Sistinas
Seu sangue será meu vinho
#52

Seu sangue será meu vinho

"Mas de todos os demônios que conheci
Nenhum poderia ser comparado a você

Todo dia que você me alimenta com ódio
Eu cresço mais forte"

See the light - Ghost

— É um ônibus preto que circula nas primeiras horas de sábado. Não todas as madrugadas, só algumas poucas por ano, e somente pessoas escolhidas podem embarcar nele.

— E quem escolhe? - ele comentou, ainda intimidado com a amplitude do saguão branco mármore.

— Não me interrompa. - disse a negra atrás da mesa, sem mudar o tom neutro de voz. - É a motorista quem escolhe, que também é a hostess do evento. É um ônibus-balada-liberal.

— Que diferente.

— Muito, em todos os sentidos. Agora imagine como a fila de espera é enorme. Isso faz desse ônibus algo muito, muito exclusivo. Nosso Mestre - sua voz tão firme vacilou nesse instante, e ela deu um meio sorriso de um segundo - Aham, desculpe... eu quis dizer nosso empregador. Ele tem um carinho especial por esse evento. Um dos aspectos que levamos muito em conta é o cuidado com todos os envolvidos. E nosso segurança principal, que era um homem de confiança, teve alguns contratempos, então você foi indicado para essa vaga. É grande, forte, a pessoa que precisamos. Por isso te chamei aqui.

— Quem me indicou?

— Ah, isso não importa. - ela mexeu nas pontas claras do cabelo volumoso - Talvez alguma empresa onde tenha trabalhado ou alguma amiga... Tem interesse na vaga, ou perdi meu tempo?

Ele olhou outra vez ao redor, para enormidade daquele lugar que se dava ao luxo do minimalismo com apenas uma mesa chique e duas portas exuberantes. Parecia a antessala de um templo opulento. Imaginou que o tal "mestre" empregador tinha dinheiro para manter aquilo tudo. E ele precisava muito de dinheiro.

— Tenho interesse, claro. Deve saber também que estou desempregado a algum tempo e...

— Desempregado a mais tempo que gostaria, não é mesmo? Então depende de você aceitar essa vaga agora e receber um salário acima do teto da sua categoria.

Em vez de responder, ele buscou no bolso seus documentos e os esticou na direção dela.

— Ah, não será necessário. Como pode ver não lido com papeladas aqui. Só com pessoas. Não precisamos nem de nomes. Para nós você será o "Segurança". E receberá seu pagamento em dinheiro vivo antes do amanhecer, tudo bem? - ela pontuou a voz de tal maneira que ele ficou constrangido só de pensar em não aceitar, mesmo estranhando toda aquela falta de burocracia.

— Ok, qual o local de partida e que horas devo estar lá na sexta?


O teto era alto, dois metros e meio pelo menos, e os espelhos instalados confundiam um pouco da primeira vez. Aproveitou que estava sozinho e sacou o celular para tirar fotos, impressionado. Todos os vidros eram negros como a lataria externa. O bicho era igualmente preto por dentro e por fora. A temperatura era agradável, controlada. No lugar dos assentos, sofás de couro. Imaginou transas indescritíveis neles, posições impossíveis, orgias indizíveis. No meio do ônibus, um box quadrado transparente subia do chão ao teto, com uma ducha dentro. Ao final do corredor tinha um espaço entre os assentos, um bar talvez, e por último uma porta que devia ser do banheiro. Correu os olhos até uma das TV de 60", desligada. Nesse momento viu pelo reflexo da tela grande que alguém estava bem atrás dele.

Virou-se rapidamente, assustado. Uma moça branquela o estudava, quieta. Desde quando? Jurava que a porra da garagem tava vazia. Seus olhos grandes, curiosos, se destacavam ainda mais com os cílios enormes e o delineado em forma de gato. Ao redor deles uma sombra avermelhada contrastava com a pele alva. A boca era bem desenhada e tinha lábios cheios. O batom era tão preto quanto os cabelos, que desciam nos ombros e paravam. Estava nua da cintura para cima; apenas uma camiseta arrastão muito fina cobria sua pele, deixando transparecer seus seios firmes e mamilos atravessados com piercings. Também tinha metal no umbigo e quatro delicados morcegos tatuados esvoaçando ao redor dele. A calça preta justa complementava o visual junto aos coturnos.

— Uau, você é grande mesmo. É o segurança? Desligue seu celular e seja bem-vindo. A primeira coisa que precisa saber é que eles são proibidos aqui. Nenhum de nossos passageiros quer fotos ou vídeos constrangedores vazando na internet.

Trazia um pequeno cofre aberto nas mãos, e o estendeu na direção dele. Ele desligou e depositou o aparelho lá dentro.

— Mais algo que eu deva saber?

— Eu sou uma vampira.

— Quê?

— Uma vampira. - ela repetiu, como se fosse a coisa mais natural do mundo - Espera aí, você sabe ONDE está se metendo, né?

— Claro, claro. - ele respondeu rápido, torcendo para não ser dispensado. Acompanhou com o olhar ela deixar o cofre com seu celular numa estante da garagem, junto das caixas de ferramentas e diversos galões de óleo e combustíveis.

— Ótimo. Gostou da estrutura? Já viu algo assim por aí?

— Não, nunca. Gostei sim. - ele se confundiu nas palavras e, virando-se, escorregou a aliança dourada do dedo pro bolso - É... olha... essa coisa de vampiros, isso não existe. Você quer dizer que se junta com seus amiguinhos e bebe vinho em cemitérios?

— Sério que tá perguntando isso? - ela deu as costas, pulando para o confortável assento do motorista. Girou a chave no contato, e seus coturnos dançaram nos pedais do veículo.

— Ok, então. - ele suspirou, se esforçando para pensar em coisas que não deveriam existir - Todo vampiro tem poderes. Você se transforma em morcego, algo assim?

— Não, nem todos temos poderes... mas sinto o cheiro de mofo na sua jaqueta por baixo desse perfume caro que usa para disfarçar. Também posso ouvir sua respiração, mesmo se estiver lá no fundo do ônibus e com o equipamento do DJ ligado por cima.

— Impressionante... - ele resmungou, cheirando o couro da própria jaqueta, enquanto ela manobrava o monstro metálico enegrecido por uma viela secundária e ganhava as ruas.

— Você tem medo de cruzes?

— Se tivesse prestado mais atenção em mim do que nos meus peitos, veria que não, espertão. - ela ergueu o pingente em direção ao retrovisor para que ele pudesse ver seu delicado crucifixo cravejado de pedras brilhantes vermelhas. Estava pendurado na discreta coleira social que adornava seu pescoço. Piscou para ele e continuou falando:

— Você é novo nisso. Vou te dar a real, pois imagino que seja um pai de família querendo um dinheiro digno, e não esses filhos das putas fodidos que embarcam pelo caminho.

— E por que imagina que eu seja um pai de família precisando de grana?

— Vi sua tela de celular. Tem foto com uma criança, e ela parece muito com você. Entre o cheiro da jaqueta e seu perfume forte tem uma fragrância leve, infantil. Você a abraçou antes de sair. E também reparei quando sua aliança sumiu.

Ele abaixou a cabeça, sorrindo.

— Fica esperto. Pode comer as clientes, algumas fantasiam com isso e faz bem para fama do ônibus, mas não se distraia muito, come de jeito mecânico, sabe? Meteção bate estaca, que elas querem é isso mesmo, a virilidade que anda faltando no mundo. Mulher gosta de sentir que está sendo comida.

