Eu ofusquei o Sol e ceguei os pássaros
Acme - Sirrah
Eu tomarei toda a alegria humana
Sirva em submissão...
Celebre meu reino escurecido
Eu te vi morto
Como pedaços de sua fé irreal...
em Deus
#15
Veludo azul
A rua estava escura, parada... E estava frio, com a neblina dando um ar diferente naquela noite. Cenário até surreal, devido aos clarões que faiscavam vindos dos ônibus elétricos lá na avenida principal. Mais adiante, torres (seriam de quê?) também piscavam luzes vermelhas, que se propagavam pela noite nublada. Assim era a noite típica de inverno em Sistinas.
A mulher então pulou o muro onde estivera nos últimos trinta minutos, logo após assistir à entrada do último grupo de homens e mulheres na casa suntuosa. Pouco mais de dez pessoas no total, segundo a contagem dela.
"Seres humanos, eles não são surpreendentes? Acham que sabem tudo, e que podem mexer com segredos negros, e ainda por cima saírem ilesos... Pobres tolos!"
A mulher-espiã usava roupas velhas, desgastadas e negras, para melhor se confundir com as sombras. Mas também tinha um jeito ágil e felino de se mover, que até dispensava o modelito preto: botas, calça jeans, camisa, jaqueta, luvas e até uma touca, para prender os longos cabelos. Nada se via dela, exceto o olhar atento.
"Olhos da própria noite!" - era o que ela costumava ouvir. E gostava disso.
Não foi nada difícil entrar na casa. Ainda mais para uma mulher com os... "talentos" que ela tinha. Esses talentos eram dons noturnos, diziam alguns.
"Ou maldições", diziam os invejosos, em outras eras.
Já dentro da casa, uma mistura de cantos gregorianos, músicas de bandas góticas atuais e sons mais próximos de doom/metal eram alternados num... aparelho de CD??
"Esses imbecis querem fazer uma invocação ouvindo CDs?" - a mulher conteve o riso, e adentrou silenciosamente o salão de jogos, improvisado para o ritual, com diversos pentagramas desenhados no chão, demonstrando o mesmo cuidado de um mestre-cuca para com uma receita de bolo. "Eles acham mesmo que vão invocar algo?"
Os integrantes do grupo de invocadores e adoradores adotaram o nome de "Veludo Azul", mas a espiã não sabia o porquê. Uma de suas fontes citou algo sobre ser o nome de um filme cult dos anos oitenta, e mais nada foi dito a respeito.
Após muita bebedeira, a mulher pensou que aconteceria ali uma suruba, e não um ritual. Várias pessoas se beijaram, algumas do mesmo sexo, inclusive. Será que assim pensavam estar mais próximos da mãe-negra? Era isso?
"Patéticos"...
O salão foi escurecido, pois uma mulher vestida num simples robe negro de seda foi até o quadro de força esquecido num canto, e começou a mexer nos controles. A tecnologia e potência davam para iluminar um estádio de futebol, mas ela fez o oposto, diminuindo, diminuindo, até que a luz se tornou uma quase penumbra avermelhada. Pelo menos a iluminação estava de acordo.
"Bruxos de butique, se eles conseguirem algo, sou a Madre Teresa!" - pensou a espiã, quando a mulher do robe preto, que estava nua por baixo dele, veio à frente de todos, e pediu a palavra:
— Alguém quer desistir?
Silêncio indignado dos participantes. Seis homens e seis mulheres. Atrás da mulher do robe preto (seria uma sacerdotisa?), outro homem, silencioso, olhar responsável, acendia um incenso forte. Quatorze pessoas no total.
— Repetindo... Alguém quer desistir? Falo sério. Vamos invocar Lilith aqui, esta noite, e considerem-se sortudos por participarem do ritual. É uma honra sem medida. Mas aviso que não é aconselhável a participação de pessoas sensíveis, ou mesmo de quem tenha algum problema mal-resolvido... de ordem SEXUAL. - ela frisou o fim da frase, encarando a todos.
