Sistinas
O beijo negro - Parte 2
#42

O beijo negro - Parte 2

Valerie tinha acabado de assistir ao noticiário sobre a morte de mais um proeminente cidadão, um ricaço, encontrado sem fígado nem sangue. Lembrou das palavras da sua última vítima, o também ricaço da jogatina, que falou sobre a primeira morte, a do barão do tabaco: "Seu ânus estava totalmente lacerado. Somos hedonistas, todos... Então, sabe, pensei em sexo. Ele poderia ter um amante e ter sido estuprado, algo do tipo. Ninguém de nosso círculo estranharia."

O noticiário não mostraria essa evidência, mas Valerie tinha certeza que esse novo cadáver também teve seu ânus violado. Sabia que esses homens mortos todos faziam parte de um clube hedonista. E deviam ser poucos, já que círculo - "Ninguém de nosso círculo estranharia" - dava a entender isso. Quantos ainda estariam vivos, e por que dois morreram de maneira tão violenta, boiando nas águas límpidas de Sistinas? Que tipo de criatura faria isso? Provavelmente um vampiro assim como ela, já que a maciça perda de sangue apontava para esse caminho.

"Sangue. Eu preciso desse misterioso vampiro. Desde a morte do Spot ando me sentindo meio desprotegida. Um novo ataque de Sammael me partiria ao meio. Preciso fortalecer meu sangue e estar pronta para o confronto com o demônio."


Rubicante puxava pela memória para tentar lembrar o nome do restaurante que Ciriatto visitou na noite em que morreu. Sua péssima memória apenas se recordou que lá serviam sushi em cima de mulher pelada, como disse seu falecido amigo. Procurou por um restaurante que servisse esse tipo de coisa e não foi difícil achar o "Segredos do oriente", já que o nyotaimori é extremamente raro e poucos lugares o oferecem. A arte do nyotaimori acompanha as gueixas há tempos, mas ainda hoje relacionam esse tipo de ritual com a Yakuza e o crime organizado.

Ao cair da noite, Rubicante entrava no "Segredos do oriente", sozinho. Chamou Draghinaz, mas esse declinou elegantemente ao convite do ruivo alegando que preferia comparecer ao salão do automóvel que acontecia na cidade.

— Yokoso. - lhe disse o velho, ainda na porta.

— Sim, claro, obrigado. - Rubicante instalou-se rapidamente, olhando demoradamente para as três moças que estavam atrás do balcão. Nas paredes, as fotos dos banquetes nyotaimori abriram tanto seu apetite quanto sua libido.

— Nyotaimori. Muito bom. - disse o itamae, atrás dele - Creio que vai querer experimentar.

— Sim, sim... mas antes, um grande amigo meu esteve aqui ontem, pode ser que você se lembre dele: bastante gordo, desarrumado, talvez um tanto grosseiro, mas com a carteira recheada de cartões de crédito... Está lembrado?

— Entram muitos clientes aqui por sermos exclusivos, senhor. Não me lembro de ninguém específico.

— Tudo bem, sem problemas. Nyotai... o que mesmo? Vou querer, posso escolher a garota entre aquelas três ali, é isso? - Rubicante apontou um dedo lascivo para as mulheres do balcão.

— Não, apenas Naoko. É preciso ser virgem. - respondeu o velho.

— Hahahaha, ótimo! Uma virgem! Nem mesmo eu pensaria em algo assim. Ah, vocês japoneses são cheios de surpresas.

— Sim, somos mesmo. - sorriu de volta o japonês - Naoko, vá se preparar.

Somente quando ouviu seu nome a japonesa ergueu a cabeça, olhando enigmaticamente para o freguês, como que agradecendo, e sumiu para se aprontar e servir ao ritual.

— Peço agora que volte mais tarde. São necessárias horas para a preparação correta. Mas o prazer de comer diretamente do corpo de uma virgem compensará cada minuto esperado. Como gueixa, ela será totalmente submissa ao seu entretenimento.

— Ela é virgem mesmo?

— Sim, você comerá diretamente da pele dela, então é preciso que seja totalmente pura. É a tradição.

— E ela estará nua mesmo? Espero que não esteja com uma tanga e enrolada em plástico fino. E nada de pétalas de flores nos peitos, eu adoro mamilos.

— Essa coisa de plástico fino foram suas próprias leis de higiene que obrigaram. Mas aqui eu sirvo o verdadeiro nyotaimori, não as cópias baratas que existem por aí. Naoko estará completamente nua.

— Hum, interessante mesmo. Pena que meu amigo não esteja mais entre nós para apreciar essa arte. - falou o ruivo, sem perceber o olhar irônico do velho naquele momento - Se bem que, conhecendo-o como eu conhecia, ele estaria mais preocupado com a comida apenas. Voltarei mais tarde, e apreciarei o nyotaimori.

— Não se arrependerá. O sushi que sirvo deve ser um prazer tanto pra vista quanto para o paladar. Só devo lhe adiantar que esse serviço é um pouco... caro.

— Dinheiro nunca foi meu problema. Até mais tarde.