— Por que está me dizendo essas coisas?

— Porque não quero limpar sujeira de ninguém. - ela ia falando e conduzindo o ônibus no escuro absoluto, atenta em tudo, sem precisar ligar os faróis - O último cara que fez a segurança entregou a arma na mão de um doidão louco na droga. Eu escutei o clique do gatilho e senti o cheiro de sangue e miolos se espalhando pelo teto. Por isso não permitimos armas mais. Você se garante numa briga?

— Claro. - ele olhava para o teto agora - Imagino que quem tem dinheiro para esbanjar aqui não deva ser bom de briga.

— Eles não pagam com dinheiro. Mas isso não vem ao caso, o importante é que VOCÊ receberá em dinheiro. Olha, estou falando essas coisas para te prevenir, mas não quero gerar más energias. Esse lugar é seu sustento agora, e teoricamente essas pessoas que embarcam são seus patrões também. Garanta a segurança, dê o seu melhor e não vacile. Ah, importante: o Mestre é bem influente, então nosso caminho é livre. O percurso não tem bloqueios policiais, nem fiscalizações de nenhum tipo. Nenhuma interação com a lei, quero dizer. Significa que somos a lei aqui dentro, mas, se algo acontecer, ninguém virá nos ajudar.

— Entendido, e... Obrigado. Você sabe... pelo papo reto.

— Me ajuda que te ajudo. Tenta me foder que te fodo antes. É simples assim.

— Não me leva a mal, mas se é tão durona, por que não faz a segurança enquanto eu dirijo?

— Não levei a mal querido. Eu dirijo porque gosto e sei filtrar quem pode entrar ou não. Sou a hostess da luxúria, eu digo quem entra ou não. Adoro esse poder.

— E como faz isso de filtrar?

— Eu sei quem é saudável, só de olhar pra pessoa. Não me pergunte como, é um dom que o Mestre me concedeu.

— Saudável...? Como assim?

— Você é bem forte e bonito, mas não é muito de pensar, né? Eu sei quando o humano tem doenças. Quando o sangue é podre. Quando a própria carne é podre.

— Isso te faz a hostess perfeita. Legal, bem legal. Então se eu for assediado por qualquer mulher que entrar aqui posso corresponder pois...

— Não, algumas estão fora de seu alcance. São as bonecas do Mestre. Estarão aqui para entreter quem mais entrar pela porta, e não para nosso desfrute.

— E como saberei que...?

— Saberá. - ela cortou a conversa, ligando o som alto e jogando o enorme veículo na estrada principal. Acendeu toda a parafernália de luzes e a estrutura inteira vibrou, ganhando cores tão frias quanto as ruas.


Na quadra seguinte subiu um homem frágil de camiseta cor de vinho e colete. Abaixou os olhos ao passar pela vampira do volante, indo direto para o fundo do veículo, onde escamoteou um balcão, revelando um bar completo embutido na parede.

— Só não peça um Mojito. - ela se limitou a sussurrar - Ele ODEIA. Prefira algo com gin. Ele sabe preparar um Negroni divino.

Algumas quadras depois embarcaram outros três homens. Corpos bonitos, sendo que dois deles eram idênticos: loiros, cabeludos, olhos cristalinos, braços fortes, feições delicadas e bochechas coradas. Anjos inflados. O terceiro entre eles era negro, mais esbelto que musculoso e de visual espalhafatoso. Tinha a fala e o andar afetados, borboleteando ao subir os degraus.

— Está uma linda noite, não? E você, é o novo segurança? - suspirou de maneira ensaiada. Usava uma camiseta amarela agarrada onde se lia "Charlie".

— Sou sim. - resmungou o Segurança, de má vontade. Os gêmeos, por sua vez, subiram calados e trataram de sentar perto do bar.

— Que foi, achou que aqui só teria diversão hétero? Tão bonitinho, mas tão ordinário. Acho que não gosto de você.

— Eu também não gosto de você. Mas vou garantir sua segurança noite adentro.

— Isso, faça sua função querido. - zombou "Charlie", então se dirigiu aos gêmeos e sentou no colo do da esquerda.

— É um casal de três, não queira saber. Fora eles, ninguém sabe como funciona. - a vampira comentou.

— Motorista! - gritou Charlie de repente - Cuidado nesse volante, mulher. Tive um sonho péssimo ontem, estou com um mau pressentimento...

A vampira não respondeu, e alguns minutos depois parou diante de um cara com fones de ouvido gigantes. Aparentemente era da equipe do ônibus. Ainda nos degraus pediu a vampira:

— Desliga esse som ultrapassado aí, chegou a música da alegria.

— Então você é o cara do pendrive, que vai animar a galera? - quis brincar o Segurança.

— Sou. - respondeu - E você é o senhor músculos né?

— Espero não ter que usá-los.

O DJ ignorou a resposta e se acomodou também perto do bar, onde plugou alguns equipamentos. Em poucos minutos estava com uma mesa pronta e soltando um som eletrônico e hipnótico; algo tão bom e dançante quanto genérico. Ao seu redor as luzes respondiam às batidas. O trisal de homens se animaram e agora trocavam risos, drinks, beijos e carícias entre si.


A vampira levou o ônibus pela rota das Catedrais, pois cobria toda a área portuária de Sistinas e passava entre as três grandes igrejas da cidade. E logo na primeira da rota - a Catedral de Nossa Senhora, a mais antiga delas - em frente aos enormes vitrais que tinham fama internacional, a motorista parou o ônibus para embarcar um casal exótico. Ele era careca e ostentava uma barba cheia e ruiva, quase tão avermelhada quanto as cordas que trazia amarradas no ombro. Sua acompanhante era uma oriental miúda, um corpinho frágil num óbvio figurino de colegial japonesa: uma saia plissada preta, meiões, camisa branca e tênis.

— Eu detesto quando eles embarcam. - sussurrou a vampira.

— Por quê?

— Porque o showzinho deles é bem foda. Desperta demais a libido e as coisas aí atrás ficam realmente SELVAGENS.

A porta abriu e o Segurança, intrigado, abriu passagem pra que subissem. Ambos agradeceram e o homem entrou vasculhando o teto do ônibus, até que localizou umas roldanas na estrutura. Então beijou a testa da japonesa, que já estava sentada, e começou seu trabalho meticuloso de passar as cordas, deixando tudo pronto. Sua companheira e cúmplice observava cada detalhe com uma expressão desejosa. Olhou para os outros passageiros da equipe, sorrindo e acenando com a cabeça. Um dos gêmeos lhe trouxe uma bebida, e ela agradeceu efusivamente.

— Ele vai...? - começou o Segurança.

— Sim, ele vai amarrar a moça e suspendê-la. E tomara que não resolva fodê-la, não essa noite, por favor.

— Acho que quero ver isso.

— Claro que quer, todos querem! E ela quer que todos vejam. - resmungou de volta a vampira. As torres gêmeas da Grande Catedral, a segunda da rota, apareceram diante deles, preenchendo a noite. O Segurança gostava daquele lugar, conhecera sua esposa ali, antes dela trancar a faculdade de Teologia que funcionava naquele prédio tão imponente. Na calçada, três pessoas esperavam: uma mulher alta masculinizada com calça e botas rústicas e uma camisa xadrez aberta, exibindo o colo, os seios e uma barriga trincada de academia. Aquele era o melhor decote que ele já tinha visto, e tinha visto muitos.