Sussurros e murmúrios entre os doze escolhidos, e eles reafirmaram a intenção de continuar.
O homem atrás da sacerdotisa veio falar também, passando a ela a tarefa de acender as velas de cor violeta ao redor de toda a região onde ficava o pentagrama desenhado.
— Eu sou o guardião. Vigiarei esse ritual, para evitar que algum de vocês se machuque, ou passe dos limites humanos. Posso e devo parar esse ritual em qualquer situação crítica. Por isso, desenharei um círculo mágico místico ao meu redor também, e assim estarei protegido de Lilith, coisa que vocês não terão. Estarão totalmente à mercê dela, certo? Ainda querem continuar?
Risos nervosos dos participantes, mas ninguém se manifestou em desistir.
"Se esse ritual fosse para valer, eu desistiria. Lilith é uma deusa cruel." - pensou a espiã.
— Bem - ele continuou - Lilith é a ninfa vampira da curiosidade, que a seu bel-prazer arranca ou recoloca os olhos, é a que dá aos filhos do homem o leite venenoso dos sonhos.
Ele falava com paixão, como se fosse mesmo uma coisa que ele conhecesse, mas a espiã sabia que aquilo era decorado, copiado de algum lugar. Riu da pretensão do guardião.
— Nós a chamamos também de Lua Negra, pois ela é comparada à sombra do inconsciente, aos nossos impulsos obscuros. A devoradora de infantes, dos recém-nascidos, devorada ela própria pelo ciúme infernal. Ela, uma vampira, pois tem infinitos poderes sobre os bebês e os homens que dormem sozinhos!
Nessa altura, a sacerdotisa já tinha acendido totalmente as velas, que complementaram a iluminação e deram um ar quase que místico ao local. "Para os leigos, é claro."
A sacerdotisa então adentrou o círculo, e se posicionou no centro de todos, que se ajoelharam na presença dela. Era uma bela mulher, até mesmo para o gosto exigente da espiã, que acompanhava tudo na escuridão.
O guardião ajeitava, atrás e fora do círculo, um pequeno chicote de tortura sadomasoquista e um cálice todo trabalhado e adornado em alto-relevo, feito de pura prata, o qual ele molhou com vinho tinto. Pela garrafa, era vinho nobre, do tipo que não se bebe, mas que se degusta.
A sacerdotisa pediu o pequeno chicote, e a espiã riu quando ela se ajeitou, majestosamente, para começar o ritual. O engraçado da situação foi o guardião avisá-la que segurava o chicote com a mão errada.
— Na mão direita, Hilde. - ele resmungou para ela, que prontamente obedeceu, meio sem graça. Apesar disso, nenhum dos participantes sorriu. "Prudente... um detalhe errado num ritual e nunca se sabe o que pode acontecer!"
— Agora vou recitar o que chamamos de relato de intenções, para com a entidade negra, Lilith. - disse a sacerdotisa - Vocês todos devem repetir após eu terminar:
— É nosso desejo, nos libertar de nossos preconceitos em relação à nossa conduta sexual. - ela disse, em voz alta e clara.
— Eu não tenho nenhum preconceito sexual. - resmungou baixinho uma loura escultural que estava no círculo. Tinha seios enormes siliconados e cabelos amarelos que chamavam a libido de longe. Ninguém ouviu o comentário dela, exceto a espiã, que ouvia e enxergava longe.
— É nossa vontade invocar a presença de Lilith, e pelo seu espírito nós experimentaremos o poder do Sexo e Morte e obteremos sua Palavra de Poder! - terminou a sacerdotisa.
Os doze participantes entenderam, e se concentraram em repetir, sem erros, o texto dito. Uns já demonstravam um ar preocupado, ou de medo, mas a maioria sorria maliciosamente.
A espiã já estava chateada e entediada. Não tinha valido à pena. Um bando de humanos imbecis tinha achado um ritual para invocação de Lilith, e o faziam seguindo uma simples receita de bolo. Ela, que buscava por isso há quase um século, ainda não tinha conseguido. A mãe dos vampiros, a deusa negra... Seriam apenas lendas?