Lá dentro, alheia a tudo, Naoko depilava-se cuidadosamente, menos a vagina, onde fez um corte artístico. Dentro de algumas horas aquele homem estaria pagando muito bem ao estabelecimento que a acolheu quando fugiu do Japão. Em troca, ela ficaria parada, e o homem comeria peixe cru diretamente de seus seios, estômago, púbis e pernas. Muito justo. Apesar de ter sido expulsa de sua aldeia natal, Naoko não era má. Mesmo agora, nessa terra tão estranha, ela só se alimentava quando estranhos faltavam com respeito a ela, às suas amigas ou ao velho itamae. Nessas ocasiões ela era cruel ao extremo. Na terra do Sol nascente os aldeões lhe deviam respeito, jogavam pepinos para ela na esperança de serem poupados. Naoko adorava pepinos, mas ultimamente isso não aplacava tanto sua sede de sangue. O velho itamae sabia das coisas, sabia o que Naoko era desde a noite em que a encontrou na porta, com fome e perdida. Fez um trato com ela, já que suas duas filhas - Mitsuko e Mayumi - não eram mais virgens.

Um bom tempo já tinha se passado desde então. Naoko agora banhava sua pele numa essência com cheiro suave de sopa, pensando no treinamento recebido para ser gueixa nyotaimori. Ficar imóvel por horas já era fácil para ela, que fora treinada pelo velho desde sua adoção. "Yoko ni narinasai!" ele gritava para que ela se deitasse ao chão, e colocava alguns ovos em locais estratégicos em cima do corpo dela. Se qualquer um dos ovos se mexesse, era preciso recomeçar. Ficava nessa condição por horas, e em alguns intervalos o velho deixava cair cubos de gelo para testar a resistência dela. Claro que algumas coisas o treinamento não previa: noites atrás um imbecil de cabelo despenteado tentou manipular o clitóris dela com o hashi... Pobre coitado.

Esfregando a bolsa de ervas envoltas em linho - "nukabukuro" - no corpo para remover toda a pele morta, Naoko só pensava em sangue. Estava saciada no momento, mas ainda assim ansiava pelo líquido vital molhando sua língua, irrigando sua garganta ressecada. Queria mais, queria dar seu beijo negro àquela cidade, espalhar sua carícia mortal pela noite, era para isso que uma criatura como ela vivia. Talvez fosse o aroma libidinoso de Sistinas que agora causava nela tanta ansiedade... Pela primeira vez passou por sua cabeça a ideia de que podia sair dali sem se rebelar contra o velho que lhe deu abrigo.

Sorrindo, ela entrou num banho de água quase fervente, outra etapa antes do nyotaimori. Mitsuko e Mayumi já preparavam o aposento onde Rubicante se encontraria com Naoko: um local com pinturas nas paredes, poucas plantas e apenas um vaso como adorno. A suave iluminação era pensada principalmente para destacar o corpo da gueixa, que ficaria no centro do aposento. Naoko saiu da fervura e esfregava novamente a pele com uma esponja macia. Alguns minutos antes do ritual ela se banharia novamente, mas dessa vez em água bem fria, para reduzir a transpiração.


O ruivo adentra o restaurante "Segredos do oriente" com o celular na mão:

— Venha logo. Já lhe dei o endereço. Você é o ginecologista da família, significa que confio em você. Pensa que a vida é um mar de rosas, que é só ficar olhando entre as pernas das minhas filhas? Ok, te espero, não demore!

— Teremos um convidado, então? - perguntou o dono do restaurante.

— Sim, eu esperarei por ele. Agora, onde está a virgem?

A entonação da pergunta não agradou ao velho.

— Está se banhando nesse momento. Quando seu convidado chegar, adentraremos o aposento que preparamos para a degustação. Eu servirei instantes depois, afinal o sushi é mais saboroso se servido imediatamente após o preparo.

O médico chegou uns quinze minutos depois, esbaforido. Não acreditava ainda que estava ali para atestar a virgindade de uma gueixa para seu cliente. Reunidos enfim, foram conduzidos pela sorridente Mitsuko até o ambiente do nyotaimori, que está um pouco mais frio que o resto da casa para que a gueixa não sue. Os homens se ajeitaram em seus lugares e então Naoko entrou, deslumbrante em sua nudez. Seu único aroma era o da própria pele, já que ela não podia usar nada de creme ou perfume para não afetar o sabor do sushi. Os lábios vaginais fechados, lembrando pétalas sobrepostas, definitivamente mexeram com Rubicante. Ele queria aquela pequena, e queria muito.

Ela se deitou delicadamente entre os dois homens, no centro exato do aposento. Depois disso, Mayumi entra com a bandeja de sushi, colocando tudo por sobre a gueixa rapidamente, com uma destreza fora do comum. Ela demonstra muita prática na distribuição do sushi, tomando cuidado para não "esconder" demais o corpo de Naoko, mas também dispõe tudo de maneira agradável, deixando um deleite de cenário para os olhos dos homens e se retirando em seguida. Entra o velho logo na sequência:

— Senhores, aqui está o melhor sushi de Sistinas, servido na virgem Naoko. Antes de começarem, só quero deixar bem claras algumas regras, sim?

Rubicante torceu uma careta desdenhosa, mas fez um gesto para o japonês prosseguir.

— Não fale com Naoko, e não fale sobre ela, sobre seu corpo, nada do tipo. Tenham respeito por ela, que também respeita vocês. E a única coisa que deve tocar a pele de Naoko é o hashi.