Em cada mão ela trazia uma coleira com um escravo ajoelhado. Corpos tão fortes quanto o dela, mas submissos, inteiramente encapados em látex preto. Máscaras com bocas e olhos costurados.

Ela os conduziu gentilmente ao ônibus e, ao passar pelo Segurança, o encarou firmemente. Algo dentro dele fraquejou; eram raras as mulheres cujos olhos estavam na mesma altura que os dele, podia contar nos dedos de uma mão só quantas conhecera. Ela escolheu um lugar para sentar, e os dois escravos - rejeitados como assentos - se resignaram e se agacharam em frente para que apoiasse as pernas poderosas neles. Pareceu não conhecer o careca nem sua japonesa, mas cumprimentou com um olhar aos gêmeos e Charlie. Acenou para o barman, que lhe trouxe alguma bebida exótica.

— Eu costumo pendurar meus escravos também, mas uso um sling de couro fixo no teto com correntes para isso, quase uma cadeirinha. Bom que posso sentar na cara deles quando sinto vontade. - ela comentou, puxando papo com o ruivo careca. - Admiro quem tem habilidade com as cordas, parabéns. Belo trabalho!

— Obrigado, distinta dama. - ele agradeceu, ainda finalizando o trabalho - Eu domino a técnica, mas é ela quem embeleza a cena. Costumo amarrá-la em móveis também, ela poderia ser uma cadeira excelente para você sentar.

— Oh não, obrigada. Prefiro me sentar em escravos machos. Às vezes proíbo a ejaculação deles por semanas, para serem os assentos rijos que gosto.

O careca sorriu, entendendo. A apresentação dele para noite parecia quase pronta: a corda grossa e vermelha descia do teto e envolvia a cintura e o quadril da japonesinha, agora completamente nua, passando pelas costas e ombros. Estava suspensa na horizontal, o rosto para cima e as pernas magrinhas apontavam pro teto. Um poderoso nó amarrava os pés e os tornozelos unidos e, ao mesmo tempo, era uma alça de controle na mão do careca. A mulher, suspensa a meia altura com os joelhos dobrados e os pulsos amarrados nas canelas, agora era um pêndulo, a boca em flor de um lado e seus orifícios expostos do outro. Seu corpinho girava e balançava suavemente, mas ela não parecia ficar tonta. Pelo contrário, estava feliz. A visão de seus buracos não era vulgar, era até artística. Quando o giro da corda alinhou sua cabeça à Senhora dos escravos, ela ganhou um beijo na testa.

— Eles parecem se dar muito bem, esse pessoal. - comentou o segurança, torcendo para a vampira não perceber a inesperada ereção.

— E por que não? São apenas pessoas, como você. A diferença é que eles vivem suas fantasias.

Os ponteiros do relógio suíço da torre da Catedral de Sistinas - a maior da cidade - marcavam 00:35 quando a vampira encostou o ônibus ali. Um carro luxuoso apareceu pela esquerda e estacionou em frente. Dele desceu um lorde de terno branco completo e impecável, porém descalço. Depois desce sua companheira, uma mulher caminhando de quatro, a bunda lançada bem para o alto, com saltos lindos nos pés e os sapatos dele calçados nas mãos. Trotou atrás dele até o ônibus, onde também ganhou os degraus de quatro. Não era um trote desengonçado, tinha uma graça sensual no jeito que ela se movia, uma destreza libidinosa. O Segurança, ao ver aquela bela mulher de vestido branco esvoaçante passando por ele, teve a sensação de que a conhecia. De algum outdoor de marca de joias, ou de perfumes caros, algo do tipo. Uma pintinha acima dos lábios lhe dava quase certeza.

— Boa noite. - o Lorde o cumprimentou com um aperto de mão firme, tirando o Segurança do transe. Percebeu a cobiça desejosa naquele olhar, então quis impor limites:

— Controle-se rapaz. Só meu sapato esquerdo na mãozinha dela é mais caro que seu salário mensal. Pode admirar, mas nada de se empolgar, fui claro?

— Ele está ciente. - a vampira interrompeu, ao perceber a surpresa do Segurança com tamanha rudeza - O senhor irá até o final conosco hoje?

— Depende. Se minha boneca favorita vier, talvez eu fique mais.

— Achei que estivesse acompanhado, senhor.

— Ah, ela? Oh não. Ela é só uma beleza exuberante que gosto de manter. Ela tem dotes únicos; é flexível, tanto o corpo quanto a mente. Também vou querer minha boneca esta noite.

A nova dupla se acomodou, ele no sofá e a moça no chão, numa posição impraticável. Aquela porra era uma contorcionista? Uma cadela atenta ao lado do dono. Ela passaria a noite toda com aqueles sapatos italianos nas mãos?

O Segurança, quieto desde o aperto de mão, perguntou:

— Todos eles vão transar entre si aqui dentro? Sério? - tentou evitar os pensamentos de levantar aquele vestidinho branco e pegar aquela modelo linda de quatro enquanto aquele filha da puta esnobe assistiria bebericando algum drink caro dentro do próprio sapato.

— Nem todos. Acho que percebeu que o Lorde não divide a carne dele. E a Senhora Fortona ali também não deixará nenhuma mulher tocar seus escravos, só permite que eles derramem esperma para ela.

— Quantas pessoas cabem nesse ônibus?

— Quantos demônios cabem no orifício da cabeça da agulha?

— Quê?

A vampira riu, diminuindo a velocidade do veículo. Na calçada agora tinha uma dominatrix com um sobretudo de couro fechado e ao seu lado uma pessoa vestida de cavalo; látex preto, arreios, tiras de couro, rédeas, máscara de cavalo com crina e tudo. Uma crina longa, loira, assim como a cauda. Patas terminadas em ferraduras nas mãos e nos pés.

— Esse não vai beber hoje... - resmungou o Segurança, abismado com a fantasia.

— Silêncio. Se escutar sua gracinha, ela te domina e ainda come seu rabo. E é capaz de você gostar!

— Difícil. Sou das antigas, do sexo normal. Nem fodendo que...

— Boa noite. - cumprimentou a dominatrix, embarcando. - Está calor aqui dentro, sempre reclamei dessa temperatura.

Então ela abriu o sobretudo e um enorme pênis de borracha apareceu pendurado entre suas coxas.

— Olhe meu novo brinquedo, que acha? - ela exibiu aquilo para a vampira, clicando num botão escondido na lateral do escroto. O membro enrijeceu, se erguendo enquanto a glande inchava. Era até meio torto, com suas nervuras e relevos. E aquilo pulsava.

— Nossa, adorei, bem realístico! E quem vai agasalhar isso esta noite?

— Ah querida, se ninguém no recinto se provar digno, eu cavalgarei meu pônei aqui. Ele adora.

Enquanto se dirigiam para o fundo do ônibus, o Segurança permanecia boquiaberto, imaginando o homem dentro daquela roupa de cavalo. Decidiu que não queria ver a Senhora Pênis abrir aquele zíper abaixo do rabo da fantasia e penetrar as nádegas suadas ali dentro.

— Recomponha-se senhor "normalzinho". Ou será que gostou mais do que deveria do brinquedinho dela?

— Ainda não me respondeu quantos cabem aqui? - ele retrucou, irritado.

