Sistinas
O cobertor humano
#43

O cobertor humano

"Um homem sem endereço é um vagabundo. Um homem com dois endereços é um libertino."

George Bernard Shaw

Sou novo em Sistinas. Sempre ouvi falar dessa cidade. Sempre ouvi falar mal, claro. Mesmo assim, quando não se tem muitas perspectivas, acaba sendo uma boa opção. Quando aqui cheguei me contaram uma história, tão marcante quanto verdadeira. Você pode pensar que é apenas uma lenda urbana, já que não aconteceu diretamente comigo, mas relatarei o que me foi dito.

A pessoa que me contou essas coisas é daquelas que só olhamos para evitarmos pisar, largadas ao chão. Sem-teto, morador de rua. Estimamos que 100 milhões de pessoas ao redor do mundo estão nessa situação. Eu gostaria de poder ajudar de verdade essas pessoas. Dar algum dinheiro mata a fome momentânea; mas não compra de volta a humanidade, a cidadania, a dignidade, nem o respeito. E tem o frio, o medo de ser agredido, roubado, os perigos da noite...

A noite. Já disse que me contaram o que acontece nas noites amareladas de Sistinas?

— O que cê tá fazendo aqui? - começou o cobertor humano com sua voz roufenha, de sexo indefinido, deitado no chão do ponto de ônibus onde eu estava. Como estávamos os dois nos protegendo do vento gelado, aquilo era como um elo entre nós. Uma conversa com um farrapo.

— Bebi e joguei todo meu dinheiro, estou voltando pra casa.

— Casa. Casa é legal. Lugar quente. Relaxa que não vou pedir trocado não. Eu tô doente, só quero conversar.

— Doente? Procure um posto de saúde. - respondi, sem perceber minha grosseria.

— Posto de saúde? Com essas roupas que tô usando, sem tomar banho? Eles me expulsariam de lá. Nem arrisco. E outra... nem sei se vou comer amanhã, pra que pensar em saúde?

— Eu... eu tenho algumas moedas aqui. Talvez te compre um café quente pela manhã. Vai precisar. - tentei me desculpar.

— O moço distinto não conhece a noite aqui, né não? - o cobertor enrolado se animou um pouco com o retinir das moedas na calçada.

— Conheço o que tenho que conhecer, por quê?

— Eu já vi uma dona pelada andando por essas ruas... nuinha! Mas ela só aparece em dias de chuva, parece planta. Se abre toda, parece querer abraçar o mundo. Mas se fecha e foge quando percebe que tem gente olhando.

— Ela é maluca?

— Deve ser. Eu também já vi anjos sem asa. E demônios sem chifre.

— Anjos?

— Eles "avoam" por aí. A última vez que vi um desses foi na praça do anjo.

— Onde fica isso?

— Eu não guardo nomes nem lugares nos dias de hoje. Não me servem pra nada. A praça chamo assim por causa da estátua de anjo que tem lá.

— Ah, entendi. - sorri, de repente percebendo que o farrapo não falava coisa com coisa, e eu ali, ouvindo, quase interessado.

— Não acredita, né? Pois eu vi o anjo "avoando" pra lá.

— Do que está falando agora?

— … e a coisa escura, o próprio negrume da noite em forma de gente, "vuava" junto dela.

Nenhum ônibus. E eu ali, ouvindo aquela conversa sem nexo.

— Já vi uma coisa preta se jogando da torre, aquela bem alta lá do centro, sabe?

— Uma coisa preta. E saiu no jornal?

— Saiu. Sacumé, né? Jornal pra mim é colchão. Ainda sei ler, então fico por dentro. Mas o que saiu no jornal não tinha nada a ver com a coisa que vi cair e se esborrachar. Parecia um trecão, um morcego-gente!

— Ah, meu Deus!

— Jornais mentem. Já vi polícia balear coisas que não caem nem sangram. Ninguém explica o que são essas coisas que vejo.

