Sistinas
Alma mater
#17

Alma mater

"Minha queda será por você
Minha queda será por você
Meu amor estará em você
E se você for aquele que me cortar
Eu sangrarei para sempre"

Ghost Love Score - Nightwish

Droga, por que não está funcionando?

O vampiro rasgou novamente o próprio pulso, que já tinha cicatrizado desde o último talho feito poucos minutos atrás, e soltou novamente um pouco de seu sangue. Viscoso, bem mais escarlate que o de Jolene, bem mais que o de qualquer humano. E mais potente também.

"O sangue é tudo. Tudo empalidece ante o sangue..."

Concentrado, como isso fosse fortalecer a maldição que queria impôr à Jolene, ele deixou pingar sete grandes gotas na boca já bastante avermelhada de sua amada. Olhou para o relógio, impaciente e com medo. O visor digital verde brilhante marcava 21/02 - 01:02am.

"Já se passaram cinco horas! Jolene, meu amor, acorde, preciso de você!"

O cheiro de sexo do lugar já tinha se dissipado. Jolene aceitou enfim, após meses de tentação do vampiro, ser transformada em sua amante eterna. Agora jazia na cama, morta, e mesmo com todo o sangue que ele lhe dava, ela não se levantava da morte.

"Apenas uma questão de horas, mas não devia demorar tanto!"

Seu mestre tinha lhe dito, em outra era, que o processo de criação de um filho, parceiro e amante era assim mesmo, incerto e perigoso. Ele acreditava nisso, tanto que só agora, com mais de um século de existência solitária, decidiu que era hora de dar a dádiva do sangue para alguém.

Escolheu Jolene, a atormentou, testou e seduziu durante exatamente um ano. Era o mais próximo de uma alma gêmea que ele havia encontrado. Percebeu que nunca tinha desejado tanto uma pessoa em sua mísera pós-vida. A queria, e muito, para sempre. Tinha que ser para sempre!

A mulher estava deitada, nua. Antes de aceitar morrer, para renascer como vampira, fez apenas o derradeiro pedido: queria realizar sua mais louca fantasia sexual com ele.

O vampiro olhou novamente para o relógio, assaltado pelas lembranças do que tinham conversado dias atrás...


— Quero que seja numa data especial para você. E que seja significante para mim também! - ela disse.

— Então quando? Não quero mais que você permaneça humana, você é muito frágil. Quero lhe transformar logo. - respondeu ele naquela noite, tentando entender por que as mulheres são tão ligadas em datas, muito mais que os homens.

— Sei quando poderá ser. Um dia único em nosso tempo, que nunca acontecerá de novo!

O vampiro ficou curioso. "Quando?"

Com um sorriso lindo, e um brilho maravilhoso no olhar, como se tivesse enfim descoberto o sentido da vida, Jolene ajeitou-se na cama e contou em detalhes como queria morrer:

— Será no dia 20 de fevereiro do ano da graça de 2002. - começou, cerimoniosamente - Nesse dia, em que os calendários do mundo inteiro marcarão como dois-zero, zero-dois, dois-zero, zero-dois, eu me entregarei a você, pela última vez como humana.

— E?

— E então, exatamente às 20:02 horas dessa noite maravilhosa, você irá me penetrar. Com carinho, tesão e selvageria em doses iguais. Quero sentir sua essência nesse exato minuto!

O vampiro concordou com a cabeça, gostando da ideia. "Continue".

— Eu me entregarei a você como nunca, nos completando como os maiores amantes, entre a vida e a morte. No fim, no auge do meu orgasmo, que você reconhece tão bem, você me matará.

Qualquer pessoa soaria como uma maluca suicida ao afirmar aquilo com tanta naturalidade e paixão, mas Jolene não. Ela queria ser sua amante eterna, não conseguia pensar em prova maior de amor. Eles queriam ficar juntos, apenas. Era tão aceitável, tão normal, que o bizarro de alguém dizer - sorrindo - que quer morrer gozando, desapareceu completamente.

— Tem que ser doce e violento. Será a noite para guardarmos por toda a eternidade. E tem algo que eu nem precisaria pedir, mas quero de você, Jolene.

— E o que seria?

— Quero você com um vestido bem sensual, meia-calça e botas. Não acho que preciso comentar a cor, não é mesmo Jolene?

— Eu usarei um modelito mais negro que seus olhos, meu vampiro.


No dia do fatídico palíndromo matemático, 20 de fevereiro de 2002, o vampiro acordou no exato minuto do último raio solar.

"Acordar" era um termo esquisito, já que ele não dormia realmente. Apenas não conseguia se mover enquanto o Sol estava no céu. Ficava acordado, entre um mundo de sonhos, trevas e a dura realidade. E às vezes tinha pesadelos horríveis.

Não naquele dia. Imaginou apenas sua Jolene. O que faz uma pessoa no dia de sua morte? Será que ela visitou alguém? Telefonou ao menos? Como foi seu último banho? Deixou algum recado, algum e-mail para os amigos? Dúvidas estranhas até para a mente de um vampiro.

