assim como já foi para mim.

Então era aquilo. Ela relaxou, quase soltou um longo suspiro aliviado. Ele estava saindo, e ela ficaria em paz. Já tinha decidido que se demitiria caso acontecessem outras propostas financeiras em troca de favores sexuais.

— Queria apresentá-lo ontem, mas como você faltou, ficou para hoje. - ele disse, a voz mais velha que nunca, mas com indisfarçável tom de deboche. George deu a volta na mesa, e sentou-se como uma criança rebelde na beirada, bem perto dela. Quando ergueu a perna para se apoiar, Donna lembrou-se de quando ela mesma tinha erguido e separado as coxas dele e...

"Lambe o rabo do seu chefe."

— Conheça meu filho, que também se chama George. - ele apontou para a porta, então ergueu a voz e chamou - Junior, entre!

Ela permaneceu de costas para a porta; um milésimo de segundo no qual sua alma perguntou se o velho tinha contado ao filho sobre o encontro sexual dos dois. Se ele tinha dito ao próprio filho que ela tinha um preço, caro. Que ela lambia com a mesma vontade e tesão com que se deixava lamber. Então respirou fundo, afastando os pensamentos, e levou um choque.

Era ele! O da pick-up! E sorria, mostrando os dentes com mais fúria e posse do que amizade. Donna engasgou.

— Sim, acho que vocês já se conhecem, não Donna? - riu o George pai.

— É sempre um prazer conhecer as propriedades do meu pai. As que vou herdar, principalmente. Isso me deixa... excitado!

— Que grosseiro, meu filho. Não é assim que se trata a moça. Use um pouco mais de requinte, aprenda com seu velho aqui. Sirva algo a ela, pois acho que sua futura secretária vai desmaiar!

Donna começou a chorar, um misto de ódio e impotência rompendo seu peito. Levantou-se num repente, e correu para a porta. Trancada, pois o tal Junior havia passado a chave, que agora girava tranquilamente nos dedos.

— Sente-se, senhorita. Está entre amigos.

— Eu quero ir embora... - foi só o que ela conseguiu dizer, baixinho.

— Não, não vai. Será nossa secretária... particular.

— Eu vou denunciar vocês.

— Baseada em quê?

— Você, velho, me subornou. - ela chorava, escolhendo as palavras - E seu filho me estuprou e assaltou!

Junior e seu pai sorriram, gargalhadas.

— Eu te comprei, e você se vendeu. E o que meu filho roubou de volta foi meu dinheiro, uma enorme quantia, aliás. Eu me excito pagando, quanto mais caro a prostituta, mais excitante se torna. As que "não tem preço" são as melhores, e vou te contar um grande segredo: são essas que dizem "não ter preço" que cobram mais barato!

— E eu me excito pegando à força. E apenas peguei de volta o dinheiro do meu pai, que também é meu. A situação é a seguinte: você não vai nos denunciar, pois somos influentes. Você não é a única pessoa que se vende a nós, não pai? - sorriu Junior.

— E mesmo que seja louca o suficiente, o que vai dizer que roubaram? O dinheiro que você aceitou de mim? Virão me perguntar o motivo de eu ter dado tamanha quantia a você, o que acha que responderei?

— Abra a porta. Eu quero ir embora. Não denunciarei ninguém, mas me deixem ir... - ela se rendeu.

— Pare de choramingar, pare de falar, apenas aceite o inevitável. Sua língua não é muito afiada, mas é molhada e gostosa como eu gosto - disse o velho - Você experimentou, Junior? Gozou nessa língua vermelha, nada áspera, como de uma criança?

— Sim, pai. Mas vamos deixá-la ir por agora. Eu gosto à força, poderia pegá-la aqui, novamente, nesse instante. Mas não, quero outras sensações. Ela vai voltar, como uma cadelinha obediente, amanhã. E vai trabalhar como se nada tivesse acontecido, até que eu a chame, puxando-a pela coleira, não é mesmo senhorita?

Donna assentiu mesmo sem concordar, queria apenas sair dali, estava envergonhada demais até para erguer o olhar. Junior abriu a porta, e ela passou, fugindo da empresa, mas será que conseguiria fugir de si mesma?