— Talvez só você veja. Já procurou ajuda?

— Ajuda onde? Abrigos são temporários, e só servem pra dormir.

— Tem outros tipos de ajuda, já que você vê coisas esquisitas. Já tentou pedir ajuda religiosa, lá no convento?

— Cê tá louco, as freiras são as piores! Elas matam mendigos sabe lá pra quê! Dizem que no meio da floresta perto do convento tem um lago cheio de cadáveres de bebês que elas desovam lá, aquelas pervertidas, depravadas. Eu já ouvi tantas coisas sobre elas que...

— Ah, me desculpe, mas acho que você exagera.

O cobertor humano se ofendeu e tentou se erguer. O fedor ácido de urina que saiu debaixo dos panos, misturado ao cheiro agridoce de suor várias vezes amanhecido, me deixou nauseado. Tinha três unhas quebradas, e eu fiquei imaginando como deve ter sido a batalha contra alguma lata que não abria. Algo parecido com um cachimbo de crack rolou pela calçada, e o farrapo se envergonhou, voltando a se encolher entre os panos encardidos:

— Cê ficou grilado por que eu uso drogas. Mas cê não entendeu; eu não vejo essas porras quando eu uso droga. Eu vejo essas coisas todas quando não uso droga nenhuma!

— Difícil de acreditar, ainda mais isso das freiras.

A rua não estava tão iluminada, então eu só enxergava poucos traços daquele rosto emoldurado por uma touca surrada e um cachecol cheio de manchas. As ideias absurdas daquela pobre alma estavam me cansando, mas de repente eu não tinha pressa pra ir embora, apesar de poder simplesmente me levantar e caminhar, deixando-o sozinho.

— "Im Nin'alu..."

— Hahaha só o que me faltava, você canta. Que música é essa?

— É uma que me conforta. É duma mulher que ficou rica e famosa só com essa letra. Ela partiu de um poema que dizia: "Mesmo que os portões dos ricos estejam fechados, os portões do paraíso nunca estarão fechados."

— Nunca ouvi falar.

— É um poema hebreu. A música você não conhece por que é jovem demais, tá na era do Ipod, MP3, esses trecos bacanas. Essa música é do tempo do vinil, da fita cassete. Eu tinha os dois. Em milnovecentoseoitentae...?

— Dois?

— Oito. Milnovecentoseoitentaeoito.

— Então você já teve casa, família?

— Claro que tive. Acha que a gente brota na rua, do nada?

— Não, acho que não.

— Sabe, tinha um cara... honesto, trabalhador.

— É você esse cara?

— Quer escutar o que eu tô falando?

— Ok, desculpe, continue.

— Esse cara tinha uma esposa e um filho. A esposa era ciumenta, e o filho tava meio que perdido já. Envolvido com coisas erradas, mas era cabação, só se lascava. Dava trabalho.

— E?

— E o pai, o cara honesto e trabalhador que eu tava falando... achou que precisava se aproximar do filho.

Nesse momento o mendigo escarrou algo quase sólido no chão, e eu prendi instintivamente a respiração por alguns instantes, nem mesmo querendo imaginar o cheiro que aquilo poderia ter. A palavra "losna" ficou passeando em minha mente simplesmente por ser talvez uma das palavras mais feias que já ouvi, e que na infância me remetia a coisas extremamente nojentas. Hoje sei que losna é um termo comum, e que de nojento não tem nada, mesmo assim continuei respirando com cuidado, com medo de sentir algum cheiro desagradável, que fatalmente me faria vomitar ao lado daquele cobertor humano.

— Ele armou de levar o moleque num puteiro, casa de mulher fácil, sabe né?

— Sei, sei.

— Claro que sabe... então, ele achou que era uma puta ideia do caralho, que o moleque ia se esbaldar com as putas e parar de fazer merda, ou pelo menos ia ficar mais tranquilo ao lado do pai. Ser mais amigos. A ideia até que não era má, era?