"Bem, se a bíblia dos humanos pode ser apenas uma lenda criada pela igreja para manter seu rebanho em ordem, por que não pensar em Lilith também como uma história dos mais antigos?" - pensava a espiã. Foi a sacerdotisa quem começou a falar depois:
— Eu sou a filha da Fortitude e violentei cada momento de minha infância. Para contemplar, Eu sou Entendimento, e a ciência habita em mim; e os céus me oprimem. Eles me invejam e desejam-me com apetite infinito; para ninguém que seja terrestre tenha me abraçado, por eu ser escurecida com o Círculo das Estrelas, e coberta com nuvens matutinas.
O ar pareceu ficar mais gelado que o costumeiro no inverno. Não que a espiã sentisse mais os rigores do tempo e, na verdade, ela sentia saudade da sensação de frio/calor. A mulher continuou:
— Meus pés são mais ligeiros que os ventos, e minhas mãos são mais doces que o orvalho da aurora. Meus trajes são do princípio, e minha morada sou eu mesma. O leão não sabe por onde caminho, nem faz as betas do campo me entenderem. Eu fui deflorada, ainda virgem; eu santifico e eu não sou santificada.
Algumas velas estremeceram, assim como a pele dos doze no círculo.
— Feliz aquele que me abraça: pois durante a noite eu sou doce, e os dias são cheios de prazer. Minha companhia é a harmonia de muitos símbolos, e meus lábios são tão doces que podem curar por si mesmos. Eu sou a meretriz assim como me violentam, e virgem como sabem que não sou.
A espiã começou enfim a prestar atenção direito. "Tem algo errado!"
— Purifiquem as estradas, ó filhos do homem, e limpem suas casas; sejam santos, e andem em retidão. Invoquem suas velhas prostitutas, queimem suas roupas e então eu libertarei as crianças dentro de vocês, que serão os Filhos da Consolação na Era que está por vir!!
Antes que o guardião ordenasse, as seis mulheres começaram a entoar, em um tom profano, um coro, um mantra antigo, muito antigo...
-KISIKIL LILAKE...
A sacerdotisa sorriu, e olhou para os homens do círculo, que começaram automaticamente também a entoar outro mantra, aos poucos cadenciando, se adaptando e enfim se alternando com o mantra feminino, repetidamente:
-KISIKIL UDDAKARA...
A espiã não acreditava naquilo. Duvidava, até um segundo atrás, que aquela loura siliconada sabia outra língua que não a aprendida na escola! Mas agora, vendo como eles alternavam corretamente os dois mantras, ela ficou pasma. Viu a sacerdotisa se ajoelhar entre eles, e por um único instante pareceu ter pés de coruja. Mas em seguida, quando fixou o olhar, incrédula, a espiã viu que ainda era a mesma mulher. Nada de especial. Ainda.
Dentro do círculo, ao meio dos doze, a sacerdotisa nua começou a cantar também:
— Carne ela devorará, sangue ela beberá! - repetindo, e aumentando a voz. Era climático!
Foi nesse momento que o guardião voltou à cena, dizendo em voz bem alta:
— Trevas ela é, mas linda! Negras são suas asas, negras nas trevas! Seus lábios são vermelhos como uma rosa, beijando todo o universo! Ela é Lilith, que lidera todas as hordas do abismo e liderará o homem à ruína! Ela é a irresistível sede por toda luxúria, profetisa do desejo. A primeira das mulheres ela era.
Os doze pareciam já em transe, e o guardião reafirmou, com muita força:
— Lilith, e não Eva, foi a primeira! Sua mão traz a revolução da vontade e a verdadeira liberdade para a mente! Ela é KI-SI-KIL-LIL-LA-KE, Rainha do Círculo Mágico! Olhem para ela em sua luxúria e se desesperem!