Dean a seguiu em seu carro, mas pelo jeito afobado dela sabia que iria para casa. Ela parecia transtornada, e chorou em pleno trânsito. Ele se corroía de curiosidade, queria muito saber o que tinha acontecido, e agora tinha certeza que alguém da empresa estava envolvido naquele drama. Entrou em casa, após certificar-se de que ela também tinha feito o mesmo, ligou o computador e deixou o "Sedutor" online. Ela não demorou a aparecer na tela dele...

— O que houve? Você está estranha.

— Você é meu único amigo, sabia?

— Conte sempre comigo, você sabe disso não é?

— Sim, eu sei. É que passei por... maus bocados.

— Me conte, eu posso te ajudar.

— Pode?

— Posso.

— Não, não pode. Ninguém pode.

— Desabafar ajuda.

O outro lado não escreveu nada de volta. Por cinco longos minutos.

— Continua aí? - ele digitou várias vezes, impaciente - Fale comigo.

— Eu estou bêbada. - ela respondeu, enfim.

— Por quê? O que houve?

— Eu fui estuprada ontem.

Foi a vez dele não digitar nada.

— Fale comigo, Sedutor.

— Já deu queixa na polícia?

— Não. Não posso.

— Pode sim. Faça isso, lá eles vão te ajudar e...

— Eu gostei, porra! Não entende? E isso está acabando comigo! - ela confessou, ríspida.

Dean não podia acreditar! Incrédulo, abriu novamente duas fotos no seu computador, a dela de biquíni e outra de uma morena sendo currada. Comparou os dois rostos, mas não combinavam. Tentou visualizar sua musa gemendo, rebolando enquanto um bronco qualquer bufava palavrões nela. Não conseguia imaginar.

— Eu, eu gostei. E eu também fiz outras coisas. Antes.

Tinha mais? Dean ficou quieto, nem sabia o que digitar. "Vadia."

— Foi meu chefe. - ela escreveu, e os olhos dele queimaram de ódio lendo a tela - Me deu dinheiro e eu aceitei. Foi quando perdi minha alma, sabe? Me vendi. Já passou por isso, Sedutor?

Ele não digitou nada.

— Você deve estar decepcionado comigo, mas agora que comecei a falar, não posso parar. Preciso dividir isso com alguém, e você é perfeito para isso. É meu amigo, meu único amigo desinteressado. E, além disso, é um estranho da internet com quem nunca terei contato. Por isso posso contar tudo. - confessou Donna, mal sabendo que teclava com um vizinho que podia enxergá-la caminhando pela sala quando afastava a cortina da janela.

Dean agora estava procurando o clorofórmio. Ensandecido. Queria que o chat parasse, mas continuava:

— Receber dinheiro pra fazer sexo me excitou, confesso. Droga, só bêbada mesmo pra dizer essas coisas tão íntimas... Depois fui estuprada, e também achei aquilo excitante, apesar de ter perdido a grana que ganhei. Mas, não era a grana, entende? Eu não preciso de dinheiro. Era só a quantificação do meu corpo, uma tentativa de transformar em valores quanto meu corpo vale. E eu fiquei lisonjeada com a quantia! Ainda está aí, Sedutor?

Dean respondeu um "sim", bem seco. Bem internet. Frio, impessoal, mas com aquele toque dúbio de interesse.

— Mas depois descobri que o estuprador era o filho dele, e que fui usada... Isso me machucou mais do que, sei lá... sexo anal! Enquanto era apenas uma fantasia, tanto minha quanto do meu chefe, eu gostei da ideia. Mas depois, vendo os dois rindo, sabe? Me senti a pior das mulheres, humilhada. Você falou em contar à polícia, mas não posso fazer nada a respeito disso. Eles são poderosos, influentes, e compram as pessoas, assim como fizeram comigo. Não me comprarão nunca mais, mas a merda já está feita.

Ele abotoava a jaqueta enquanto lia, e calçava as luvas.

Donna ainda vestia seu modelito secretária, menos o sapato (aquele salto agulha caro, presente do chefe), pisando descalça pela casa. Vez ou outra massageava os pés sentada na cadeira do computador, e flexionava os dedos, bebendo outro gole da garrafa quase vazia. Tentava afogar as risadas de George pai e filho, mas não conseguia. Elas ressoavam altas, debochadas, zombeteiras. Para não enlouquecer de vez, estava desabafando com seu amigo de internet, mas ele parecia chocado do outro lado, pois respondeu de maneira reticente nos últimos quinze minutos. Ela não se importava, confiava nele. Confiava mais ainda na distância entre os dois. Não conhecia a pessoa, nunca tivera curiosidade nenhuma a respeito dele, nunca quis saber da aparência, nada. Quis apenas uma amizade sincera. E ele era um ótimo amigo, ou pelo menos era capaz de escrever sempre o que ela gostava de ler.