— Não, acho que são coisas perfeitamente normais pra... sei lá, pai e filho fazerem juntos. - eu já nem sabia mais o que tava dizendo.

— Cê iria no puteiro com seu pai do lado?

— Não, acho que não.

— O moleque foi. Te falei que a mãe era ciumenta, a esposa?

— Falou.

— Então... uma porra dum puteiro cheio de frescura. Mulherada pelada com máscara.

— Máscaras?

— É, cê acha? Já viu sexo de mendigos? É algo selvagem, pode ter certeza. Selvagem pra caralho. Não existe joguinho de sedução, a mulher não tem calcinha cheirosinha pra esfregar na cara do macho, me entende? É só meter, meter, meter, suar e gozar. É uma coisa de bicho mesmo, muita pegação, arranhão, é só pra matar o instinto básico. Sem frescura.

— Posso imaginar.

— Não, não pode. Quem pensa em sexo de mendigos? Você deve ter pensando um segundo nisso por que eu tô falando.

— E as putas das máscaras? - mudei de assunto, saindo pela tangente. Papo bravo.

— Boa, as putas. Tudo muito bom, muito fácil. Mas a esposa ciumenta resolveu seguir o marido justo naquela noite. Aquela noite ia foder com tudo, mas ela não sabia, não imaginava.

— Peraí... ela seguiu os dois pro puteiro?

— Club 69, acho que era esse o nome. Não existe mais. Igual a Ofra Haza, que morreu.

— Porra, quem é Ofra Haza?

-"Im Nin'alu… ", lembra? A música.

— Tá, tá. - mudança de assunto sempre me irrita — Esquece a música, o que a mulher ciumenta foi fazer no puteiro?

— Oras, mulher diz ter sexto sentido. Ela sabia que o marido ia aprontar naquela noite. Desconfiou. E seguiu o cara e o moleque. Chegando lá deu um jeito de entrar.

— Ih, deu merda.

— Deu, e das brabas. Ela viu o maridão comendo as putas. Um sarrinho aqui, chupação ali...

— O cara foi levar o moleque, pô.

— Sim, mas aproveitou e tirou uma casquinha também. Aí a esposa, puta da vida, percebeu que podia se vingar ali dentro.

— Não...

— Sim, tô te falando. Ela colocou uma máscara, tirou a roupa e foi pro meio do salão. Aí empurraram ela pra um quarto escuro e...

— Que foi? Que aconteceu?

— Ela fez sexo com dois caras. No escuro. Nunca ficou sabendo com quem transou. Foi agarrada e praticamente estuprada. Violentaram ela, já que não rolava carinho ali. Eram todas putas, já viu né?

— Putz...

— Quando ela tentou se levantar, toda melecada e estrupiada, a porta abriu e entraram mais homens na parada. Todos bêbados, bem alegres e cheios de vontade.

— Meu, isso vai acabar mal...

— Mal pra cacete. Pra piorar na confusão ela perdeu a máscara; enfiaram os troço na boca da coitada pra ela não gritar, enquanto alguém fazia ela lá atrás, sabe né?

— Sei, sei.

— Interessado você, hein? Ser humano gosta duma putaria.

Confesso que fiquei sem graça. Nem eu mesmo tinha percebido o quanto estava envolvido naquela história estranha, de mais de vinte anos atrás, contada por um morador de rua.

— Ela só conseguiu gritar pra acender a luz depois que desengasgou. Cuspiu o pau do cara tudo pra fora mas aí, meu amigo... aí a vidinha dela foi pro saco!

— Era o marido, no quarto escuro.

— Não. O marido foi quem acendeu a luz.

— Caralho! Era o moleque?

— Você pensa rápido. Quando ela olhou pra trás, o próprio filho tava tirando o negócio todo melado de dentro dela.

— Nossa...

