Sistinas
Natal
#20

Natal

"Por detrás desse desejo imperioso de sangue, elemento mais forte e dominador da natureza e hábitos dos vampiros, espreita uma verdade mais sombria, uma verdade que o século XIX apenas podia sugerir ou introduzir de forma indireta. A lenda do vampiro não é apenas uma variedade de (...) contos de horror, gerados pelas superstições primitivas acerca dos mortos. Trata-se de um motivo declaradamente sexual, crivado de erotismo e cheio de sadismo e outras perversões."

Douglas Hill

Ele estava sentado no ônibus, passeando sem destino pelas ruas de iluminação amarelada da madrugada de Sistinas. Pensamentos desordenados assaltavam sua mente, numa verdadeira colcha de ideias e conceitos caóticos, que intercalavam entre si na mesma velocidade com que um adolescente entediado troca os canais de tv pelo controle remoto...

"Estou com fome. Essa loura tesuda toma esse mesmo ônibus toda madrugada. Tenho sede, daria tudo por uma cerveja. Beber cerveja no corpo dela. Lamber o suor que escorre e pinga no umbigo dessa puta. Uma boa pizza. Sim, uma pizza de catupiry. Vadia, olha a boca sensual que essa safada tem. Uma cerveja gelada iria muito bem agora. Não estou com fome, estou com sede..."

Seus pensamentos foram interrompidos quando a loura se virou, abrindo os olhos sonolentos na direção dele. Duas da madrugada, pelo relógio dela. Passou aquela sensação ridícula de que a mulher ouvira seus pensamentos, mas ela se encostou novamente e cochilou.

"Que boca tem essa pilantra. Me lembram os lábios pornográficos da Angelina Jolie. Quantas cervejas eu aguentaria beber hoje? Será que essa boqueteira toparia beber comigo se eu chamasse? Não creio. Essa safada só deve beber a porra do macho que trepa com ela. Por que não escalaram Angelina Jolie para fazer o filme "Garganta Profunda"? De onde tiraram aquela tal Linda Lovelace, que merda... 'Aí vem a chuva/aí vem a chuva...' Putz, eu adoro essa música! The Cult, os caras são foda... - quero trepar com essa loura puta ouvindo essa música... - 'Eu estive esperando por ela/Por tanto tempo', essa mulher tem uma bunda tão deliciosa que deve ser uma maravilha pegá-la de quatro. Cerveja quente me fez mal naquela vez, lembra? Pegá-la de quatro, transformá-la na cadela que ela é..."

A loura fez uma careta, franziu a testa, e soltou um gemido esquisito. O estranho sorriu de leve e seus pensamentos voltaram piores do que nunca:

"Usaria camisinha ou não?? Que fome... Não, não estou com fome, estou com sede. Eu molharia meu pau nas carnes úmidas dela, e... Sede de cerveja, acredita? Que merda não poder tomar cerveja. Cai na real, você não precisa de comida. Nada de camisinha, eu abriria esse rabinho e... Camisinha com reforço, não? Sexo anal. Ela sim, mas você não precisa se preocupar com doenças. A música, sim... 'Rain', essa guitarra é foda. Ela rebolando enquanto encho a bunda dela com minha carne grossa e nervuda e depois eu gozo. Sim, gozo muito. Caramba, meu saco está até dolorido de tesão. Lembra qual o gosto de uma boa pizza de catupiry?"

O ônibus parou, e entrou uma mulher comum, daquelas cotidianas, que não chamam a atenção em nada, fisicamente falando. Vestida totalmente de branco, uma enfermeira que devia estar na troca de turno. Sonolenta também, sentou-se ao lado da loura, que acordou. As duas se conheciam, e o estranho descobriu que ambas trabalhavam no Hospital Central de Sistinas. Elas reclamavam da situação, do salário, das condições precárias, de problemas domésticos, enfim, uma ladainha de problemas. Mas ele não ouvia. Estava pensativo:

"Porra, eu comeria as duas. Ela podia tentar falar mal do chefe com meu pau na boca. Como reclamam! Saúde sem verba, problema antigo. Ela não tem a boca gostosa, então não deixaria que me chupasse. Qual foi a última vez em que estive num hospital? Acho que foi Pneumonia. E a cerveja gelada? Segurando os cabelos da loura, enrabando, essa outra puta resmungando que o marido não a fodia direito do meu lado. Avental branco, que coisa sem graça, isso não me traz nenhuma fantasia. Então estariam peladas. Eu quis foder minha ex-dentista. Puxa, como meus dentes mudaram! Sonhei que enchia de esperma aquela máscara que as dentistas usam, apenas por ela me confessar que não engolia porra..."