O ruivo e seu amigo se entreolharam, pensando em quantas regras mais ainda teria que seguir.

— São poucas regras, não? Na verdade, é apenas bom senso. Divirtam-se. - o itamae se virou para deixar o aposento, mas Rubicante não o deixou ir.

— Espere. Tenho algo a lhe propor.

— Sim?

— Aqui trouxe um ginecologista. Ele atestará a virgindade de sua gueixa.

— Não será necessário, a menina é virgem.

— Então eu pago pela virgindade dela.

— Não é algo que esteja à venda. Sabe como é raro achar uma virgem nos dias de hoje?

— É por isso que eu quero trepar com ela! E pago um valor considerável por esse privilégio.

— Já disse não, senhor. Ela é a razão de ser da casa. Se não for mais virgem, não terá mais nyotaimori.

— Ok, vamos colocar da seguinte maneira: você pode aceitar a quantia generosa que vou lhe pagar pra trepar com essa japonesa sem graça. Se não aceitar, mando meus homens estuprá-la depois que sair daqui. E seu negócio perderá a preciosa virgem... Vai ser do meu jeito, de qualquer maneira, mas eu prefiro pagar.

Naoko permanecia firme em seu lugar, impassível, parecia que não estavam falando de sua vagina.

— Quantos zeros terá nesse cheque?

— Muitos. Já lhe disse antes que isso não é problema.

— Senhor, dizer que a menina é virgem não significa muita coisa. - disse o ginecologista, enfim - Ela pode ser praticante de sexo anal, por exemplo. É muito comum em quem, por alguma razão, não quer ou não pode romper o hímen.

Nenhum dos três homens percebeu que a gueixa molhou os lábios quando ouviu a expressão "sexo anal".

— Que seja. É justamente o hímen dela que quero romper. Nas pregas penso depois, se ainda tiver energia pra tanto. - Rubicante nem ao menos olhava para Naoko enquanto discutia, preferindo observar as reações do velho que a vendera. O ginecologista levantou-se e fez um sinal de que ia embora.

— Eu lhe asseguro que Naoko é virgem. - disse o japonês, com firmeza.

— E eu acredito no senhor. Tanto que nem pedirei ao meu amigo que a examine. Agora me diga sim logo e saiam os dois daqui, pois pra mim o ato de negociar já é quase um orgasmo. Preciso gozar urgentemente!

O velho acenou um sim desanimado com a cabeça, e cruzou um olhar muito estranho para a gueixa, que só agora parecia atentar ao que acontecia a seu redor. Permaneceu imóvel quando os homens saíram, deixando-a sozinha com o ruivo.

— Seria um desperdício não degustar desse sushi. Fique quietinha, que depois será sua vez. - dizendo isso, Rubicante se fartou com a refeição, só atrapalhada por sua ereção que insistia em ser liberta das calças.

— Levante-se, quero te ver por inteira.

Naoko põe-se de pé, e vai lentamente girando na frente do homem.

— Você não tem bunda nem peitos, apesar de ter algo muito atraente aí entre as coxas... O que sabe fazer com a boca? Já chupou algo desse tamanho aqui? - ele tira o membro pra fora, apontando-o para ela como uma espada triunfante.

A gueixa nyotaimori ajoelha-se em frente ao ruivo de maneira mecânica, sem demonstrar vontade alguma. Então abaixa a cabeça, num misto bem ensaiado de timidez e submissão, e beija levemente o pau, que lateja ao sentir o contato dos lábios.

— Eu gosto mais forte. - ele força a cabeça dela, enterrando. Ela resmunga algo de boca cheia, que ele entende como "eu também."

— Então você fala? E é uma voz doce como a de uma criança... - ele diz, a voz já embargada de tesão - Deite-se aqui, eu quero te foder. Enchi o rabo do seu patrão de dinheiro, depois quero encher o seu de porra. Isso, assim, abre bastante as pernas pra receber com gosto... - praticamente salivando, Rubicante ajudou a gueixa a se posicionar deitada. Então subiu nela apressado, com medo de perder a ereção e não a recuperar tão cedo, criando uma cena meio desproporcional da japonesinha deitada recebendo por cima de si aquele velho ruivo, grande e afobado. O corpo dela sumiu, totalmente coberto pelo dele.

Naoko se comportava como uma boneca, deixando-se levar. Colocou as mãos nos ombros de seu comprador, mas quase sem o tocar direito. Rubicante não via problema nesse detalhe, já que gostava de todos os tipos de mulheres, fossem ativas ou passivas como aquela menina. Só pensava em seu membro e em gozar. Impaciente, tentava se enfiar nela, mas a virgindade realmente o atrapalhava. Nem precisava ter chamado seu amigo ginecologista, o hímen da menina estava ali e era bem resistente. Tão resistente que o velho foi se irritando aos poucos sem conseguir rompê-lo:

— Abre as pernas direito, seu peixe morto! Quero entrar aí, torça pra ele não amolecer agora! Se eu não tirar sua virgindade aqui, vai perdê-la com meus homens mais tarde, e não será assim tão agradável, pode ter certeza. Eles não são gentis.