A espiã assistiu uma cena grotesca. Todos os doze participantes começaram a gritar "Lilith, Lilith, Lilith" repetindo, mais alto e mais alto. E começaram pela siliconada. Ela pegou das mãos do guardião uma faca, que parecia ser de prata também, e cortou seu polegar. O sangue escorreu, e ela o colheu com o cálice, já molhado de vinho. Então passou adiante a faca e o cálice, para que sua amiga da esquerda fizesse o mesmo. Antes, marcou a própria testa com sangue. Os outros onze presentes repetiram o gesto com exagerado respeito e então entregaram o cálice de vinho e sangue para a sacerdotisa.
A mulher, cerimoniosamente, levantou-se, visto que estava de joelhos. Mandou que todos se prostrassem diante dela, e bebendo do cálice, fez o chamado definitivo:
-OL GOHE
A espiã desacreditou mais uma vez. Era linguagem enochiana! Mas como eles....? Se bem lembrava de suas andanças pelo mundo antigo, seria: "Eu invoco"
-DO AO IP KI-SIKIL-UD-KAR-RA
"o nome de Ki-Sikil-Ud-Kar-Ra"
-DAS I VAMAD BABALON BABALOND
"aquela que é chamada de prostituta perversa"
-PI GIU EORS CORAXO
"ela é mais forte do que mil trovões"
-PA MAZABA VAPAAH VOUINA
"ela vem com asas de dragão"
-I TOLTORGI
"e com todas as suas criaturas"
-BUTMONI PARM ZUMVAI
"de suas bocas jorra sangue"
-PA BAHAL CINILA
"ela chora sangue em alta voz"
-EOLIS OLLAG ORSABA
"fazendo os homens ficarem inebriados"
-OD GOHIA CICELES TELOCHI
"dizendo os mistérios da morte e"
-MALPIRGAY
"aumentando a chama da vida."
-MAZABA LILITH !
"Venha Lilith!"
-ZAMRAN LILITH !
"Apareça Lilith!"
E então tudo REALMENTE escureceu! A espiã sentiu mesmo um arrepio correr toda sua pele morta, e se esforçou para enxergar na penumbra cada vez mais forte. Por um instante, viu o rosto assustado do guardião, e a cara de medo, espanto e submissão dos doze homens e mulheres ajoelhados à frente da sacerdotisa. Ela então abriu o robe, como que asas pairando sobre todos. Vista assim, não parecia ser uma mulher tão bonita como a espiã julgara. Mas era algo mais. Algo tinha realmente dado certo naquele ritual. A mulher pareceu maior. Exalava poder, tesão, luxúria e tinha um olhar vítreo que assustava.
"O OLHAR DELA!" Ao contrário de brilhar, escureceu. Duas órbitas negras, que encaravam, rindo, seus novos servos. Estava mesmo num patamar superior agora.
"Se for mesmo Lilith, ela me verá aqui." - pensou a espiã, ainda tentando se manter cética. Não queria acreditar, mesmo vendo que algo terrivelmente errado estava acontecendo. E para confrontar sua sanidade, a sacerdotisa voltou os olhos negros e vazios para ela nesse momento. Antes de qualquer reação, a mulher sorriu alto, e deu de ombros, como que desprezando aquela presença fora do círculo mágico.
"Ela... Ela me viu! Devo sair daqui? Não estou sob a proteção do círculo mágico, do pentagrama!" Mas diante da expressão de descaso da sacerdotisa, a espiã continuou nas sombras. Teria a entidade, se é que era mesmo uma entidade, gostado da brincadeira? Como saber? Resolveu assistir até o final.
Dos doze, parecia que apenas a loura siliconada, sua amiga morena e mais um homem participavam ativamente agora. Ele atacava a amiga morena, que literalmente o amamentava como faria a um bebê faminto. A siliconada estava em uma posição esquisita, de costas para a sacerdotisa, de pé, mas curvada para frente, suas mãos tocando os próprios pés. A espiã só entendeu o movimento que ela fazia com os quadris, indo e vindo, quando procurou o chicote na mão da sacerdotisa e não viu. Ela penetrava a loura, que gemia sensualmente.