Nesse momento ele se descontrolou. Seus olhos vermelhos faiscaram, e as duas moças gritaram! O estranho se assustou, e então se jogou com força para o lado, e atravessou quebrando a janela do ônibus. Caiu desajeitadamente na rua, sob uma chuva de pedaços de vidro. Não sofreu nenhum arranhão. Ficou sentado com cara de idiota no chão, aí passou as mãos ajeitando os cabelos, e gargalhou alto...

Começou uma chuva leve, gelada, e ele pensou que as coisas não podiam estar piores.

"Detesto chuva porque depois minha pele fica com cheiro de embolorada. É horrível!"

O estranho vampiro então levantou-se, ficou em silêncio por um momento na rua deserta, e então decididamente tomou uma direção, como se tivesse escutado algo muito agradável.

Acima dos prédios, muito perto do céu, estava um ser divino. Ou quase. Nadya, o anjo condenado de Sistinas, estava atenta aos movimentos daquela estranha cidade.

"Uma Sodoma moderna. Não me surpreenderia se uma chuva de meteoros se precipitasse dos céus e acabasse com tudo isso..."

Ela estava perseguindo um ser das trevas. Ele colecionava conquistas pela noite, e quando não conseguia mulheres, contratava garotos de programa. Era um vampiro. Quando já estava alimentado, incinerava os corpos de suas vítimas, e aquele cheiro de carne queimada uma noite atraiu Nadya...

"Esses seres são piores que ratos. Quando destruímos seu ninho, eles fogem. Vampiros fogem por carregarem um segredo muito antigo e terrível, e se tornam mais xenófobos, arredios, desconfiados... Quando eu cheguei em seu refúgio, ele tratou de sumir! Agora ele mudou seu modo de agir. Ataca, se alimenta e mata na rua mesmo. Maldito seja!"

Mas Nadya era capaz de nomear e rastrear qualquer criatura sobre a Terra após sentir seu cheiro. E esse vampiro fedia. Ela estava cada vez mais perto, sabia que o encontraria ainda nessa madrugada.

"Tem que ser nesta noite. Quando o Sol desponta no céu, eles precisam mais do que nunca desaparecer..."


O vampiro, sem saber que estava sendo perseguido por uma caçadora implacável, queria se alimentar. Urgente! Quando escutou som alto e conversas, soube que estava próximo de algum barzinho. De fato estava. Deu uma checada no próprio visual, antes de se aproximar do lugar. Era um pub normal, nada de excepcional. Nem de longe lembrava a badalação das grandes casas de Sistinas, como o Devil's e o Princess of the Night.

Logo na entrada, uma garota no mínimo estranha, trajando uma camiseta branca surrada onde se lia "The Sisterhood" lhe entregou um panfleto, onde estavam listadas todas as bandas underground que tocariam ali naquela madrugada. O vampiro deu um sorriso para a menina, pouco mais de dezesseis anos, e entrou. O lugar era apertado, quente ao extremo, abafado mesmo, e cheirava à cerveja.

"Cerveja, rock, barulho! Bons tempos..." - pensou o vampiro, já que hoje em dia qualquer ruído lhe dava dor de cabeça por conta de sua aguçadíssima audição.

Naquela noite não curtiria o gosto refrescante de uma deliciosa cerveja bem gelada. Também não queria ouvir a música. Estava ali apenas pelo sangue. Mas as coisas subitamente ficaram interessantes, quando o vampiro enxergou uma mocinha no meio daquela loucura toda.

Não era alta. Era magérrima, do padrão de qualquer modelo famosa. Os ombros branquinhos, macios, um convite a uma mordida. Tinha seios enormes, generosos, que saltavam apertados pelo top preto, onde se lia em letras góticas: "Fuck me and Marry me young". Quando ela caminhou em sua direção, sentiu o olhar mais expressivo e chamativo de sua vida. Ela estava com uma barriguinha invejável de fora, ostentando um piercing prateado, que valorizava o umbigo... E a calça de couro bem justo apenas completava o figurino, já que as pernas dela não eram grossas, mas bem modeladas.