Com a ideia fixa de enfim transformar Jolene em sua amante eterna, de possuir aquela que desejou desde o primeiro momento em que a viu, chegou até a casa dela. A noite deveria estar linda, mas não. Uma brisa estranha, fria, enevoada, pairava. Ele teve uma péssima sensação, mas ignorou o que sentiu, e a chamou. Não precisava bater à porta, nem tocar campainha, nada. Apenas chamar, à sua maneira, quase um sussurro, mas tão poderoso que podia dobrar a mais ferrenha força de vontade.

Quando a porta se abriu, o vampiro só confirmou sua escolha. Ela estava deslumbrante. O vestido mostrava o necessário, e encobria o que ele mais desejava. Sentiu o ímpeto de apertá-la, agarrá-la com mais força que de costume.

Quando ela disse baixinho, encarando seus olhos negros, "bem-vindo à noite de nossas vidas", o vampiro a empurrou para dentro da casa. Não houve tempo para conversa, nem ao menos para se trancar a porta. Ele a encostou na parede e lhe deu seu mais ardente beijo, que a deixou totalmente sem fôlego.

Correu as mãos por todo o corpo dela, apertando, agarrando, arranhando e o marcando como seu. Cada vez que alisava algo, ela gemia docemente, compartilhando com a boca dele seus suspiros.

Os gemidos ficaram mais altos quando ele pôs as mãos por baixo do vestido. Arranhou a meia-calça, e apalpou as coxas e o bumbum dela. O beijo já durava quase cinco minutos, Jolene queimava de tesão e desejo e também procurava pelo corpo dele, puxava-o para si, alisava principalmente o peito e cintura. Seus mamilos duros roçaram o tecido por baixo do vestido.

Ele a virou de costas, bruscamente. Jolene adorava uma respiração masculina em seu pescoço que não veio, não desse vampiro. Mas ela já era acostumada a esses detalhes. Pensava nisso, quando ele ameaçou pôr o dedo por entre a virilha dela e a calcinha. Gemeu, permissiva.

Então sentiu as mãos dele espalmando seus seios e ouviu aquela voz sombria dizendo coisas em seu ouvido. Soube naquele momento, enquanto sentia o dedo dele invadindo a borda da lingerie que usava, como seu vampiro queria comê-la. Ele apenas sussurrava e ela acatava como se fossem comandos, ditados por uma majestade negra que preenchia suas fantasias. Quis fechar as pernas, mas quando ouviu dele o que fariam na cama, molhou totalmente a calcinha e o dedo de seu sedutor.

De costas, ela rebolava, se esfregando nele, e de vez em quando erguia uma das botas, uma visão excitante. Estava ficando difícil de controlar, queria seu vampiro logo. Então ele rasgou de repente a calcinha negra, deixando suas carnes úmidas desprotegidas. Começou a se esfregar nela também, insinuando o quanto a queria. O leve movimento de vai-vem atrás dela a deixava maluca.

Apertou forte os seios macios, firmes, beijando-lhe as costas. Enroscava-se nos cabelos dela, e dizia baixinho que enfim a teria por completo, para sempre. Forçou a mulher na parede, erguendo seu vestido. Alisou e afastou as nádegas dela. Viu nesse momento como sua amante estava molhada, e desfivelou apressadamente a própria calça. Encostou seu membro ansioso, sentindo o calor que emanava da carne dela; um calor que ele não possuía, mas queria sempre.

— Ainda não... - ela gemeu, baixinho. - ainda não é a hora certa...

Ele passou seu membro por entre as nádegas expostas, cortando o raciocínio da mulher.

— OHHHHH - ela gemeu, tentando falar - Lembre-se, nós vamos ritualizar a coisa.

Masturbou o sexo dela de maneira rude, querendo se impor. Queria apressar o momento já que ainda faltavam poucos minutos para o palíndromo. Então a jogou pesadamente na cama, exibindo o membro. Tão perto do rosto dela, que instintivamente o abocanhou. Sugou com força e vontade, e por vezes lambia demoradamente, para depois alternar com chupadas rápidas. Em determinado momento o masturbou com força, até cansar o punho da mão direita. Sabia que era o tipo de "fraqueza" que ele gostava de ver. Ela usava a mão esquerda num ritmo desajeitado agora, enquanto lambia e molhava todo o saco dele. Queria-o todo.

Ele segurou os cabelos dela, aos poucos, forçando a entrada do membro duro, preenchendo toda a boca. Movimentou um pouco, como sempre fazia, enquanto ela caprichava. Soltava as alças do vestido, expondo os seios.

— Não goze. Não ainda! Você sabe onde quero... - Jolene relembrou, para depois continuar mamando.

Sem aviso, ele a empurrou para a cama, e só então ela percebeu que já estava na hora. Abriu as pernas, e ele se aconchegou entre elas. A penetração foi facilitada por toda a lubrificação que as preliminares tinham provocado. Olhou para o relógio: exatas 20:02 horas.

Ele somente penetrou devagar, logo depois foi aumentando tanto o ritmo quanto a força. Em pouco tempo, pareciam dois animais no cio. Fodiam como loucos, estocadas rápidas e violentas. Machucava o sexo dela, que então apoiou as botas nas coxas dele. Apertou o salto, ferindo a carne pálida do vampiro.