Estranhamente, a tal entidade não falava nada. Ou quando resmungava, parecia ser num dialeto muito antigo, pois a mulher escondida não entendia nada. Aliás, a espiã assumiu de vez sua função de voyeur, pois observava atentamente o que acontecia naquele salão.
Nada escapava de seu olhar. Nem mesmo quando viu o guardião, que parecia ser o mais sábio de todos ali, erguer a toga que usava e livremente se masturbar. Tudo cheirava a sexo e incenso agora. E o cheiro era inebriante...
O homem, que tinha o número sete gravado em prata na sua toga negra, continuava a chupar e mastigar com vontade os seios da morena, que já tinha rasgado suas vestes, tornando impossível ver a numeração dela.
"Numeração?" - a espiã sorriu, pois foi inevitável compará-los a um rebanho de gado nesse momento. E a loura estava em êxtase total, ainda curvada para frente, com a sacerdotisa lhe penetrando o chicotinho duramente por trás.
"Isso deveria estar doendo..."
Os outros participantes se limitavam a assistir, ao menos por enquanto. A espiã viu com atenção uma japonesinha no meio do círculo, que apenas mordia o dedo indicador e chorava convulsivamente. Não se despiu, nem permitia ninguém tocá-la, chorando apenas, como uma criança perdida.
O guardião não se aguentava mais do lado de fora, e a espiã contou que ele tinha já gozado e se melado todo no mínimo duas vezes. O cheiro de sexo aumentava, na mesma medida que os gemidos e sussurros. A siliconada começou a gritar em certo momento, mas permaneceu firme. Era o que faltava para incendiar a quase todos.
Um casal se animou, e tiraram suas togas. A mulher abocanhou o membro do parceiro, o de número onze, já muito duro e latejante. Engolia o quanto podia, até que quase engasgou em certo momento. Tentou maneirar nas engolidas, mas o homem puxou a cabeça dela com tanta força contra si, que ela arregalou os olhos, e se afastou rápido, tossindo. Se recuperou em segundos, e o abocanhou novamente.
Em frente a japonesinha que chorava, o número sete transava vigorosamente com sua parceira. Ela estava de quatro, gemendo muito, e ele apertava e a puxava pela cintura, até quase o ponto de machucar.
Ninguém ainda tinha atacado a loura siliconada, que agora, ajoelhada obediente de frente à sacerdotisa, lambia o cabo do chicotinho. De longe, podia-se ver que pingava dele uma mistura de líquidos. Sangue, suor e secreções vaginais, se o olfato da espiã ainda estivesse apurado. Quando ela engoliu quase que completamente o dito cabo, alguém levantou a loura pela cintura, começando a currá-la com mais pressa e desejo que cuidado. Ela ameaçou um grito, calado pelo simples olhar da majestade negra presente no centro de tudo.
Outra loura, cheia de sardas, também agarrou um homem para si. O que chamou a atenção para os dois foi o fato dela ter um preservativo. Soou ridículo, estranho e fora de lugar. Mas como humanos poderiam se permitir nos dias de hoje uma troca de fluidos tão intensa sem um mínimo de prevenção? Ou eram muito, muito íntimos, ou não temiam mais doenças humanas.
A espiã acompanhou por um tempo os dois. A loura de sardas colocou o preservativo na boca, e então chupou o parceiro com tanta maestria, que a camisinha se ajeitou no membro dele. Ela, não satisfeita, começou uma sessão de chupadas no saco dele, virilha, molhando o que encontrasse pela frente. Inovou mais ainda, pedindo que o parceiro ficasse de quatro na frente dela. Então abriu as nádegas dele, mordendo e apertando forte, lambendo tudo. Chupava com gosto, e por vezes dava umas pegadas no cacete dele. Até quem estava de fora se excitou com a cena.
"Não é uma invocação. É uma desculpa para uma bela de uma suruba, pura sacanagem desses mortais!" - se revoltou silenciosamente a espiã.