A beldade parou na frente do vampiro. Tinha cabelos curtos, um corte moderno, que deixava à mostra uma tatuagem serpentina que começava no pescoço e escorria pelas costas. Com um sorriso cínico nos lábios, sussurrou entre todo aquele barulho do lugar, mas alto o suficiente para somente ele escutar:

— Não conte meu segredo, que eu não conto o seu.

Foi quando ele caiu na real e percebeu: ela também era uma vampira! Eram seres raros, e uma tão bela quanto essa... Uau!

"Tirei a sorte grande! Pena que os lábios sejam tão finos. Poderiam ser mais grossos, eu queria tanto foder uma boquinha hoje..."

— Você também é da raça? Ainda não sinto o poder do sangue em você... - perguntou.

— Fui transformada recentemente. Então, que você acha da noite de hoje? Podemos nos divertir muito, nunca cacei acompanhada por alguém da raça. E hoje só temos nós aqui dentro, dois predadores entre as ovelhas!

A ideia de se alimentar acompanhado daquela linda vampira era realmente agradável e excitante. Durante um tempo apenas conversaram, trocaram experiências, mas não se conheceram totalmente. Seres noturnos sempre tem segredos a esconder, muitos mais do que os humanos. Disseram seus nomes, mas ele estava mentindo, e ela provavelmente também estava. "Pode me chamar de Jasmine."

— O que você faz aqui, numa espelunca dessas? Não creio que uma gata como você frequente esse tipo de lugar.

— Não é o lugar, sabe? É a companhia. Mas e você, deve estar desesperado de fome, não? Para estar aqui, numa "espelunca dessas", só pode estar faminto.

O vampiro faiscou um olhar de desaprovação. Nunca demonstre seu estado a outro ser. Menos ainda se for da raça. Desconversou:

— Você não respondeu totalmente minha pergunta...

— Saberá a resposta em algumas horas. Eu prometo que entenderá. Agora, que tal pegarmos uns pescoços macios entre esse bando de corvos cheios de sangue?

Segurando a mão de Jasmine, o vampiro enveredou-se pelo meio da massa de jovens, já de olho em algum alvo em potencial. Para tornar o jogo mais excitante, ele preferiu um casal já turbinado por álcool e ecstasy. Foi relativamente fácil. Em minutos, os quatro dançavam sensualmente, movidos pela sonoridade da casa.

Ele colou na moça, que pelo efeito da droga estava muito quente, e queimava sem perceber uma febre de 42 graus. O vampiro sentiu-se desconfortável com o calor, mas assim que pôde encostou-se com ela num canto escuro, acompanhado por Jasmine e seu parceiro... O ecstasy comandava as atitudes da garota, que começou uma bolinação selvagem com o vampiro.

Já a vampira, por sua vez, também se esfregava e amassava vigorosamente seu escolhido. Num determinado momento o encostou na parede do lugar, e rasgou sua camisa. O rapaz gemeu e Jasmine aninhou-se entre os braços fortes, encostou-se no peito e lambia com fúria os mamilos dele.

O vampiro, encostado ao lado, segurava e apertava os seios da garota, que também tinha sua saia aberta sem perceber. No escuro do canto, o casal de namorados era devorado pelas duas feras soltas da noite. Uma aura esquisita, quase uma névoa, impedia o restante da casa noturna enxergar os quatro amantes se apertando ali no canto.

Jasmine beijava a nuca do rapaz, olhando enquanto o vampiro mamava delicadamente no seio da garota. Um filete de sangue desceu, molhando o queixo dele. A vampira enfiou a mão dentro da calça de sua vítima, percebendo o quanto ele estava excitado.

— Vou saciar minha sede de sangue com ela, mas é você quem eu quero... - sussurrou o vampiro.

Ela lhe sorriu de volta, enquanto desceu lambendo o corpo do rapaz, molhando desde os mamilos, passando pela barriga, e então abriu a calça dele. Já o vampiro tinha erguido a saia da garota, e explorava tudo, colocando os dedos dentro da calcinha dela, sentindo o calor exagerado que emanava. Mas também sentiu a umidade, molhou seus dedos e levou à boca da vampira.