— Quase quarenta, vinte sentadinhos. Mas o Mestre não gosta disso aqui muito cheio. Acha deselegante, então nunca chega a trinta. Bom para você... caso as coisas saiam de controle.

Pelo retrovisor ela percebeu o semblante preocupado dele:

— Ei, relaxe! Essas pessoas às vezes nem transam, só se exibem. Será a grana mais fácil da sua vida.

— Estou com um pressentimento...

— Ah, porra, vai começar você também? O Charlie ali já veio com esse papo esquisito. Não vai acontecer nada, ok?

— E você, só dirige? O tempo todo? Ou se permite...? - ele mudou de assunto para desviar a preocupação.

— O ônibus tem que rodar pela noite toda, sempre em movimento. Só não pode romper o dia, as coisas que acontecem aqui dentro pertencem à noite. Minha função aqui é dirigir e não existe piloto automático. Vou entrar pela Avenida 13 agora, margeando o lago e a linha de trem. - suas unhas pretas enormes se fecharam ao redor do volante enquanto ela fazia a curva - Vai gostar agora. As bonecas embarcam aqui.

Eram quinze. Criaturas diáfanas na noite escura. Negras, ruivas, asiáticas, altas, baixas, esguias, malhadas, magras, voluptuosas, gordas... Uma grande variedade de formas feminis. Todas calçavam vistosas botas pretas acima dos joelhos e trajavam vestidos coloridos de látex semitransparente. Seios apertados, grandes, médios, pequenos, com mamilos escuros ou rosáceos... Branquelas em vermelho-escuro, pretas com peças amarelas, ruivas de rosa, cabelos azuis, roxos, loiros. Dreads prateados. Lábios de todas as cores. Parecia que uma criança tinha soltado no mundo uma caixinha de lápis de cor para que outras crianças se divertissem tanto quanto ele. Foi exatamente essa imagem que se formou na cabeça do Segurança. E como se moviam de maneira graciosa e provocante.

Dessas quinze, duas últimas bonecas a subir usavam fantasias óbvias; uma garçonete sexy com tubinho preto passou direto para o bar, e serviria os drinks pelo resto da noite numa bandeja de prata. A outra estava de enfermeira, vestidinho branco com cruzes vermelhas. Sua pele era de uma morenice enlouquecedora e as coxas grossas tatuadas mal cabiam no látex. Tinha cabelo curto, olhos claros cor de mel, lábios grossos e naturais. Cruzou as pernas de maneira obscena, sentando-se perto da entrada do ônibus.

— Qual é dessa fantasia, gata? - perguntou a vampira.

— Um político e um magnata do ramo da saúde pretendem fechar um negócio grande aqui hoje. Eu tenho que... agradá-los. Fazer com que tudo corra bem. - ela piscou para o Segurança, que mais uma vez teve que disfarçar a ereção, sorrindo de volta.

— Desculpe se isso parecer arrogante para vocês, mas ainda bem que não dependo mais do sistema de saúde humano. Esses homens enriquecem com a doença dos outros.

— Pois é. Agora imagine que é no meu rabo que ele vai apoiar a prancheta enquanto assina essa porra de contrato. - ela resmungou, maliciosa, beliscando a própria bunda enorme.

— Filhos da puta... - deixou escapar o Segurança, se arrependendo logo em seguida.

A Enfermeira ergueu o olhar para ele e, como se controlasse cuidadosamente o jeito como os lábios e a língua deveria se mover, pediu, debochada:

— Sabe, se isso rolar mesmo, essa cena, eu com eles, você poderia, assim... tipo... não olhar? Eu ficaria envergonhada. De verdade.

Ele vacilou na resposta, e ela caiu na gargalhada:

— Estou brincando docinho, estou brincando com você! E prepare-se... é a primeira de muitas brincadeiras da noite entre a gente, viu?

— Sua vaca! - riu a vampira, enquanto manobrava o ônibus numa curva fechada. Seus faróis iluminaram um homem musculoso de camiseta preta justa, jeans e coturno entre duas mulheres na calçada seguinte. Acompanhou a porta se abrir com um olhar fixo e excitado. Apertou contra si suas duas acompanhantes, ambas de calça de couro preta, saltos enormes e apenas adesivos em cruz cobrindo os mamilos. A da esquerda tinha cabelo tão roxo quanto uma peruca e mascava chiclete. A da direita tinha metade do cabelo preto e a outra metade prateada, e segurava uma enorme garrafa já aberta. O Segurança percebeu que, na verdade, eles seguravam uns nos outros para não caírem bêbados no chão.

— Que PORRA é essa? Uma mulher no volante? Eu que não entro aí!

A vampira rangeu os dentes, respondendo ao desaforo:

— Eu não gosto de você. Acho que não vai entrar mesmo, seu babaca.

— Sabe quem eu sou? Por que acha que seu Mestre me convidou?

— Não, não sei e nem quero saber.

— Espera aí, sua puta! - ele colocou o pé no primeiro degrau - Eu vou entrar nessa merda sim e você vai ter que...

— Não. Você não vai. - ela sibilou do volante, o olhar injetado.

O homem vacilou por um segundo. Mesmo bêbado, percebeu que não se tratava de uma mulher comum. Era uma daquelas malditas criaturas noturnas.

— Seu mestre vai saber disso, sua...

— Vai saber da minha própria boca. Aqui você não entra. - ela respondeu, acionando a porta que se fechou na cara dele.

— Afinal, o que foi isso? - perguntou o segurança. Escutou uma garrafa arremessada se quebrar contra a janela enquanto aceleravam.

— Eu odeio babacas.

— E o Mestre detesta quem desrespeita as mulheres dele. - complementou a Enfermeira - Esse cara terá sorte se amanhecer vivo.

— Um pretenso libertino com a mente tão fechada, coisa triste. Uma pena, a menina do cabelo de duas cores tinha peitos sensacionais. Viram aquelas veias?

— Mais gostosinhos que os meus? - riu a Enfermeira, fingindo estar ofendida.

— Você tem muitas curvas, é toda gostosona, mas seus seios são pequenos. Os seus são lindos, mas os daquela menina... Ela tá grávida e nem deve saber.

— Como sabe que ela está grávida? - se intrometeu o Segurança, curioso.

— Você não reparou naquelas veias aparentes?

— Até que sim, mas e daí? Na minha esposa também apareceram algumas veias azuladas e isso não quer dizer que... - ele cortou a frase no meio, repentinamente.

— Oh, ele é casado. Que bonitinho. - debochou a Enfermeira.

— Querido... - começou a vampira, em tom professoral - O corpo da mulher prepara os seios para o aleitamento, irrigando com mais sangue. Aquela está grávida, com certeza. Sua esposa já não sei, pode ser qualquer outra coisa. Só sei que seios volumosos com veias aparentes me dão tesão.

O Segurança ficou quieto, pensativo.

O silêncio entre eles perdurou por algumas quadras, até a motorista reduzir enquanto duas SUVs passavam por eles pela lateral. A vampira parou, e os dois estacionaram alguns metros depois. De um carro saltou um segurança com máscara de hóquei, deu a volta e abriu a porta para um gordinho de terno e bigode cínico com cara de político de segundo escalão. Do outro carro saltou um velho magro de bengala, acompanhado de dois asseclas, um com máscara de gás e outro com uma de doutor da peste medieval, com um bico enorme e brilhante entre os olhos de vidro. Os três mascarados eram corpulentos e usavam ternos de baixa qualidade. Suavam excitação e desconfiança.