Os olhos negros e vazios da sacerdotisa acompanhavam cada detalhe daquela trepada grupal. Já tinha se cansado de escravizar a siliconada, que ainda gritava sendo alargada por trás. Então voltou a atenção para a japonesinha, que se mantinha ali, tensa, e chorosa, e parecia ter medo até de fugir. Poderia se levantar e correr, mas porque então não o fazia?
Um comando de voz que a espiã não entendeu, e ela foi agarrada pelos outros homens. Foi colocada de costas para a sacerdotisa, que começou a espancá-la. Deu por volta de vinte chicotadas na japonesa, que parecia pequena e frágil, mas que apenas soluçava a cada chibatada. Não erguia mais a cabeça, até que um dos homens levantou-lhe o queixo, esfregando o membro no rosto choroso, molhado de lágrimas. Ela resistiu até que não conseguiu mais, sendo literalmente obrigada a engolir. Como sua amiga, engasgava, mas isso parecia excitar o homem, que sempre a puxava, até que fez com que ficasse parada, com o membro dele inteiro dentro da boca. Pegou os cabelos dela, e começou a cadenciar a chupada. Aos poucos, a pequena se soltou, e até pareceu gostar num determinado momento.
A espiã estava indignada, claramente. Sentia-se excitada com o sexo todo rolando, mas também não gostava disso. Queria ver Lilith, e como não tinha essa certeza, se cansava.
De relance, viu uma mulata, grande, com carne demais, ela diria. A mulher era bem forte, e talvez por isso submeteu dois homens às suas vontades. Tinha seios grandes e macios, onde esfregava o cacete de um, enquanto mamava o do outro. Os dois homens, por sua vez, se revezavam, masturbando a mulata. Ela delirava, com os olhos entreabertos, uma expressão quase que dopada no rosto.
A orgia seguia para um final cheio de orgasmos, porque de repente até a japonesa estava cavalgando em cima do membro de um homem, talvez fosse o mais maduro do lugar. Era grisalho, e dizia coisas como "sempre quis comer uma putinha jovem como você!"
A espiã só percebeu que tudo iria terminar quando as mulheres começaram a gemer mais alto, algumas, como a siliconada, gritavam e se ajeitaram num círculo, e ao redor delas, os seis homens formaram outro círculo, de pé, alguns se masturbando sozinhos, outros ainda sendo chupados, lambidos e acariciados pelas parceiras. Mas todos de pé, como que querendo um gozo em conjunto, dispostos também a dar um verdadeiro banho de porra nas mulheres ajoelhadas dentro do círculo.
"Coitadas. Vão recuperar o juízo daqui a algum tempo, doloridas e cheirando a esperma e urina, no que vão pensar, será?"
A entidade teve participação discreta. Por isso, a espiã voltou a duvidar que tudo aquilo que acontecera ali era mesmo a manifestação de Lilith ou apenas um delírio coletivo, que até mesmo ela acabou por acreditar. Percebeu que nunca teria essa certeza. Testemunhara, mas não tinha visto nada, de fato.
O que a tirou de seus pensamentos foi um dos homens, o que usava preservativo com a loura das sardas. Ele realmente se preservou, e até mesmo na hora do gozo, se acabou numa camisinha. Mas o intrigante foi que ao comando da sacerdotisa, e pronta aceitação da loura, ele retirou o preservativo, cheio e melado de esperma, e fez a parceira chupar. Deixou acima da sua boca, que se deliciou com o que pingava. A espiã fez uma expressão de reprovação, mas quem poderia saber que forças estavam comandando as ações daqueles humanos? Eles pareciam poder e querer tudo. Agradaram a entidade, pelo jeito. A loura siliconada e a japonesa foram as únicas que apanharam, levaram uma bela surra de chicote. Dois homens foram ridicularizados pela própria sacerdotisa por não serem, digamos... bem dotados. Ficaram envergonhados, mas ainda assim foram lá, gozar na cara das mulheres, no fim da orgia toda.