Jasmine lhe deu uma leve mordida, enquanto chupava seu dedo médio. O rapaz que ela escolhera estava embasbacado. Talvez nesse momento tenha percebido que eram, tanto ele quanto sua namoradinha, presas de duas criaturas noturnas, mas a excitação era demais. A vampira voltou a atenção a ele, encarando nos olhos, enquanto suas mãos macias seguravam o membro duro. Escutou um breve gemido, então se ajoelhou, e abocanhou.

O vampiro se excitou com aquilo. Foi descendo lentamente também, ergueu uma das pernas da garota e apoiou em seu ombro. Assim ela ficou toda exposta, como ele gostava. Rasgou a calcinha dela a dentadas afiadas, e a garota apenas resmungava debilmente. Afundou sua língua nas carnes molhadas, sentindo o gosto do suor que vinha junto. Depois de várias linguadas por dentro, penetrou um dedo enquanto dava mordidinhas e lambidas no clitóris dela.

O casal mortal estava encostado na parede, numa rara cena. Dois vampiros estavam ajoelhados diante deles. Trocaram um beijo apaixonado, e ele chegou a dizer para a garota que lembraria daquela chupada por toda sua vida. Eles só não imaginavam que suas vidas seriam encurtadas repentinamente, quando tudo começou a doer. Bêbado e drogado, ele não teve força nenhuma para se livrar da vampira que agora mordia e chupava, esvaziando seu corpo.

A menina percebeu a dor do seu namorado quando ele mordeu sua língua durante o beijo. Se assustou, olhou para baixo, tentou puxar o vampiro pelos cabelos para afastá-lo de sua vagina, mas não dava. Ele a travou pelas coxas, e bebia com prazer. Antes de desmaiar ela viu que eram os vampiros que se beijavam agora, e que escorria esperma da boca de Jasmine. Antes de morrer, o rapaz tinha gozado. Tentou gritar, mas a mão do vampiro tapou sua boca com força. Os olhos vermelhos faiscaram novamente, e ela apagou para sempre...

Jasmine beijou o vampiro com vontade, misturando assim o esperma e sangue que carregava na boca e nos lábios. Sentiu toda a raiva dele após esse gesto, afinal, tinha obrigado o cara a sentir o gosto de outro. Riu por dentro com esse pensamento. Levou uma mordida forte nos lábios, e percebeu que teria que se entregar, pois estava nos braços de um maldito mais velho, poderoso e provavelmente muito raivoso agora. Ela quis se desvencilhar:

— Vamos jogar esses dois no banheiro. Você não deixou marcas, né?

O vampiro suspirou, indignado, e então ergueu o rapaz do chão. Vestiu-lhe direito as calças, e o apoiou em seu ombro. Fingiu estar levando o amigo bêbado e drogado para o banheiro. Jasmine fez o mesmo com a menina, cambaleando, e em minutos os dois corpos estavam trancados nos banheiros imundos do lugar. Só seriam encontrados no fim da noite...

— Foi muito excitante! Aquele cara era delicioso. Não deixaria um mortal gozar em minha boca à toa. Foi bom para você também?

— Sim, muito. Mas sei que minha noite será muito mais interessante com você. - ele resmungou, com cara de chateado.

Jasmine sentiu um clima pesado, um silêncio chato entre os dois. Teria que ceder a ele, mas não estava afim, dane-se que fosse a lei da selva. Aquilo não estava escrito em nenhum lugar, mas sabia que tinha que ser assim. Então percebeu que estava na hora, e aliviada olhou para o pequeno palco do lugar.

— Olha! Eles vão tocar agora!

— Eles quem? - ele perguntou, surpreso.

— O motivo de minha vinda até aqui, você não queria saber?


Luna, a guitarrista performática, dava a última ajeitada nas roupas provocantes que gostava de usar. Caiaphas, o tecladista, dormia em um dos cantos, apesar de todo o barulho do bar. E ainda tinha Jörg, uma montanha de músculos, o baterista. Ele estava impaciente com o atraso do vocalista, baixista e mentor intelectual da banda, o Lewd.

— Vocês são os próximos no palco, em cinco minutos! - gritou alguém, colaborando mais ainda com o nervosismo deles.

— Cadê ele?

— Relaxa Jörg. Ele está chegando. Nunca perdeu um show.

— Mas sempre atrasa, caralho. Isso me cansa, Luna!

Ela suspirou conformada, quando o baterista desabafou:

— Vou subir no palco, estarei ajustando as peles da minha bateria, ok? Não vou ficar me estressando aqui...