— Os senhores são os negociantes? - questionou a motorista.

— Sim. - respondeu o bigodinho. - Vejo que tem seu segurança, mas esses homens precisam estar conosco o tempo todo.

— Já era esperado, claro. Subam. Está uma noite auspiciosa para os negócios, não é mesmo?

O velho de bengala, empolgado, já adentrava o ônibus. Ao ver o cenário completo, sorriu seus dentes amarelados de café e cigarro:

— Espero que essas moças bonitas tenham uma caneta!


O velho - a bocarra agonizante aberta - tinha uma caneta cravada em seu olho esquerdo. Morreu gritando. Ainda segurava sua costumeira bengala, que de alguma maneira estava dentro de uma das bonecas, a Enfermeira. A moça, de quatro, tinha urinado de pavor, e sua cabeça jazia enterrada entre as coxas nuas de um gordinho de bigode ridículo. Mal dava para reconhecer o político, pois uma fina prancheta de acrílico fora enterrada em sua cabeça com tamanha força que dividiu seu crânio.

O vampiro caminhava em meio à carnificina, tentando entender o que acontecera dentro daquele ônibus em sua última e trágica viagem. Curioso, ergueu a boneca pelos cabelos. A boca tinha sumido, o lábio inferior totalmente arrancado.


— O que ela disse? - perguntou o Segurança para a vampira, mal conseguindo disfarçar o interesse naquela mulher fabulosa fantasiada de Enfermeira. Ela, por sua vez, sussurrou algo na direção dele, enquanto se acomodava para apoiar a prancheta onde o político prendia alguns papéis.

— Ela disse "essa é a hora que você olha pro outro lado, docinho".

— Caramba, você escuta tudo mesmo hein? Mesmo com o som alto, as risadas, gemidos, conversas...

— Escuto. Charlie, lá no fundo, sussurrou no ouvido de um dos gêmeos que seu pau deve ser tão pequeno quanto seu cérebro.

— Ah, ele disse isso? Depois vamos acertar contas então.

— Ele é assim mesmo. Quando resolve ser maldoso é até desagradável. Relaxe... a não ser que ele esteja certo!

— Não, não está. E você sabe que não.

— Eu? Eu estou dirigindo, parceiro. Mas sabe, você mal disfarça suas ereções. Percebi que tem sim algo interessante aí guardadinho. Então não se deixe provocar.

— Devo só apreciar a visão, patroa? - ele flexionou os punhos, tentando relaxar. Sentados alguns bancos depois, a boneca dos dreads prateados beijava o Lorde enquanto a contorcionista lhe abria a calça e pegava com gosto no pau duro dele. Libertou o membro, que já brotava algumas gotas de excitação. Ela colheu delicadamente uma dessas gotas e depositou na língua afoita da boneca. Então se beijaram, e desceram ambas para chupá-lo.

— Cara, isso é... - o Segurança estava hipnotizado, não sabia dizer o que sentia.

— Eu sei. É mesmo. - a vampira lhe respondeu pelo retrovisor.

O tal Lorde percebeu que era observado e quis se exibir. Interrompeu a mamada de sua modelo, cochichou algo em seu ouvido e se pôs de pé. Ela despiu-se, tirando o vestido e a calcinha e também se levantou. Ficou diante dele e então começou algo impressionante: foi curvando-se para trás aos poucos, se contorcendo até abraçar por trás as próprias pernas. O rabo de cavalo loiro desceu por trás dos joelhos e dessa posição bizarra ela ficou encarando o Segurança. A nuca tocava os calcanhares, os cabelos soltos no chão, tão claros quanto seus pelos pubianos, ah, tão cheios quanto chamativos. Sua vagina, exposta, estava na altura exata para que o Lorde a penetrasse. Ele acariciou os pelos claros e o Segurança ao longe o imaginava libertando um clitóris rosáceo e já inchado, afastando os lábios úmidos e, impaciente, metendo-se nela. Ao lado, a boneca parceira sorria, incrédula com tamanha flexibilidade. As costas da mulher encostava nas coxas no mesmo ritmo das metidas.


O vampiro se impressionou com a moça caída ao chão, nua e dobrada, pernas e braços em ângulos não naturais. Se não era uma contorcionista em vida, tinha sido quebrada ao meio. As articulações foram dolorosamente arrebentadas. Múltiplas fraturas expostas, pedaços de ossos rasgavam aquela pele bonita. A cabeça, virada com violência contra sua vontade, tinha o pescoço quebrado. Conservava os lábios, mas ao seu lado uma massa de cabelos prateados mergulhada em sangue não pareceu ter a mesma sorte. Era outra boneca com a boca arrancada. Entre elas, um homem de terno branco ensanguentado teve os olhos atravessados por um par de saltos agulha. Pareciam ser da mulher nua.


— Eu, eu... - balbuciou o Segurança, ainda perturbado com o olhar da contorcionista. Parecia sentir as estocadas do idiota como se fosse nele.

— Controle-se, rapaz. Lembre de tudo que lhe disse. Pense na grana!

— Como vou pensar em grana se aquele imbecil não para de me encarar enquanto fode a moça? Juro que quero arrebentar os dentes dele.

— É o jeito mais fácil de ser demitido. Ou coisa bem pior. Acha que vale à pena?

— Não, caralho! É só que...

— Abstrai, ok? Finge que não tá vendo.

O Segurança riu, nervoso, e lembrou da japonesa suspensa. Ela estava em êxtase: cercada pelo careca e os três seguranças mascarados, eles se revezavam em penetrá-la em ambas as extremidades. O careca tirou o pau pingando saliva da boca dela e girou a corda, trazendo o rabo para si. Penetrou o ânus já dilatado sem cerimônia, cerrando os dentes. A pequena gemia de maneira abafada com outro membro dentro da boca. Algumas bombadas, e então giravam novamente a corda e aquela boquinha ensopada se oferecia diante de um novo pau duro e lubrificado por ela. Assim que mamava um mascarado, logo outro entrava em seu lugar, ora na boca, ora no sexo. As nádegas já estavam avermelhadas de tanta fricção. O rosto pequeno arfava a cada intervalo entre as rolas. Eles bebiam, derramavam bebidas no sexo dela, riam, e se revezavam metendo, mas também evitavam gozar para prolongar a brincadeira. Imaginou que o careca impusera esse limite, e eles não queriam desrespeitar tamanha generosidade.

— É como você disse, esse showzinho deles é foda mesmo... E a mocinha aguenta firme, hein? - ele comentou, tentando seguir o conselho dela.

— Ela gosta. É assim que ela se realiza. Depois vai passar uns dois, três dias recolhida em casa, com hematomas das cordas e assada. E ele junto, cuidando dela. Ambos felizes.


O careca foi enforcado pela própria corda vermelha, a cabeça escurecida encostada no teto alto do veículo. Urinou e defecou de pavor, e os olhos saltaram com a língua. Ao redor do corpo suspenso, vários pedaços de uma mulher miúda ainda estavam presos às cordas. Pelo estado das roldanas do teto, um puxão violentíssimo a desmembrou viva. Seu corpo fora rasgado tão bruscamente que os restos caíram concentrados todos no mesmo lugar, e nessa poça de sangue e órgãos jaziam três homens mascarados. Nus da cintura para baixo, tiveram seus órgãos sexuais arrancados. O vampiro não quis levantar as máscaras esmagadas, mas pelas marcas de sangue nelas imaginou que cada um deles foi obrigado a engolir o próprio sexo na hora da morte.