A gueixa, sem emoção aparente, enlaçou a cintura dele com as pernas, abrindo-se o máximo que seu corpo permitia. O membro do velho custava a entrar. Se aquilo doía nela ou não, era difícil saber. O olhar de Naoko não deixava transparecer nada, e sua boca não se abria.

— Você está muito seca! - com visível dificuldade, Rubicante se ergueu e deu uma série de cuspidas certeiras nos lábios vaginais entreabertos da gueixa. Então montou novamente, esfregando o pau freneticamente onde cuspira para não deixar seu próprio fogo apagar. O contato dos lábios umedecidos com o membro lhe dava prazer, então ele forçava, forçava até que conseguiu romper o hímen. As mãos macias de Naoko permaneceram pousadas em seus ombros o tempo todo, sem se agarrar a ele, sem alteração alguma, nem mesmo quando ele gritou uma gargalhada, enfiando tudo.

— Acaba de perder sua preciosa virgindade, menina! Agora me faz gozar, vê se mexe essa cintura pra entrar mais. - Rubicante sabia o porquê gostava tanto de sexo. Esse suor, essa batalha contra uma mulher, essa coisa toda o rejuvenescia. Fosse uma mulher mais velha, experiente, que sabia fazer tudo na cama, ou uma menina inexperiente, mas de carnes durinhas. Sexo o mantinha vivo! Tirar a virgindade de moçoilas era um de seus maiores prazeres, tinha a impressão de criar um laço importante com elas, ser um homem importante (amado ou odiado, dependia de como as tratava) na vida delas. Por toda a vida sexual delas, principalmente.

Pensava nisso enquanto a gueixa se mexia mecanicamente embaixo dele. Aquela japonesa não tinha vida sexual feliz, ele imaginava. Era sem graça, seu corpo era bem feito, mas sem nada marcante. Não tinha nada de especial. E agora nem virgem era mais, acabara seu último atrativo...

Rubicante tinha orgulho de ter vida sexual ativa, e de ter condições de transar e aproveitar ainda. Sabia controlar seu próprio gozo, prolongando um tempo precioso para permanecer onde mais gostava de estar: dentro de uma xana encharcada. Mas aquela japonesa lhe passava era um certo desconforto. A vagina dela não lhe dava prazer, pelo contrário, parecia um terreno estéril. Não que não fosse gostoso estar ali, mas era estranho. Quando sentiu vontade de gozar nem fez questão de segurar.

A gueixa sentiu que o ruivo estava se derretendo nela. Imóvel da cintura para cima, os sentidos dela trabalhavam as sensações: a visão do teto - onde as feições suadas do velho por vezes se intrometia, em seu movimento irritante de vaivém - a audição levava os gemidos débeis dele para seu cérebro; o olfato percebia o elegante aroma francês que mascarava o suor do homem; o tato sentia o sangue que mantinha o membro latejando dentro dela. Sangue! Seu paladar agora ansiava por sangue, sua boca se abriu pela primeira vez e sua língua serpenteou para fora.

Rubicante - pensando que tinha enfim quebrado o gelo da gueixa - gozou gritando, banhado em suor. Nem percebeu que a língua de Naoko não era normal. Cansado, mas satisfeito, ele tombou para o lado, liberando seu peso todo de cima da menina.

— Sabia que você era gostosa. - ele comentou, depois de alguns minutos se recompondo - Venha cá, molha meu cacete que eu quero de novo. Deixa ele bem duro pra meter em você.

Obediente, a gueixa engatinhou rapidamente e se posicionou entre as pernas flácidas dele. O contato com aquela pele áspera não era agradável. Encostou os lábios no membro ainda melado e lambeu, limpando tudo. Então engoliu a cabeça arroxeada e desceu firme, engolindo o resto. Mole como estava, coube todo em sua boca, onde aos poucos foi enrijecendo. Rubicante se deliciava com aqueles lábios sedosos e a estranha textura da língua dela. Sentia o roçar dos cabelos negros e compridos em suas coxas, como seda percorrendo sua pele tão curtida. Agora ela lambia a extensão do pau, descendo até o saco, e subindo novamente. Engoliu rapidamente Rubicante algumas vezes, até ele ter outra ereção.

— Você é boa. Me diga, criança, é verdade o que meu amigo disse antes; que você, para saciar seus desejos e permanecer virgem, pratica sexo anal?

Naoko mirou pela primeira vez diretamente os olhos de Rubicante, a língua viperina deslizando na glande inchada dele, e disparou:

— Quer saber o que sei fazer?

O ruivo não soube explicar que olhar era aquele, nem que tipo de mulher (adulta ou juvenil?) teria aquela entonação de voz, mas respondeu "sim", em meio a um enorme sorriso.


Valerie deixa o elevador de maneira desconfiada e se esgueira pelo corredor. Está na cobertura agora. Admira a obra dos humanos, o edifício envidraçado que dá vista para quase toda Sistinas e seu templo hedonista ao topo. Imagina que o prédio só perca para o Algol em altura, mas esbanja em modernidade e requinte. Antes de chegar ao final do corredor sente o cheiro de uma mulher. Mudando de postura, ela vai caminhando de maneira confiante, até o final e vira à direita.