— Imagina a cena... o moleque com o pau amolecido meio de lado, olhando pra ela com uma cara de terror misturada com nojo.

— E aí?

— Ele nunca deixou a mãe explicar o mal-entendido. O marido, então, nem se fala. Aquilo ali era lugar de homem, não de esposa.

— Que aconteceu então?

— O moleque se vestiu e saiu correndo daquele lugar. O marido lhe deu as costas, e a expulsou de casa ali mesmo - o farrapo pigarreou violentamente nesse instante - e a família se perdeu. Ela nunca mais viu seu filho, nem o marido. O moleque se matou alguns meses depois, e só.

— Que história triste, então foi isso que aconteceu com você? - arrisquei.

Desarmado com a minha conclusão, o farrapo começou primeiro a soluçar, até que o choro veio, em lágrimas abundantes. Coçava a cabeça como desaprovando sua própria fraqueza, o cabelo já grisalho tosquiado aparecendo por baixo da touca. Buscou pelo cachimbo e a pedra como um náufrago se agarra na tábua de salvação, as mãos trêmulas de ansiedade.

— Você precisa parar de se drogar. - me irritei - É por isso que os abrigos não te aceitam pra você reconstruir sua vida!

— O senhor espertinho falando! Já te disse que os albergues só servem pra dormir, pra acordar cinco, seis da manhã e continuar morando na rua! E um albergue não é uma casa, é um favor temporário de alguns meses. E você vem falar de reconstruir minha vida? Pra isso é preciso de trabalho, que não existe pra quem não tem endereço. E tem mais, senhor espertinho: se eu ganhar uma bela roupa de alguma alma caridosa na rua, deixo de ter uma cama no albergue, lá você tem que parecer mendigo! E parecendo mendigo você não arranja trabalho, está entendendo? - foi a vez dele se irritar.

— Mesmo assim não entendo no que as drogas te ajudam. - insisti.

— Eu não sou viciada, droga! - o farrapo se traiu, a voz saindo diferente.

— Meu Deus, você é a... Caramba! Você é a esposa! - agarrei os pulsos dela, sem acreditar, o tempo todo pensando que estava conversando com o cara que perdeu a família, mas ali estavam os olhos meigos e sofridos de uma mulher à minha frente, agora eu conseguia enfim enxergar. O jeito como ela se comportava, a voz roufenha esquisita, os cabelos totalmente tosados, ela disfarçava seu sexo para sobreviver nas ruas, claro! Desde o início tinha um sei lá o quê nela que me incomodava, algo errado, mas era puro disfarce! Até mesmo o linguajar.

— Eu... eu... - engasguei. Realmente não sabia o que dizer, ali, ainda segurando aquela mulher que sofreu tanto por tanto tempo. Acho que ela precisava desabafar de tempos em tempos, e contava sua história para quem quisesse ouvir, mas sempre escondendo sua identidade. Vergonha, talvez?

— Eles "avoam", eu te disse moço. - ela resmungou, meio que parando de chorar.

Eu acreditaria em qualquer coisa que aquela mendiga me dissesse agora. Busquei os céus nublados, mas não achei nada. Chateado, baixei os olhos a tempo de ver uma mulher se aproximando pela calçada. A brisa noturna embalava seus cabelos, era daquelas mulheres bonitas ao natural, que não precisavam de roupas sofisticadas ou excessos de maquiagem para impressionarem. Não tinha asas, não brilhava.

Não, não era um anjo, apesar de eu não ter a mínima ideia de onde ela teria saído naquela altura da madrugada, sozinha.

— O moço distinto não conhece a noite aqui, com certeza. - sorriu a mendiga, faltando vários dentes - Ela não é linda? É um anjo, com certeza!

— Boa noite, quanto sofrimento vejo aqui... Que posso fazer pra te aliviar, senhora?