No mesmo instante em que Jörg adentrou o palco, Lewd chegou acompanhado de Marian, sua namorada. Luna estava à beira da loucura com o atraso, em contraste com Caiaphas, que dormia serenamente.

— Onde esteve? Estamos a três minutos de tocar! - gritou a guitarrista.

— Relaxa, é Natal! - respondeu Lewd, calmamente. - Acorde Caiaphas, nós vamos entrar!

O tecladista acordou, e olhou meio sem jeito para Marian:

— Oi. Você aceitou vir assistir ao show de novo?

Ela sorriu - "Ele sempre precisa de uma musa." - respondeu.

— Como pode namorar esse cara? - ironizou Caiaphas.

Lewd apesar de parecer tranquilo, na verdade, estava nervoso. Precisava mudar de vida logo. Ou começava a ganhar algum respeito, para se livrar da fama de banda underground, ou...

— O que vamos tocar hoje? - perguntou Luna, interrompendo os pensamentos dele.

— O de sempre... Aliás, esqueçam as covers de Candlemass. O pessoal não curte muito, sabia? - disse Caiaphas.

— Como assim? Faz parte de nosso show!! - explodiu Lewd.

— Sim, eu sei, mas...

— Não, Caiaphas! Não vou mudar nosso repertório!

Marian, de repente, sentiu-se ridícula, por estar ali, presenciando aquela discussão. Eram, na verdade, uma banda de fracassados. Sem sucesso comercial, com apenas alguns fãs fiéis. Mas, ao mesmo tempo, tinha algo de poético naquilo. Ela sentia uma alegria quase adolescente por estar acompanhando a formação da banda Erotasia.

— Calma, Lewd. Vamos analisar direito, certo? Uma cover eles devem deixar passar.

— Que droga! Depois reclamam que entramos frios no palco! Deturpam nosso set de músicas, e ainda pagam pouco! Porque você aceitou tocar aqui, Caiaphas?

— Ei, ei ei! Precisamos da grana, tá? Ainda não pagamos o maldito furgão!

— E nem temos cerveja. - sorriu Luna.

— Calma, suba naquele palco, toque como nunca. Faça como o Caiaphas disse, mande uma cover só! O resto fluirá normalmente. Eu estarei lá, olhando para você, como sempre, ok? Apenas toque sua música. - disse Marian, olhando para Lewd.

Ele agora apenas dedilhava seu instrumento, cabisbaixo... Tudo daria errado novamente!

Jörg viu Luna e Caiaphas entrarem no palco, e não quis olhar mais. Não gostava de encarar a figura sombria do Lewd, um olhar incompreensível que lhe perturbava. Sentiu apenas sua presença quando ele passou, e uma vibração estranha. Parecia que o espírito da luxúria estava entrando naquela área.

Não se sabe se foi por estar contrariado que Lewd simplesmente deu uma de suas melhores apresentações junto a um público. Luna estava perfeita, e esbanjava técnica e sensualidade na guitarra. Essa sua atuação era uma das marcas registradas da banda. Jörg acabou com seu instrumento. Tocava com fúria e precisão em doses certas.

Já Caiaphas apenas tocou, calmo como sempre, e torceu para tudo dar certo. Quando viu a boa aceitação do público, se emocionou. Queria mais que todos que aquele show vingasse.

No meio das músicas sombrias compostas pela estranha mente do Lewd, dois vampiros conversavam ao longe:

— Não entendi. Você está aqui para acompanhar o show desses caras? Por quê?

Jasmine mantinha o olhar pregado no palco, seguindo cada passo do seu objeto de desejo.

"Não é a banda que aprecio... é ELE." - resmungou distraída, e apontou para Lewd, que nesse momento dizia à plateia que tocaria sua música de Natal. Tinha uma voz normal, o que levava todos a pensar que qualquer pessoa podia cantar... Fez-se silêncio no bar, enquanto ele vociferava:

"Os sinos do Natal tocam,

Papai Noel em todas as ruas vermelhas

Todas essas coisas, comuns nessa época

Anastasia vestida numa fantasia excitante

Uma stripper natalina

Que se arrepia toda enquanto desço sua calcinha

Molho entre suas coxas

Neve derretida em nossa janela

Neve derretida por nossa luxúria

Por nosso fogo."