Palácios pelo mundo não tinham o luxo minimalista que ela via ali, no acabamento, iluminação, tudo. Ao fundo, uma mulher vestida com saia, meia e salto, mas nua da cintura pra cima, exceto por uma gravata que lhe pende entre os seios bonitos, está parada à porta, com pose afetada de anfitriã da ante-sala dos prazeres. A gravata é tão rosácea quanto seus mamilos. Seus lábios de uma tonalidade vermelha sem exageros falam:

— Como chegou até aqui?

— Quebrei um braço ou dois pra isso.

Os olhos da mulher percorrem toda a vampira, incrédulos, tentando decifrá-la.

— Eu não me referi aos meus, claro. - Valerie complementou, sarcástica, para o espanto da outra - Agora quero que me conte sobre os distintos senhores que se encontram atrás dessa porta que você guarda tão bem.

— Aqui é o clube Malebranche. Propriedade privativa. Não pode entrar aqui, muito menos fazer perguntas.

— Em quantos eles são? Sei que ao menos três estão mortos. Não me teste, menina. Sei bastante sobre eles e minha paciência tem limite.

— Cinco. Mas hoje nenhum deles virá aqui.

— Mas você vai me dizer como achá-los, claro.

— E se eu não fizer isso?

— Ah, mas você fará... se não for gemendo será gritando. - retrucou Valerie, olhando ameaçadora para a mulher - Lembre-se que passei pelos seguranças lá embaixo e agora tenho a noite toda pra brincar com esses seios lindos que você tem. Olhando daqui parecem tão macios...


Rubicante estava extasiado. Outras mulheres já tinham lambido seu rabo, claro, mas a japonesa parecia ter uma língua mágica! O ruivo estava de quatro enquanto ela, também de quatro e posicionada atrás das nádegas abertas dele, já tinha molhado todo seu saco e agora lambia para cima, umedecendo o períneo, a pele sensível entre o escroto e o ânus do homem.

Naoko não deixa de admirar Rubicante. Era um velho depravado, parecia já ter sentido tudo relacionado a sexo. Já tinha reparado isso durante o nyotaimori, pois todos os homens geralmente ficam nervosos, tímidos, até se soltarem e degustarem o sushi. O ruivo não, ele demonstrou muita experiência, e comeu sem se perturbar. Agora ele gemia como uma criança, quase ofegante, sentindo aquela língua áspera em suas pregas, mal sabendo que Naoko retira por ali todo o sangue. A japonesa também admira que ele não teve problemas com sua próstata, pois é justamente mexendo nela (e a dele estava intacta) que a gueixa relaxa os homens, antes de secá-los por completo. Ela, na maioria das vezes, masturba o homem enquanto sua língua trabalha. Mas com Rubicante não foi nem preciso tocar seu membro. Assim que ela acariciou seu ânus pela primeira vez, o velho soltou um jato de esperma digno de filme pornô, segurando-se firme para não desabar. Gritava que a faria rica, que se ela quisesse ele reconstruiria o hímen dela com os melhores cirurgiões plásticos do mundo.

— Isso é o paraíso, preciso falar com alguém! - ele arfava, procurando infantilmente seu celular, sob o olhar da gueixa que se erguia atrás de sua bunda, desconfiada - Draghinaz, seu puto, seu merda, onde você está?

A japonesa seguia lambendo o rabo dele, e se o ruivo pudesse ver a língua dela nesse momento, sentiria medo. Mas como não sabia o que acontecia ali atrás, só se abria ainda mais para que Naoko o lambesse por dentro, se fosse possível alcançar. E às vezes sentia como se ela realmente estivesse entrando lá no fundo dele, estava quase desmaiando de prazer. Descontrolado, apertava as minúsculas teclas do celular, procurando o número de seu amigo Draghinaz.

O líder do Malebranche atendeu do outro lado, no tom sério de sempre:

— Onde você está, Rubicante?

— Estou no céu, caralho... Você... não faz ideia!

— Não me ligue enquanto está com suas putas, Rubicante. É grosseiro.

— Puta não... Gueixa... - a voz do ruivo saía entrecortada do outro lado, extasiada de verdade - A melhor delas! Você... precisa... isso, isso... porra lambe...

— Eu preciso é desligar, Rubicante. Boa noite!

Rubicante já tinha gozado duas vezes em menos de cinco minutos, partindo agora para a terceira. Não conseguiu nem pedir para Draghinaz não desligar. O celular caiu da mão, devido aos tremores do velho. Tremores de prazer. Estava gozando de novo, não sabia se estava gritando ou se perdera a voz. Seu rosto permanecia colado ao chão e sua bunda empinada, segurada nas laterais pelas mãos pequenas da gueixa, que ignorava o peso do velho. A língua dela parecia ter entrado toda, não dava mais para distinguir o que sentia.

Ele estava derretendo todo. Já tinha esvaziado o saco de tanto esperma gozado, e agora que não tinha mais vazava algo parecido com urina, e seus músculos, todos frouxos, nem isso conseguiam segurar. A verdade é que desde que Draghinaz desligou o telefone, Rubicante percebeu uma coisa: estava provavelmente com a misteriosa assassina dos membros do clube Malebranche.