A mulata, por sua vez, foi a única que fez uma dolorosa, se bem que ela pareceu adorar, dupla penetração. Cavalgava com gosto um de seus homens, e pediu para que o outro a penetrasse por trás, alegando que ainda era virgem em sexo anal, e que ele seria um sortudo por estar comendo sua bunda carnuda e suada.
"Bizarrices, que ritual idiota!" - pensava, mal humorada, a espiã - "Acabo de assistir um pornô barato, só que ao vivo!"
Os homens começaram a gemer então, e gritavam coisas como "Chupa, engole, mama, beba..." A japonesinha novamente se resignou, baixando a cabeça enquanto uma quantidade enorme de esperma voava por sobre os cabelos dela, molhando o rosto de todas as presentes. Algumas aceitavam de boca aberta, outras fechavam os olhos, mas todas tinham expressões de pura satisfação estampadas no rosto.
O guardião se preparou para algo importante, com um ar apressado e desajeitado, como se tivesse perdido a hora. Sem graça, pois se masturbou no mínimo umas cinco vezes, que a espiã contou, trêmulo, foi até eles, decidido, com um balde cheio de líquido. Água talvez. Parou fora do círculo mágico, e disse, em voz bem alta:
— Lua negra, Lilith, a irmã das trevas, cujas mãos formam a lama infernal, Em minha fraqueza, em minha fortaleza, moldando-me como barro no fogo.
A entidade respondeu ao estímulo. Pareceu tremer, levemente, buscando forças e encarou firmemente o guardião. As palavras a afetavam, claramente.
— Lua negra, Lilith, égua da noite, Você invoca sua liteira da terra, Fala o Nome e eleva seu vôo... Expressa agora o som sagrado, secreto!
Sem escolha, parecendo ser obrigada pela mais poderosa magia, ela segurou a própria garganta, soltando pela primeira vez o chicotinho, como que querendo negar, mas acabou soltando um nome, em voz alta, porém gutural. A espiã, dona de uma audição privilegiada, mesmo assim não conseguiu entender claramente o que foi gritado pela sacerdotisa.
"Provavelmente, a palavra de Poder, que Lilith chamou uma vez, o nome inexplicável de Deus para ascender aos céus... Estou farta dessas lendas!"
A sacerdotisa caiu ao chão, deitada, como se estivesse cansada de uma caminhada de dias a fio sem descanso. Nesse momento, até mesmo a bruma escura que teimava cair sobre o salão recuou, e os doze participantes da orgia de Lilith subitamente acordaram de um transe. Esquisitas as reações de cada um, como surpresa, alegria, medo e pudor. Mas ninguém sentiu frio. E fazia muito frio naquele lugar.
O guardião desenhou um pentagrama apressado ao redor da sacerdotisa, e lhe jogou enfim o balde de água fria no rosto. Um susto tremendo e ela acordou. Tremia de frio e algo mais. Chamaram várias vezes por seu nome mortal, até que ela enfim respondeu. Chorou convulsivamente, mas depois se alegrou por tudo sair de acordo.
"Inútil, foi tudo inútil. Ter vindo até aqui, e assistido essa orgia toda. Para quê? Nada, nada que acontece nessa cidade maldita me escapa, mas poucos têm a coragem de realizar um ritual à Lilith. Quando eu soube da existência desse grupo, analisei, estudei, e aguardei. Tenho toda a eternidade para esperar, mas não a paciência. Mas também não sei o que aconteceu aqui hoje."
Algum tempo se passou até que os homens e mulheres do ritual começaram a vestir suas roupas mundanas, para irem embora. Até mesmo o guardião e a sacerdotisa. A espiã viu então que o salão, e a casa luxuosa onde estavam eram de propriedade da loura siliconada, pois foi a única que permaneceu nua, e que depois se despediu cordialmente de todos os outros participantes.