As duas Dommes da noite se entrosaram muito bem e conversavam, entusiasmadas, provavelmente trocando ideias de como adestrar e punir melhor seus escravos. A senhora Pênis estava sentada na beirada de um dos bancos, com o membro artificial ereto e vibrando no máximo enquanto despejava nele um gel, talvez lubrificante. Seu pônei de estimação, de quatro à sua frente, tinha a ajuda de um dos escravos da senhora Fortona, que abria o zíper em sua cauda, revelando uma bunda branquela, peluda e ansiosa por ser penetrada.

— Ah, não, ela vai mesmo enrabar o pônei. Não quero ver isso.

— É... interessante. Eu meio que gosto dessa inversão que ela propõe, sabe? - sorriu a vampira, novamente pelo retrovisor. Dominava tanto o volante que o trajeto transcorria calmo e o veículo deslizava tranquilo pela noite. Na madrugada avançada os carros iam escasseando, até sumirem por completo.

A senhora Fortona, as pernas apoiadas num escravo, apertava o próprio seio esquerdo enquanto assistia sua nova amiga se encaixar atrás do pônei para fodê-lo. O Segurança desejou apertar aqueles peitos também, focando sua atenção nela. No chão, o escravo enrabado gritava dentro da máscara equina, jogando a crina para trás e para os lados de maneira frenética. Quando o membro sumiu inteiro entre aquelas nádegas, a senhora Pênis soltou um gritinho de felicidade e recebeu uma taça da mão da Fortona. Brindaram juntas.


O vampiro viu uma máscara perfeita de cavalo largada no chão. A crina, antes dourada, agora era vermelha e grudenta. Percebeu que continha uma cabeça decepada dentro. O corpo decapitado estava próximo, a bunda exposta. Sua parceira, pela proximidade dos corpos, estava intacta, morreu sufocada com a boca cheia de algum material preto e viscoso. Menos de um metro de distância, dois sacos disformes de látex pretos vazavam sangue por buracos nos olhos, boca e nariz. As fantasias continham os restos moídos dos escravos, que foram esmagados, pelas marcas de sangue, contra o chão, as paredes e janelas. Bateram os caras violentamente até quebrar todos os ossos e estourar os órgãos internos. Só a fantasia manteve mais ou menos o formato dos corpos. Mais a frente, uma mulher musculosa com a expressão de terror absoluto gravada no rosto, teve o corpo aberto da garganta até o baixo ventre. Uma unha em garra, tão fina quanto poderosa, cortou desde a traqueia até o púbis.


— Aquele box lá atrás tem uma ducha. Para quê? É para a clientela tomar banho depois do sexo?

— Não, um dos gêmeos faz um número lá dentro. Basicamente, ele toma banho de sunga branca, então...

— E isso é... excitante?

— Se fosse uma mulher peituda com camiseta branca molhada, você não faria essa pergunta. Mas respondendo, sim, é bem legal. Ele tem um corpo bonito e sabe se mexer.

— Sabe se mexer. - resmungou o Segurança.

— Mexe com a gente, é o que importa. Mas não perca as esperanças. Caso ele não faça o showzinho molhado, uma ou outra boneca toma o lugar dele. Acho que depende do humor do Charlie também, às vezes o trisal briga durante a semana e eles ficam irritadinhos.

— Então acho que eles estão bem essa semana, confira pelo retrovisor.

A vampira espiou o fundo do ônibus. Charlie estava sentado no colo de um gêmeo, e eles se beijavam loucamente. O outro irmão, só de camiseta e sunga brancas, atravessava um grupo enorme de bonecas em direção ao box. Quase todas elas estavam próximas ao bar, brindando com seus Clericots, Margaritas e Bellinis. A motorista sentia o aroma de pêssegos, das cascas de laranjas dos Negronis, do gengibre usado no Moscow Mule e do licor de cereja na mistura cítrica dos Singapore Slings. O DJ já devia estar com hálito de vodca após beber tantos Apple Martinis. Ela detestava admitir, mas o cheiro de bebida a deixava nostálgica, até mesmo um pouco triste, pois lembrava sua humanidade perdida.


O box estava vermelho opaco. O vampiro nem se dispôs a abrir para ver. Quem quer que estivesse ali dentro na hora do ataque, fora trucidado de tal forma que seu sangue tingiu as paredes antes transparentes. Mais ao fundo do ônibus havia um corpo negro com uma cabeça branca nos ombros, sentado no colo de um branco que por sua vez tinha uma cabeça de negro. As cabeças, trocadas, foram enterradas até o queixo nos pescoços das vítimas, uma cena perturbadora de se ver. O DJ caído, enroscado nos cabos de seus equipamentos, pareceu ter sido eletrocutado. Uma morte tranquila se comparada com a do barman, que teve sua cabeça esmagada no balcão embutido da parede.


A motorista diminuiu um pouco a velocidade do veículo, distraída com a exuberância de uma das bonecas lá do fundo. Cabelos volumosos, num tom verde tão exagerado quanto lindo. O batom era azul e ela quase podia sentir a textura daqueles lábios. Queria beijar aquela boca. Chupar aquela língua devagar, lamber aqueles dentes perfeitinhos quando ela sorrisse feliz ao ser apertada e alisada. Se embriagar do cheiro dela - que agora era de Cointreau misturado a Tequila - até farejar o doce aroma feminino encharcando a calcinha.

De repente foi atingida por outro cheiro, tão pungente que pisou no freio bruscamente.

O cheiro da própria morte.

O Segurança ao seu lado se segurou para não cair, enquanto o restante dos convidados da noite reclamavam. Alguns foram ao chão, outros derrubaram bebidas ou se desencaixaram dos buracos úmidos dos parceiros.

Uma presença irresistível estava em pé diante do ônibus.

"Abra a porta", ela sussurrou. Quase não mexeu os lábios para isso, e a motorista mais leu do que ouviu aquele comando.

Atrás de si os depravados voltavam às suas brincadeiras; a Enfermeira ajoelhada tentava animar o membro flácido do homem do bigodinho com seus lábios, a japonesa sentiu um mascarado cutucar seu reto enquanto recebia outro em sua boca, a boneca de cabelos prateados punhetava o Lorde antes dele se meter novamente na umidade da contorcionista. A senhora Pênis, enfurecida, tentava se por de pé para continuar a castigar o rabo de seu pônei. Os escravos da Fortona ajudavam sua Rainha, que tinha ido ao chão, a levantar. O gêmeo ensopado tinha escorregado e se apoiava nas paredes do box para se reerguer.

— De onde saiu essa mulher? - perguntou o Segurança.

— Eu... não sei. - murmurou a motorista. Sentiu-se frágil e desprotegida, como há muito não sentia.

— Peraí, que tá fazendo? Vai abrir a porta?

— Eu não tenho como resistir a ela. Estamos todos perdidos. Nós...

— Para de falar desse jeito, tá me assustando!

Lá fora, a mulher se aproximava lenta e decididamente. Roupa preta colada - vestimenta de assalto - cabelos presos. Os olhos refletiam o luar como um grande felino prestes a atacar.