"Ânus dilacerados". - recordou. Não devia ser tão mal. Em sua mente, o ruivo repassava toda a devassidão que vivera. Não lhe ocorria ter esquecido nada, experimentou todas suas vontades distorcidas no quesito sexo. Sendo sugado cada vez mais e mais, esvaziado pela gueixa, ele estremeceu um medo irracional por não ter mais como reagir a ela. Estava de quatro ao fim da vida - posição à que submeteu muitas mulheres - tombado ao chão e entregue à língua faminta de Naoko. Lembraria daquele som sugando até chegar ao inferno...

Minutos depois, Rubicante é um monte de carne caída de lado, resumido a uma bunda grande, gorda e totalmente aberta, algo horrível de se ver. Naoko lambe os vestígios de sangue dos lábios, depois limpa o queixo e passa a língua pela mão, querendo todo o precioso líquido vermelho, sem desperdiçar nada. Sorridente - já que agora é uma criatura livre, pois não era mais virgem e o trato com o itamae estava comprometido - a criatura procura pelo celular caído ao chão, e aperta a teclar rediscar:

— Mas que droga, Rubicante! Já é tarde, o que quer agora?

— Puta não... Gueixa. - ela repete as palavras do ruivo, num tom tão debochado quanto assustador, e sua voz reverbera no ouvido de Draghinaz - Seu amigo acaba de atravessar para o outro lado. Se quiser saber o que fiz com ele... venha sozinho me encontrar.

— Onde? - pergunta o velho dragão, abatido pela perda, mas furioso.


Não era longe o lugar marcado. Draghinaz apertava o volante de sua pick-up como apertaria o pescoço da mulher que tinha matado seus amigos. Não teve paciência de chamar ninguém, tinha perfeitas condições de cuidar daquela sujeira sozinho. E tinha a raiva também. Pisava no acelerador como se não precisasse acordar vivo na manhã seguinte.

Chegando ao cais oriental - provavelmente onde Naoko desovou os outros corpos de seus amigos - pensava no que dizer quando encontrasse a assassina. Perguntaria o motivo ou já atiraria nela? Checou a arma novamente nesse instante e desceu do carro. Não precisou andar muito, e então viu a japonesinha no fim do cais, de costas para o luar. Será que acabava de jogar o cadáver na água? O aspecto dela era frágil - pouco mais de uma menina - como aguentaria um homem como Rubicante, ou Ciriatto?

Ela não falou nada, só começou a andar na direção dele assim que o viu. O luar quebrava um pouco da escuridão da noite, mas não toda. Draghinaz pegou a arma, mas não acertaria um disparo, sabia disso. Aí ela aumentou a velocidade, quase correndo para ele, e o velho se acovardou, voltou-se e correu para a pick-up, sem nem olhar para trás. Quando ligou o motor, percebeu que a criatura já estava bem à sua frente. Ele não teve dúvidas: afundou o pé no acelerador, arrancando para cima dela. Naoko, surpresa, nem teve tempo de pular, sendo pega em cheio. A única coisa que Draghinaz viu de relance foi uma língua monstruosa escapando da boca da atropelada, quando ela jogou a cabeça para trás no momento em que a pick-up bateu e atropelou. Ele sentiu nos pedais os ossos de Naoko se quebrando sob as rodas...

Ele só desacelera a pick-up quase à beira d'água. Olha para trás alguns metros, para o corpo todo quebrado da criatura no chão, e suspira aliviado. Encosta-se no volante e apalpa o revólver buscando segurança. Tudo certo agora. Criou coragem e desceu da pick-up. Precisava olhar para a água, queria ver o corpo do amigo boiando para ter certeza que tudo aquilo era real.

Lá atrás, Naoko recolocou o braço - que estava dobrado para trás - de volta ao lugar. O som dos ossos se rearranjando era pavoroso, mas não chegava aos ouvidos de Draghinaz, que estava longe, forçando mais os olhos do que os ouvidos. A perna dela também estava dobrada num ângulo impossível, mas aos poucos foi sendo devolvida ao lugar correto. Seu peito, bem onde a força da pick-up bateu, estava afundado, mas já subia novamente, deixando a japonesa mais uma vez articulada, apenas com movimentos limitados. Por isso ela decidiu que não era a hora certa de atacá-lo.

Draghinaz buscou com bastante atenção por muito tempo, mas não achou mesmo seu amigo. Resolveu voltar para a segurança da pick-up, quando percebeu que o corpo da criatura não estava mais lá, caído ao chão. Sacou o revólver e com a arma em riste abriu as portas, uma a uma, procurando pela japonesa no interior do veículo. Nada. Rapidamente apoderou-se do volante e pisou fundo, abandonando aquele cais tão sinistro. Não parou em farol algum até chegar no destino: seu pátio de carros, sua fortaleza particular.

Assim que desceu, antes mesmo de fechar a porta da pick-up, seu celular tocou. Dessa vez não era o número de Rubicante, e sim do local de encontro do clube Malebranche. Intrigado ele atendeu. Alguém chorava ao fundo, quando uma voz feminina falou, suave:

— Sua secretária é bem fiel, mas mesmo o corpo humano tem limitações...

— Quem é você? Onde está minha subordinada?

— Cansei de tratar com subordinados, vou logo no que disseram ser o líder. - Valerie respondeu, ignorando a primeira pergunta - Sei que andam matando seus associados, e quero esse assassino tanto quanto você. O que sabe sobre ele?