O rosto escondido da espiã se torceu de raiva, e seus olhos verdes faiscaram. Ela estava entediada, desapontada, mas acima de tudo, estava puta. Então saiu de seu esconderijo, sem se fazer notada, andando pelo salão, analisando o pentagrama desenhado no chão. Enfim resolveu que alguém morreria naquele fim de noite, e seria a loura.
"Pelo simples fato de que preciso da sacerdotisa e do guardião para observar novamente esse ritual. Pobre criança rica!" - Pensando assim, ela rapidamente saiu do salão. Caminhou descuidadamente pela casa toda, agora vazia, em busca de algo que não sabia o quê. A dona do lugar tomava um alegre banho, cantando no chuveiro.
A espiã entrou no quarto dela. Em cima da cama uma camisola de pura seda, algo digno de uma Victoria's Secret. Ao lado, uma folha de papel, onde se lia algo realmente curioso:
"Pegue uma folha de papel forte, branco e desenhe nela um grande círculo preto, e dentro desse círculo desenhe outro menor.
Divida esse círculo interior em três partes iguais de 120° e faça pequenas marcas nessas pontas. Una essas marcas para fazer um triângulo no centro do talismã.
Nos três pontos em que o triângulo toca o círculo interior, entre o círculo interior e o exterior, escreva os três nomes angélicos - Sanvi, Sansavi e Semengalef - no sentido horário, um em cada ponta do triângulo.
No meio do trecho, entre esses nomes, desenhe uma cruz. Coloque a vela para Lilith no centro do triângulo (Lilith é representada por uma vela branca que se tornou negativa com cera preta ou por uma vela preta), com uma vela para cada um dos três anjos do lado de fora do círculo exterior, em oposição aos seus nomes (pode marcar as velas, se desejar) na ponta do triângulo.
Não se deve deixar de observar neste, ou em qualquer outro talismã, o seguinte: a linha que desenha o círculo exterior deve ser inteira, sem falhas, sem interrupções. Se necessário, desenhe-o de forma reforçada.
Se o que está tentando é conter algo, não deve haver interrupções nas linhas, através das quais esse algo possa escapar ou enganá-la a fazer algo pior.
Beijos, de sua amiga Hilde"
Revoltada, a espiã não sabia se ria da ousadia, da ignorância ou da arrogância de certos humanos. Leu novamente, como que querendo ficar mais chateada ainda, e aguardou.
A loura saiu do banho feliz, e de certa forma, realizada. Chegou ao quarto, nua, seca e cheirosa. Deu uma olhada no bilhetinho que sua amiga sacerdotisa tinha lhe deixado, e estava vestindo a camisola, quando a fúria vermelha a atacou. Por um instante, achou que Lilith em pessoa tinha vindo buscar sua alma, pela força da mordida que levou.
Não teve como lutar, apenas segurava o próprio pescoço, pois parecia que cairia, se afogando em sangue. Foi tombando, fraca, tentando se aparar na cama, nos lençóis até que sua mão caiu morta por cima do maldito bilhete. Uma mancha de sangue molhou o papel, porém a vampira o pegou e apressadamente o dobrou, guardando no bolso. Saiu por onde entrou. Que os membros da seita pensassem que Lilith tinha visitado aquela puta siliconada!
Quase uma hora depois, a espiã chegava ao badalado Princess of the Night. Já estava fechado, "pouco antes do raiar do Sol", como citavam os clientes mais assíduos. Spot, seu fiel servo, estava aguardando a chegada dela.
— Mestra? Que houve?
Valerie não respondeu nada, mas seus olhos verdes penetrantes diziam claramente que ficaria de olho na seita Veludo Azul. Ela lhe entregou o bilhete de sangue, seguindo direto para seus aposentos. O guarda-costas leu com curiosidade o papel, e por fim o guardou também.
"Espere, aquilo na mão dela era uma... prótese de silicone?"
Comentários do autor
"Veludo Azul" foi publicado originalmente em 29.07.02. Poucos se atentam à esse fato, mas é nesse conto que Valerie aparece pela primeira vez.