O vampiro detestou Lewd à primeira vista, ainda mais por ele roubar para si toda a atenção de Jasmine. Porém, quem esteve no bar naquela noite, admirou a banda Erotasia. E ainda engoliram duas covers de Candlemass, que Lewd fez questão de manter no repertório. Após quase uma hora de música, o show terminou.

— Por quê? - quis saber o vampiro, insistindo, pois não queria perder de vista aquela gracinha.

— Eu o acompanho desde a época em que ainda respirava. Vi esses caras surgirem. Compare isso com um namoro adolescente, quase platônico. Hoje sou uma vampira, algo maior, sou a dama noturna, pego tudo o que quero. E sempre quero o melhor. E quero o Lewd. Quero mordê-lo, sugar sua vida. Dá para entender? É uma fantasia, um simples fetiche meu, um capricho! - desabafou Jasmine.

Enquanto isso, no palco, os músicos agradecem e desmontam seus equipamentos. A banda Erotasia saía de cena, e nesse momento a vampira percebeu que seria impossível morder o Lewd naquela noite. Estava cheio de gente em torno dele, o show realmente foi um enorme sucesso.

Caiaphas era meio que o empresário da banda. Ainda ficava no local, procurando novos bares para tocarem. Pois se surpreendeu quando um homem extremamente alto se aproximou dele:

— Meu nome é Spot. Represento uma casa noturna que busca por novas tendências, me entende?

Caiaphas cumprimentou o estranho. Parecia um sonho! Aquela que seria a pior noite da banda, acaba rendendo um novo contato! Sorrindo, foi contar a boa nova para o pessoal. Luna, como sempre, estava já "desligada". Jörg e Lewd guardavam os equipamentos, observados por Marian.

— Conseguimos, caras!!

— Sim, eles gostaram. Isso é bom. Na próxima vez, traremos mais covers! - brincou Lewd.

— Você conhece um lugar chamado Princess of the Night?

Marian olhou incrédula para o tecladista.

— Princess...?

— Sim, conseguimos! É a melhor casa noturna de Sistinas, e tocaremos lá!!

Lewd sorriu, primeiro timidamente.

— Deu certo! - animou Marian.

Ele então se rendeu, e a abraçou, ainda incrédulo com a boa notícia.

— Lewd, me escute... Acho que semana que vem nossas vidas mudarão completamente!

— Tem razão, Caiaphas, tem toda razão!


— Esse tal Lewd ficou muito famoso hoje. Acho que seu fetiche em mordê-lo terá que esperar, não acha, minha querida vampira?

— Não gostou de saber de minha fantasia né? Mas tem algo para você também. Está vendo aquela vagabundinha ali? É a namorada dele. Chama-se Marian. Poderia pegá-la, que tal? Assim dividimos meio a meio, topa? - desafiou Jasmine.

O vampiro analisou por muito tempo a pequena Marian. Ela tinha uma mecha branca nos cabelos pretos que lhe davam um certo charme. Enfim, olhou novamente para Jasmine e disparou:

— Ok, eu topo. Pegamos os dois. Quando?

— Essa semana. - respondeu seca a vampira, acompanhando atentamente com o olhar vidrado enquanto Lewd saía do bar, abraçado com Marian...


Valerie olhou para a porta de seu quarto particular. Tinha a boca tingida de sangue e algum líquido indefinido escorria pelas longas unhas pretas. Não gostava de ser interrompida nesses momentos. Mas lá estava Spot, parado, como que aguardando um comando. Ela odiava como seus servos se tornavam apáticos, escravizados.

— Eles virão, a tal banda?

— Sim, senhora. Aceitaram o convite de bom grado.

— Ouvi falar deles. Erotasia, não? Vamos ver se valem à pena. - ela resmungou, ligeiramente chateada, enquanto um homem vendado se debatia na cama, à mercê das garras da vampira - Cuide de tudo Spot.

— Pode deixar, mestra. Levo essa bandeja?

Valerie acenou a cabeça, e Spot pegou a bandeja de cima da mesa. Antes ele ficava de estômago embrulhado, mas agora estava mais acostumado com as excentricidades de sua mestra.

Saiu calmamente do aposento, ignorando os gemidos, sem saber se aquilo que ouvia era dor ou prazer...


Esse conto continua no Reveillon, afinal Nadya está caçando, e a vampira Jasmine quer o Lewd...


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"Natal" foi publicado originalmente em 20.12.02.


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