— Nem vou perguntar qual seu interesse nisso. Se conseguiu este número e sabe das mortes que ultimamente rondam minha pessoa, deve ser muito boa, mas não me importa saber quem você é. Só posso lhe dizer que não é um assassino. É uma japonesa, pequena e muito ágil. E não tenho certeza que seja humana.

— Se você já viu a criatura e continua vivo contando, é por que julga tê-la matado. Estou certa?

— Precisamente.

— Mas não tem certeza da morte dela, certo?

— Não, não tenho. Se quiser tirar a prova, o lugar que deve procurar é um restaurante chamado "Segredos do oriente". Lá eles servem uma iguaria em cima da referida japonesa. Uma iguaria indigesta, eu diria.

— A melhor pista que recebi. Obrigada pela informação.

— Ela é toda sua. Boa sorte. - assim que Draghinaz desligou a terceira ligação esquisita da noite, mãos pequenas e firmes saíram da escuridão debaixo do carro, agarrando seus tornozelos. Ele tentou correr, mas preso, caiu de cara no chão da garagem. As mãos tingidas com sangue e graxa puxaram o velho dragão em direção aos olhos injetados de ódio da atropelada, sedenta por vingança e sangue! Draghinaz, aterrorizado, gritava pensando na arma que deixou no carro. Se debatia e pedia por socorro, enquanto era arrastado para baixo do veículo. Sua calça foi rasgada, e algo faminto e raivoso grudou em suas nádegas...


O "Segredos do oriente" não estava aberto. Valerie teve que esperar a noite seguinte (e descobrir as duas mortes restantes) para se aproximar da criatura que perseguia. A julgar pelo estado que encontraram a última vítima destroçada embaixo do carro, a vampira imaginava que a japonesa era perigosa.

— É estranho uma mulher pedir o nyotaimori. Mas nós não o servimos mais, por questões... logísticas.

— Ou devido às mortes envolvidas? - Valerie encarou o itamae.

— Não temos nada a ver com as mortes. Que mortes?

— Eu sei que esses homens todos estiveram aqui antes de morrer. Não negue. E se eu resolver falar, no mínimo a polícia abrirá uma investigação, o que é sempre uma coisa péssima para os negócios.

Diante da pressão de Valerie, o velho deixa escapar, resignado: "Perdemos nossa virgem. Sem virgem, sem nyotaimori."

— Existe uma coisa que eu gostaria muito de provar, e não é necessário ser servido por virgens: Wakamesake.

— É ainda mais estranho uma mulher pedir "Wakamezake". Mas se é o que deseja e puder pagar... Mitsuko!

Valerie analisou rapidamente a mulher que o itamae chamou. Claro que não era a criatura.

— Não. Eu quero a gueixa do nyotaimori. Vou falar abertamente e espero não precisar repetir: sei o que acontece por aqui, e sei que o senhor acoberta um monstro. Tudo o que peço é que a traga aqui.

Mitsuko já estava ao lado do velho, obedientemente parada diante da mesa da vampira. O japonês abraça a filha, dizendo:

— Era melhor ter uma criatura dessas conosco do que contra nós. Mesmo assim eu me desculpo com minhas filhas, por permitir a presença dela aqui. Ela achou uma maneira de romper o trato que fizemos e não tem mais nenhuma obrigação comigo. Eu sei como chamá-la, mas nada garante que ela responderá.

— Tente.

O velho conduziu Valerie até o aposento onde outrora servia o ritual do nyotaimori.

— Espere aqui. Se tudo der certo, ela estará logo com você.

Valerie tinha a noite toda para esperar, mas só a noite. A verdade é que não muito tempo depois uma porta se abriu, e a pequena Naoko apareceu. Caminha até Valerie, curiosa e, ao mesmo tempo, ignorando que se trata de uma vampira, uma morta-viva. Naoko também é uma vampira; mas não como a dona do Princess. A japonesa é uma criatura viva, e sua pele é fresca e bem tratada.

A japonesa abre o kimono em frente à cliente para mostrar o cuidadoso corte dos pelos pubianos. Wakamesake nada mais é do que beber sake diretamente do triângulo formado pelas coxas fechadas e o púbis da gueixa.

— Sirva-me. - diz Valerie, impressionada com a fragilidade aparente da criatura à sua frente.

A gueixa senta-se nua, cruzando as pernas. O vão das coxas vai se enchendo de sake, que ela derrama e deixa escorrer entre os seios, molhando a barriga e o umbigo, chegando até o destino. Os pelos artisticamente aparados nesse momento aparecem ondulando entre o sake e dando o nome ao ritual: wakame são algas marinhas boiando na superfície da água.

A vampira desliza até as coxas da gueixa, cuja pele se arrepia com a proximidade. Valerie desce os lábios entreabertos e bebe, a língua explorando e trazendo o sake até a boca. Ela levanta-se para melhor degustar a bebida olhando para Naoko, que diz:

— Seus lábios são gelados, sua pele é fria, mas eu gosto do seu toque. Mergulhe mais fundo sua língua entre minhas coxas e prove do sake misturado com meu gosto íntimo. É o segredo do wakamesake.