— Não esquenta... Sua presença me reconforta. Fiquei horas falando com esse jovem, mas eu trouxe péssimas recordações de minha vida, e agora estou aqui assim, desse jeito, me acabando de chorar. - uma tosse violenta a sacudiu no fim da frase.

— Quem é você? - resolvi perguntar.

— Eu? Alguém que já conhece a história dela.

— Entendi, já te contou. Ela se empolga, não é mesmo?

A mendiga não parava de tossir. Entre um ataque e outro, ela suspirou:

— Posso morrer em paz, acho que não tenho mais nada pra fazer aqui. Morreria feliz com sua presença.

A recém-chegada sorriu levemente, e sentou-se também no chão, ao lado dos cobertores fedidos e encardidos:

— A morte não é tão ruim assim. É apenas uma etapa necessária. Se for sua hora, pode partir sossegada. Você chegou às raias do desespero naquele prostíbulo, se remoeu de impaciência por longos vinte anos, e por esses mesmos vinte anos pagou por sua vida avarenta anterior. Orgulho espiritual nunca teve, desse mal não sofreu, já que, na verdade, agiu como a maioria da humanidade: viveu apenas por viver, e tarde da vida acordou para a dúvida existencial, quando resolveu procurar as coisas, geralmente em lugares errados, e tornou a errar, desistiu, tornou a viver em erro... É quando chega a falta de fé.

— Do que está falando? - fiquei curioso.

— Desespero, impaciência, falta de fé, avareza... são todos inimigos na hora da morte. Ela já provou disso tudo na vida, em doses amargas, mas agora está serena, não é mesmo?

A mendiga se deitou, concordando. Parecia mesmo relaxada, seria alguma espécie de terapia daquela estranha mulher? Era parte de alguma instituição que acalenta mendigos pela madrugada? Bem, ao menos usava roupas brancas.

— Ela é um anjo, acredita em mim agora?

— Você é mesmo um anjo? - perguntei, me sentindo um idiota.

— Acredita em anjos?

— Claro que não, mas...

— Então, por que a preocupação? Sou o que sou, "anjo" pode ser apenas alguém que te diga algo reconfortante, que te estenda a mão numa hora difícil, não é mesmo?

— Tem razão. - olhei para os lados, subitamente me sentindo o único humano racional parado ali, numa calçada de madrugada, presenciando aquela cena surreal.

— Ela está certa, jovem. Eu me sinto em paz, apesar de tudo que passei.

— Shhh, como diz a música que você gosta tanto, "os portões do paraíso nunca estarão fechados".

— Cê conhece minha música?

— Conheço sim. Agora durma.

— Eu... eu vou andando. Acho que vou caminhar até minha casa. - me despedi delas, já que me sinto desconfortável quando alguém começa a falar em coisas como "falta de fé" ao meu lado. Fico com a impressão de que a qualquer momento a pessoa vai querer me converter para alguma igreja, sei lá.

— Vá em paz.

— Adeus moço distinto. Mais sorte no jogo da próxima vez.

Nunca soube direito quem era aquela bela mulher. Se ela era um anjo ou não, não tive como descobrir. Talvez anjos sejam apenas para quem precisa deles.

O fato é que não dormi direito, e quando passei por aquele caminho pela manhã, um pequeno grupo de curiosos se amontoava na calçada. Descobriram que aquele cobertor humano largado no chão tinha morrido durante a noite. Passei de longe, sem saber direito o que estava sentindo; se era alívio por conhecer a história daquela mendiga e saber que agora ela estava livre, ou se era tristeza... mas quando vi o rosto lívido do frio noturno, ela quase sorria. Então minhas dúvidas se dissiparam.

Tinha sido melhor assim.

A mulher de branco não estava ali, e apesar de eu ter guardado cada detalhe de seu rosto perfeito, sabia que não nos encontraríamos mais.


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"O cobertor humano" foi escrito em 17.05.08. Reescrito em 2012 para o relançamento do site.


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