— Ei, por que paramos? Ainda tem convidado para entrar na festa? - gritou o Lorde entre suas mulheres. A cabeleira prateada da boneca se movia ritmadamente entre suas coxas, o engolindo.

A mulher da noite parou diante da porta aberta do ônibus e perguntou:

— Aisha?

A motorista respondeu sem muita firmeza na voz: "Sim".

— Eu gosto de você, gosto da sua utilidade. Poderia...?

— Eu só tenho UM senhor. - Aisha interrompeu a estranha - Só sirvo a UM mestre!

— Que pena. Não queria beber você, mas...

— Espere aí moça, isso aqui é um veículo particular e... - começou a dizer o Segurança, postando-se nos degraus entre a mulher e a motorista. Jamais soube como foi atingido, mas foi lançado para trás com tanta violência que bateu numa das paredes e quase desmaiou. Não conseguiu mais se mexer. Um suor de medo escorreu por sua testa, misturando com lágrimas de dor. Imaginou uma fratura séria na coluna, já que nem conseguia erguer a mão. A mulher invadiu o ônibus, um vulto enegrecido passando veloz em sua visão periférica, e nesse momento ele apagou por alguns segundos.

Foi acordado por gritos empolgados dos passageiros da luxúria. Ainda desorientado, viu a invasora em cima da motorista. Aisha socava e tentava se defender da mulher, que a dominava simplesmente segurando seus antebraços.

— Abra a boca. - ele escutou a estranha dizer, e quase abriu a sua também, tal a entonação de comando daquela voz.

Aisha lançava a cabeça para os lados de maneira vigorosa, como se estivesse prestes a ser picada por uma cobra muito venenosa.

— ABRA A BOCA AGORA.

Foi só nesse momento que todos no ônibus perceberam que algo muito errado aconteceria dali em diante. O equipamento do DJ travou, engasgando a música. Todos que estavam fazendo sexo pararam. O gêmeo desligou a ducha do box.

— Não, não, não, não... - começou a choramingar a boneca Enfermeira, quebrando o silêncio esquisito. Parecia antever a própria morte, e até mesmo saber o porquê. - Por favor, não...

Aisha - repentinamente solta nos braços da invasora como uma marionete sem vontade - abriu a boca. A mulher olhou dentro dela e, num gesto rápido, já puxava o lábio inferior. O Segurança, diante da expressão demoníaca que ela fez, como a de um enorme predador faminto diante de um filhote apetitoso e indefeso, sentiu seu coração gelar.

Então ela beijou Aisha, primeiro a língua com graça e desejo, depois grudou naquela boca com uma volúpia invejável, descomunal, capaz de excitar todas as partes sensíveis de todos os presentes ali dentro. Em meio aos gritinhos, risos e urros dos passageiros, a Enfermeira tremia, levantando-se diante de seus acompanhantes. Choramingava em desespero.

— … não, não, não, não, não, não, não, não, por favor, não, não, não, não, não, oh deus, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não...

As bonecas reunidas no fundo do ônibus olhavam perdidas umas para as outras, preocupadas e com medo.

A motorista, já entregue, gemeu a primeira vez, quando o rosto da invasora se afastou do seu. O gemido virou grito; seu lábio inferior esticava, mordido pela mulher.

— PUTAQUEPARIU…? - alguém gritou, mas o Segurança não conseguia mais virar a cabeça com rapidez para identificar quem era. Uma espécie de torcicolo doloroso o impedia.

-...paraporfavor não, não, não, não, por favor, não, não, não, não, não, oh deus, não, não, não, não...

Nesse momento todos explodiram a falar ao mesmo tempo, perguntando o que estava acontecendo, quem era ela e se aquilo fazia parte do show. Um festival de homens incrédulos com o pau flácido e mulheres encolhidas, grudando em suas companhias. A japonesa suspensa pedia para ser desamarrada, mas seu parceiro não a ouvia, tamanha a algazarra do ambiente.

Mas todos ficaram quietos quando escutaram o som horrível de Aisha sendo aberta viva. A mulher tinha uma força absurda; apenas deu um tranco nos braços da motorista e ela caiu dividida aos seus pés.

Diante deles, a Predadora cuspiu o lábio de Aisha, que arrancara com a mordida. O Segurança, muito perto ("seria o próximo?"), reparou que aquele pedaço de carne tinha algo tatuado na parte interna. E entendeu que a tatuagem despertou a fúria daquela criatura.

— Gritos me excitam. - ela sorriu, após passar as costas da mão direita na boca rubra.

Todos gritaram nesse momento. O Segurança virou o rosto, talvez para não ver sua própria morte, e fechou os olhos, amedrontado.

Quando abriu, surpreso por ainda estar vivo, a fúria já tinha passado por ele, e enterrava uma caneta no olho do velho da bengala.

"Seu grito não. Seu grito me irrita, velho."

A Enfermeira tentava se esconder agachada, como se esperasse que a Divina Providência abrisse um buraco no assoalho para salvá-la.

"A Divina Providência jamais embarcaria nesse ônibus", ele pensou.

A Predadora rachou a cabeça do gordinho com uma prancheta antes mesmo que ele reagisse, então pegou a Enfermeira pelos cabelos e a levantou. Ele nunca tinha escutado uma mulher gritar tão alto como aquela.

— Abra a boca, chupadora. - ela ordenou com a mesma entonação usada em Aisha. - Ouse mostrar seu lábio para mim.

O Segurança não quis ver o sofrimento da boneca que tanto desejou. Fechou os olhos e escutou um grunhido animalesco seguido por gritos úmidos interrompidos pela morte. Quando abriu os olhos, viu que a mulher soltava a boneca de cabeça entre as pernas flácidas do político. Percebeu que seria poupado para assistir a tudo, pois ela avançava, implacável, e todos diante dela sabiam que morreriam. Voltou-se para a porta, desejando que alguém aparecesse para salvá-los... mas quem? Aquela mulher era uma vampira também, uma demônia tão sanguinária que matou Aisha sem esforço. Seu pescoço não respondia rápido, então ele escutou o som pavoroso de ossos quebrando. Antes de conseguir se virar novamente, a Predadora já grudava na boca de outra boneca, seus dedos vermelhos segurando uma cabeça de dreads prateados enquanto mordia, arrancando outro lábio. O Lorde, morto, tinha algo que ele não distinguiu muito bem enfiados em seus olhos.

A vampira partiu para cima do careca, enrolando as cordas no pescoço dele. Ela o enforcou com um puxão rápido e certeiro, ao mesmo tempo em que o corpo da japonesa se abria numa explosão de sangue e vísceras. Os seguranças mascarados resolveram atacá-la e pagaram caro pela ousadia. Eram homens treinados e musculosos, mas foram socados com tanta violência que caíram, inertes. Um ainda convulsionou por alguns instantes. A vampira pareceu desapontada por não ter conseguindo matá-lo num único golpe, então se abaixou e arrancou seu pênis. Enfiou na boca do infeliz até o sufocar, depois fez o mesmo com os outros dois. Tudo acontecia tão rápido que ele nem conseguia acompanhar direito.

Um soco bem-dado daquela vampira e os caras não sobreviveram. O Segurança até agradeceu por ainda estar vivo. Esse pensamento foi substituído por outro pior: o que ela faria com ele ao final?