Ele se metia nela mais forte que antes, e ela gozou a primeira vez, suada e gritando enlouquecida de prazer. Ele tirou o membro molhado de dentro dela e a virou. A mulher ficou de quatro, e com isso lhe dava a permissão para fazer o que bem-quisesse de seu corpo. O vampiro, com as coxas arroxeadas pelo salto afiadíssimo, tirou as botas negras de Jolene.

Depois ele tirou uma das meias de seda. Puxou os braços dela para trás e a amarrou firmemente pelos pulsos. Indefesa, Jolene quase teve um orgasmo só com a pressão do nó forte. Sentiu então uma nova penetração, adorando cada estocada profunda. Ele a controlava pela cintura, puxando o vestido negro como se fossem as rédeas de sua fêmea submissa. Às vezes a segurava pelas mãos atadas e ela delirava, pois assim ela o sentia ainda mais fundo dentro de si. Gozou novamente, de maneira ainda mais intensa.

— Agora, Jolene, nosso grand finale. Te vejo do outro lado. Quando acordar desse último orgasmo, você verá o mundo de outra maneira. Relaxe e aproveite! - disse isso afastando as nádegas dela.

A mulher amarrada e indefesa sorriu maliciosamente, os olhos brilhando de ansiedade. Não o via, pois estava de costas, mas sentiu o vampiro lhe tirando a outra meia de seda. Que faria agora?

Ele a penetrou por trás e Jolene rebolou, colaborando. Seu buraquinho ardia, mas ela queria aquilo. A meia de seda encobriu seus olhos, e então ele começou a meter muito forte. A mulher sentia que seria rasgada, mas o tesão diminuía tudo. A dor era irrelevante agora. Ele a fodia e puxava pela venda improvisada, uma sensação deliciosa!

Jolene gozou sem precisar pedir por mais, pois ele não parava. Já não ardia tanto assim, e ela agora aceitava o membro intruso entrando e saindo naturalmente, quando a meia escorregou de seus olhos e foi rapidamente girada em torno de seu pescoço. Uma, duas voltas... Estrangulamento!

O vampiro cavalgava Jolene e a puxava forte pela meia de seda. Sentia as fortíssimas contrações vaginais causadas pela falta de ar e pelo orgasmo que se aproximava. Então retirou o membro e rapidamente o enfiou na vagina. Ela tossia, misturando gemidos com pedidos de súplicas e xingamentos. Ele quase gozava, mas de repente percebeu que queria ver a morte nos olhos dela.

Afrouxou a meia, e sentiu o alívio da parceira, que desabou respirando forte. Teve várias contrações involuntárias, parecia estar gozando outra vez. O vampiro a virou, soltando as mãos atadas. Queria sentir as unhas dela lutando, cravando em sua carne. Ela entendeu que tinha enfim chegado a hora de morrer.

Ele nunca tinha deixado Jolene tão molhada. Com um sorriso sarcástico, afastou as coxas dela e a penetrou de novo. Deslizou fácil naquela umidade toda. Ela puxava contra si o quadril do vampiro, forçando mais e mais a penetração. Ele embolou uma das meias e olhou, frio, para sua amante. Antes que ele a amordaçasse, ela perguntou:

— Você me ama, vampiro?

— Sim.

— Amará para sempre? - ela gemeu.

— Pela eternidade que teremos juntos.

Jolene sorriu. Tinha dito suas últimas palavras. Ele enfiou a meia embolada na sua boca, e em seguida fechou os dedos como aço por cima. Começou fodê-la de novo, com toda a força que ela parecia lhe pedir.

Olhando-se fixamente, os dois conseguiam dizer mil coisas sem a necessidade de palavras. Jolene sentia desejada, completa, preenchida, e nessa sua satisfação teve um orgasmo selvagem, intenso, enquanto arranhava todo o corpo dele. Mas em segundos o prazer do gozo deu lugar ao desespero da falta de ar. Ela agora se debatia, tentando em vão escapar, mas de nada adiantava.

Uma lágrima solitária apareceu no olhar suplicante dela, escorrendo até a mão do vampiro. Agora não tinha mais volta. Ele então realizou seu desejo, despejando uma grande quantidade de sêmen estéril dentro dela, enxergando a morte capturada no olhar de sua amante.

Um último brilho no olhar de Jolene, que se apagou, enquanto o vampiro dizia suavemente que ela voltaria para ser eterna. Mas a mulher já não ouvia mais. Estava morta.


Comentários do autor

"Alma mater" era sobre cobiça, e fazia parte do Se7e, meu projeto sobre os sete pecados capitais, mas acabou se tornando algo maior. Um conto individual, que enriqueci com um fato único de 2002: o palíndromo matemático.

Sobre a fantasia do casal, trata-se simplesmente de asfixia ou ANOXIA ERÓTICA, onde os adeptos se deliciam com a falta de oxigênio, aumentando o prazer. É uma prática bastante perigosa.


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