— Sedutor? Espere um minuto que estão batendo na minha porta. Vi pelo olho mágico que é aquele nerd vizinho meu. Não sei o que ele quer, mas se demorar você me espera, ok?

Ela abriu a porta para Dean, e sentiu o forte cheiro de clorofórmio. Ele a derrubou no chão, caindo por cima, sufocando-a com o pano embebido. Ela soube, naquele instante, quem era o Sedutor. Debateu-se, surpresa pelo tal nerd ser tão forte, e enfim desmaiou. Ele a amarrou, e sentou-se no computador. Apagou sistematicamente todas suas pistas, todos os e-mails trocados, todos os traços de que eles um dia tiveram contato, esvaziou históricos e conversas armazenadas. Olhando para Donna caída, quase sentiu pena, mas já tinha ido longe demais. Meses investidos numa mulher que ele julgava ter moral. Mas veio sua degradação, e agora sentia nojo. Ódio também, por ser traído, enganado pela face de anjo. Pegou o sapato com salto agulha caído no chão, e decidiu que era hora de trabalhar nela. Donna não entraria na internet naquela noite, e nem em outras, nunca mais!

George, o filho, checava regularmente seu e-mail. A internet nunca parava, bem como as oportunidades de bons negócios para sua empresa. Estranhou quando abriu sua caixa postal e achou a mensagem dela, postada poucos minutos antes: "Venha até minha casa, a porta estará aberta pra você. Sei que você também gosta das obedientes. O endereço é..."

Ele chegou lá em menos de uma hora. Girou a maçaneta, e entrou. Porta aberta mesmo, convidativa, e a sala mergulhada na penumbra, apenas uma luz azulada que vinha do monitor ligado. Estava tudo tão silencioso, exceto pelo barulho suave do computador. Tropeçou num sapato, e quando se abaixou para pegá-lo teve um péssimo pressentimento. Não tinha certeza no escuro, mas o salto parecia coberto de sangue. Duvidou e quis ir até a cozinha, o único lugar realmente iluminado da casa.

Não deveria ter entrado lá. Enfim achou Donna, em cima da mesa, nua. Abaixada numa posição grotesca, como aqueles leitões dos desenhos animados, até mesmo uma maçã na boca tinha! Era o prato principal de um banquete, mas para quem? George sentiu o chão faltar, um pânico enlouquecedor, e o sapato caiu de sua mão quando percebeu as diversas marcas na testa, como se alguém tivesse martelado aquele salto várias vezes na fronte dela, até furar o buraco por onde o sangue vazava. Uma visão horrível daquele rosto tão lindo, puro e exatamente por isso sedutor, agora avermelhado, a boca dolorosamente aberta para encaixar a maçã, em contraste com os olhos fechados, e fechados para sempre.

O Sedutor estava longe naquela hora. Deixou para trás mais um corpo e a polícia que se virasse para descobrir quem era o assassino. Tinha incriminado o homem que possuíra sua musa, mas se ele fosse esperto e tão influente assim conseguiria safar-se na boa. E as autoridades seguiriam procurando o "vampiro virtual", como fora batizado: três vítimas somente em Sistinas.

Já tinha engatilhado uma nova menina na internet, sabia alguma coisa a respeito de Ashleigh graças aos perfis virtuais onde ela se expunha aos poucos. Tinha o celular, por exemplo, e ele podia fazer milagres tendo apenas posse daquele número. Viu fotos dela com os amigos, e investigando esses mesmos amigos descobriu lugares onde ela frequentava, as baladas. Não demorou nem cinco minutos para saber onde trabalhava. Depois ligou se passando por cliente, e agora sabia também como era sua voz.

Alugou uma casa na vizinhança dela, e durante a madrugada entrou em contato via internet. Estava preparando seus métodos de invasão quando a simpática Ashleigh mandou-lhe uma mensagem:

— Oi Sedutor. Gostei do seu pseudônimo. Vamos conversar?

Dean sorriu, e começou a digitar...


Comentários do autor

"Conectados" foi escrito em 08.12.04 e entrou em meu primeiro livro. É um conto extremamente sexista, então mantive intacta a verve crua que imprimia naqueles tempos.


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