Valerie desce novamente, encostando os lábios, visitando o clitóris mergulhado em sake. Explora, lambendo com vontade, e se pega deslizando as mãos pelos tornozelos da gueixa. A vampira sente algumas protuberâncias esquisitas, parecendo má-formação óssea, apesar de não ter nenhuma fratura exposta naquele corpo bonito. Bebe do sake vorazmente por entre os lábios vaginais dela até perceber que vem sangue junto; e por fim somente sangue. Suga cada vez com mais força, cegada pelo desejo tanto do sexo apetitoso da japonesa quanto pela urgência de se alimentar.

Naoko, até o momento com a cabeça levemente inclinada para trás viajando naquele raro prazer, olha assustada para baixo. Ela empurra a vampira para longe com suas pernas, preocupada pela primeira vez. Atordoada pelo acontecido, murmura um pedido de desculpas, diante do olhar flamejante de Valerie:

— Sumimasen.

— Oishikatta. - a vampira sibila, passeando a língua pelos lábios perigosamente vermelhos, reforçando com esse gesto que tinha achado tudo aquilo delicioso. A pronúncia cuidadosa demonstrava um certo domínio do idioma e, ao mesmo tempo, respeito pelos costumes de Naoko, o que induziu medo na japonesa. Não estava lidando com uma qualquer.

— Você está cheia de sangue por dentro. Sangue da minha cidade.

— Minha espécie não teme a morte. - Naoko diz, calmamente - Não como a sua, que é imortal justamente por isso, por temor. Você é uma morta-viva.

— Isso quer dizer que não poderá arrancar meu fígado, e nem mesmo beber meu sangue desmorto. Agora me diga, pequena: você prefere morrer sentindo dor e prazer... ou apenas dor?

A gueixa deixa os ombros caírem, numa pose resignada. O velho itamae tinha arranjado aquele encontro, provavelmente contando que a vampira mataria Naoko. Ela percebe que está encurralada, que nada pode contra a pálida mulher que se coloca em pé à sua frente. Uma presa sabe reconhecer sua morte no olhar do predador.

— Estou em terra estrangeira e não sou adorada e temida aqui como sou em minha terra natal, onde os aldeões outrora lançavam animais ao mar para mim, ou pepinos para me acalmar. Também não posso voltar ao meu lar. Achei uma maneira de quebrar o trato com quem me acolheu aqui, então creio que mereço a morte, tanto quanto mereceram aqueles homens desrespeitosos que matei. - apesar de ser uma vampira viva, Naoko não perdia a mentalidade submissa e obediente do treinamento de gueixa.

— Muito justo. Sabe... as coisas são cruéis nessa cidade. Se outra pessoa chegasse atrás do seu sangue antes de mim, você seria escravizada. - responde Valerie, pensando especificamente em Sammael, o demônio.

— Então me liberte. Me dê prazer antes da dor e da morte. - diz a japonesa. Valerie assente e abaixa-se definitivamente em direção às coxas dela, que se abrem permitindo o avanço faminto da vampira. A gueixa, ávida pela língua da morta-viva, entrega-se à última carícia. Aos poucos vai enfraquecendo e tomba enfim, enquanto seu sangue - e o do clube Malebranche, que ela considera de certa forma impuro - é sugado completamente pela senhora de Sistinas.

-Arigatoo... gozaimasu. - são as últimas palavras que escapam dos lábios de Naoko.

Valerie ainda fica um tempo junto ao cadáver da japonesa, parecendo uma amante se recompondo após a trepada sensacional, até que se levanta, extasiada com a força vinda do sangue que agora circula em seu corpo. Já se ajeitava para sair, mas o velho itamae adentra o aposento, muito perturbado com o que vê:

— Sugiro que vá embora agora. Não tem mais nada para você aqui.

— E eu sugiro que feche seu estabelecimento e saia da cidade.

— Por quê?

— Se eu cheguei até aqui, até vocês e Naoko, outros demônios também podem. Todos os rastros estão mortos, mas nunca se sabe. E se o demônio em pessoa chegar aqui, você não terá mais nenhum sangue a oferecer, a não ser o seu próprio e de suas filhas.

O velho carrega o rosto de apreensão e afinal concorda com a cabeça, acatando o conselho:

-Soo desu ne. Tenho mesmo um cheque generoso para descontar.

-Ittekimasu. - se despede Valerie, saindo e acenando de leve para ele.

-Itterasshai. - responde o itamae dando tchau. Antes de fechar para sempre a porta do restaurante "Segredos do oriente", ele fica observando a beleza das formas feminis daquele outro demônio de Sistinas ganhando a noite, se misturando à escuridão...


Comentários do autor

Gueixas ("pessoa que vive da arte", tradução aproximada) são japonesas que estudam a tradição milenar da arte da sedução, dança e canto. Elas não tem relação com a prostituição. Dificilmente aparecem em público, andando pelas ruas em Kyoto, nas raras ocasiões em que saem para ter aulas de dança, shamisen (cítara de três cordas) ou ikebana (arranjo floral), ou a caminho de um restaurante para entreter algum empresário. Ser servido ou entretido por uma gueixa, mesmo entre os japoneses, é privilégio de poucos. Gueixas são um deleite para os olhos, como uma obra de arte viva.

"O beijo negro" foi escrito em 31.05.07.


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