O pônei foi o próximo. Apesar da vampira não portar nenhuma arma branca, ele viu a cabeça com crina loura voar, separada do corpo, que tombou. Sua Dona, que gritava histericamente, teve a boca entupida com a enorme rola preta artificial que a vampira retirou do rabo do servo decapitado. Aquilo foi socado nela com tanta força que o pescoço pareceu quebrar. Os dois escravos da Fortona tentavam desesperadamente descobrir alguma alavanca de emergência que abrisse as janelas. Diferente dos mascarados musculosos, eles tentaram fugir da Morte em Pessoa. A vampira pegou um dos fugitivos pelo pé e o sacudiu, batendo violentamente nas paredes como se fosse um saco de lixo. O outro tentou ajudar o amigo e também foi espancado da mesma forma, moído vivo. Parada diante da Fortona e seu decote espetacular, a vampira apenas riscou aquele abdômen perfeito com os dedos. Daí a pele, músculos e carne dela se abriram num esguicho escarlate.

O grito da Fortona virou o do gêmeo, que esperneava desesperado dentro do box. A vampira abriu a porta e em outro piscar de olhos estraçalhou o homem. Saiu avermelhada, rosto, mãos, até o cabelo, agora meio solto. Sua expressão era de deleite. O Segurança sentiu que ia desmaiar e seus olhos correram desesperados nas órbitas, tentando permanecer abertos. Quando se voltou para ver, o outro gêmeo já estava abraçado com Charlie, ambos implorando para morrerem juntos e sem dor.

— Sem dor não tem tanta graça. - ela respondeu, fria.

Arrancou as cabeças dos amantes apenas com um corte rápido das unhas. Depois, num requinte de crueldade, ela trocou as cabeças deles e as encaixou de volta nos pescoços, ignorando os gritos das bonecas que tentavam desesperadas se trancar no banheiro. Treze mulheres se empurrando, acotovelando, histéricas, tentando entrar num cubículo.

O barman, chorando, jogou todos os copos e garrafas que tinha na direção dela, mas o Segurança duvidava que ele tinha acertado alguma coisa nela, ou mesmo que a machucasse. Assistiu, impotente, quando ela alcançou o magrelo de colete e esmagou sua cabeça no balcão. O DJ tentou correr, fugir daquela fúria vermelha, mas tropeçou nos cabos do próprio equipamento e caiu, desajeitado. A vampira arrancou um cabo de alimentação da mesa de som e o encostou no peito do pobre coitado, que nem conseguiu gritar. Uma descarga mínima no ponto certo, o coração, e ele estava morto.

A predadora então alcançou a maçaneta do banheiro e girou, disparando o grito e choro das moças lá dentro. Espalmou as duas mãos na porta e forçou, sem dificuldade, contra todas as mulheres que tentavam impedi-la do outro lado. Aos poucos, como o lobo que invade o galinheiro, entrou. Fechou a passagem atrás de si para que nenhuma escapasse. O Segurança fraquejou novamente e apagou, apenas para acordar segundos depois com os sons obscenos e furiosos da vampira destroçando as bonecas. Uma quantidade absurda de sangue vazava por baixo da porta.

"O que ela fará comigo?", pensou, enquanto os gritos dentro do banheiro morriam um por um. Os dedos de sua mão esquerda pareciam dormentes nas pontas, mas ele não conseguia mexê-los. O pouco que sentia do próprio corpo era uma dor terrível no pescoço, a boca seca de medo e a umidade da testa. Suava profusamente agora. Apagou novamente por um breve instante e fantasiou com a Enfermeira cuidando dele. Ela segurava a cabeça imóvel dele contra os seios macios. Colocava a mão dele em sua coxa morena e volumosa, para animá-lo. "Aperte", ela dizia com o olhar. "Me aperte, como sempre quis."

Acordou com um chacoalhão. Seu pescoço voltou a doer assim que abriu os olhos. A Enfermeira continuava morta alguns metros dali. Ele ainda estava no inferno, agonizando, e uma demônia com os olhos injetados de ódio o encarava. Levou outro chute dela até conseguir responder:

— O que você... o que você quer de mim?

— Você entregará um bilhete a ele.

— Ele... quem?

— Ao dono desse veículo e das pessoas que morreram aqui hoje.

— Por favor, não... eu, eu tenho uma filha, família...

— E o que isso quer dizer? Quer que eu te poupe? Olhe ao redor, não seria justo com eles eu te deixar viver. - a brancura de suas mãos contrastava de maneira macabra com o sangue que pingava conforme ela gesticulava. Seu rosto inteiro e pescoço também escorriam o vermelho de dezenas de vítimas.

— Eu não conheço o dono... eu, eu nem sei o nome dele!

A vampira jogou algo nele com raiva; um pedaço de carne arrancado das meninas. Depois jogou outro e mais outros. Um desses caiu perto o suficiente para ele entender afinal: era a parte interna, macia, de um lábio inferior de boneca. Nele, e em todos os outros, tinha um nome tatuado.

— Eu entrego, eu entrego o que você quiser pra esse tal Sammael! Mas me deixe...

Ela ignorou as súplicas e caminhou até o velho que matara minutos antes. Aos pés dele estavam vários dos papéis do político gordinho. Ela colheu uma das folhas do chão e, arrancando a caneta do olho do cadáver, rabiscou algumas palavras. Analisou a própria escrita, e então enfiou a caneta de volta, raivosa, dessa vez no outro olho do velho.

— Eu entrego! … mas por favor...

— E quem disse que precisa estar vivo para entregar meu bilhete? - ela arreganhou os dentes enormes, se abaixando. No meio do caminho se deteve, torcendo o nariz:

— Você está urinando...?

O Segurança baixou o olhar. Via sua calça molhando, mas não conseguia sentir a umidade nem o calor em sua virilha.

— É uma lesão grave na coluna. Não vai querer ficar vivo desse jeito, sem controle da bexiga nem do intestino. Pena... bonito e forte assim, acabar desse jeito.

E aí o Segurança descobriu que a única coisa que ainda conseguia fazer era gritar...


Sammael não tinha dado muita atenção ao novo Segurança contratado enquanto tentava entender o acontecido no ônibus-chacina. Era apenas um humano, assim como os demais fetichistas: a contorcionista e seu dono rico, o cara das cordas, as Dommes... Lamentou perder Aisha e ficou preocupado com o político morto, pois aquilo era péssimo para os negócios. Muitos executivos e lobistas fechavam negociatas ali, mas agora não mais. Com isso ele perdia um pouco a força nos bastidores da cidade. Ficou puto ao descobrir várias de suas bonecas desfiguradas numa poça de sangue e urina dentro do banheiro. Mijo com cheiro de pânico. Eram obedientes, gostosas e intensas como ele gostava... agora todas mutiladas, sem boca. Transformadas em meros pedaços de carne rasgada e morta.

Antes de deixar aquele massacre para trás, percebeu o bilhete que estava em cima do Segurança. O pobre coitado teve o pescoço quase arrancado pela força da mordida da vampira. Uma velha conhecida sua.

Valerie.

Abriu o papel manchado de vermelho, e o leu com uma raiva que se tornou prazer. Gostou de ler a ameaça contida ali:

SEU SANGUE SERÁ MEU VINHO


Comentários do autor

Esse conto se passa imediatamente depois da primeira parte do Senhor das Bonecas, mas em cenário diferente. Uma espécie de 'parte um e meio' da trama maior desse personagem da noite de Sistinas.

Finalizado em 10.12.18, foi ao ar juntamente com a nova versão do site.


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